Marcus Eduardo de Oliveira*
Obsolescência
programada é um conceito que preconiza diminuir a vida útil de um
produto para “forçar” o consumo de versões mais recentes ou modernas,
estimulando assim o consumismo, descartando, com isso, o conserto. Esse
termo é originário do processo de “descartalização” criado a partir da
década de 1930 por algumas economias capitalistas europeias no intuito
de movimentar a “máquina econômica” com mais produção, uma vez que o
estoque de produtos que se encontrava totalmente parado nas fábricas e,
principalmente, nos portos, devido à Grande Depressão Econômica de 1929,
fez travar o giro da economia.
O produto mais ilustrativo dessa prática (e dessa época) foi a
lâmpada. Nos anos 1920, uma simples lâmpada durava mais de 2500 horas.
Percebendo, nesse caso, que as vendas seriam bem menores dada a elevada
durabilidade do produto, os fabricantes rapidamente trataram de dar uma
vida útil bem baixa a esse produto. Pouco tempo depois, o ciclo de vida
desse produto caia para menos de 1000 horas.
De acordo com o documentário The Lightbulb Conspiracy (A
Conspiração da Lâmpada) dirigido por Cosima Dannoritzer, fabricantes de
lâmpadas se reuniram para definir padrões de produção que aumentariam o
consumo. Empresas de variados segmentos produtivos descartaram projetos
cujo foco era a durabilidade; designers criaram (e ainda criam; vide os
celulares e os notebooks, por exemplo) produtos que ficariam defasados
em curto espaço de tempo e chips foram colocados em impressoras para
contar o número de impressões, dimimuindo-as para pouco tempo. Aos
poucos, além das lâmpadas e impressoras outros produtos foram ganhando
essa mesma tendência; em especial, os eletroeletrônicos e suas múltiplas
versões e a indústria de confecção que “força” uma nova moda e
tendência (incluindo estilos e, principalmente, cores de roupas) a cada
estação do ano.
Na verdade, a prática da obsolescência programada (proposital curta
vida útil) se configura numa maquiavélica estratégia de mercado, tendo
em vista que em alguns casos o conserto, propositadamente, é mais caro, o
que inevitavelmente faz com que os consumidores não tenham
alternativas, a não ser partir para uma nova compra. Isso nada mais é do
que uma manipulação das indústrias em prol do ato de consumir. Em
outras palavras, é andar na contramão das atitudes sustentáveis,
enaltecendo assim um profundo desrespeito das indústrias para com os
consumidores, com o planeta e com a natureza.
Na prática, alguns segmentos produtivos que ainda adotam esse
procedimento incorrem na “necessidade” de forçar mais produção e,
portanto, mais poluição, tanto no ato da produção quanto no descarte. É a
economia que não quer parar de crescer, trazendo em seu rastro
dilapidação ambiental. Essa prática nada recomendável embute um
desajuste sobre a atividade econômica que resvala sobremaneira na
capacidade do planeta em suportar produções em escalas cada vez mais
alucinantes. Nesse pormenor, é importante lembrar que a humanidade já
está consumindo 30% a mais do que o planeta é capaz de repor e é preciso
que haja uma redução em até 40% nas emissões de gases de efeito estufa
para que a temperatura não suba mais do que 2º C. O forte apelo ao
consumo se concentra basicamente nas mãos de 20% da humanidade que
“engole” 80% de tudo o que é produzido no planeta, demandando recursos
naturais que a natureza não é capaz de prover. Lamentavelmente, a
obsolescência programada tem contribuído muito para isso.
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* Marcus Eduardo de Oliveira é economista, professor e
especialista em Política Internacional pela Universidad de La Habana –
Cuba
Fonte: http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/na-contramao-das-atitudes-sustentaveis-a-obsolescencia-programada/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=mercado-etico-23/01/2013
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