domingo, 20 de janeiro de 2013

Professores são mais próximos dos alunos nos EUA

Entrevista - Gustavo Haddad Braga 

 
Brasileiro entra no conceituado MIT (EUA) após ficar seis meses na medicina da USP, mas diz que quer voltar quando terminar a pós 
DE SÃO PAULO
 
Gustavo Haddad Braga, 18, mais de 40 medalhas em olimpíadas de conhecimentos, de física a linguística. 

Esse currículo lhe proporcionou oportunidade rara para um brasileiro: estudar numa universidade de ponta nacional (medicina na USP) e numa "top" mundial -o MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos EUA. 

Após essa experiência, ele destaca pontos positivos na melhor universidade brasileira, como sua infraestrutura, mas afirma que uma das principais vantagens no modelo americano é que os professores ficam mais próximos dos seus estudantes. 

Gustavo ficou os primeiros seis meses do ano passado na USP porque ainda não havia conseguido uma bolsa de estudos no MIT. 

Apesar de ser da classe média de São José dos Campos (SP), sua família não tinha recursos para bancar os cerca de R$ 100 mil anuais para pagar o curso e ainda se manter nos Estados Unidos. 

Próximo ao segundo semestre de 2012, ele conseguiu financiamento do CNPq, órgão federal brasileiro que fomenta pesquisas. E Gustavo, então, rumou para o MIT, onde fez provas iniciais e conseguiu eliminar um semestre de estudos (matérias de cálculo e de física).
Na entrevista a seguir, ele compara os modelos brasileiro e americano de ensino superior. Ele ainda não definiu exatamente em qual área se formará (nos EUA, a escolha é feita após cerca de dois anos de disciplinas gerais). 

Uma decisão, porém, está tomada. Gustavo afirma que voltará ao Brasil após a formatura. Ele vê grandes possibilidades de crescimento em sua carreira aqui. 

E diz que sente falta do jeito brasileiro. "Lá, cumprimentar alguém com beijo no rosto, esquece." 

A seguir, trechos da entrevista, concedida durante suas férias, na semana passada, em São Paulo -onde visitava a família e finalizava detalhes para a criação de sua segunda empresa. 

(FÁBIO TAKAHASHI)
 
Folha - Qual sua avaliação sobre o ensino universitário no Brasil e nos EUA?
Gustavo Haddad Braga - São bem diferentes. Um ponto marcante é que no modelo americano você não é aprovado para um curso ou departamento, mas para a instituição.
Só depois de cerca de dois anos você se direciona. Eu poderei fazer tanto história quanto engenharia. É legal porque, aos 17 anos, você geralmente não tem ideia do que fazer.
No primeiro ano do MIT, os alunos devem fazer quatro disciplinas. Fiz matérias de ciências da computação, química, equações diferenciais e redação.
Você pode ver que é uma grande diversidade, e eles incentivam isso, até para ajudar depois na escolha de qual curso seguir.
Eu devo ir para ciências da computação e engenharia [é permitido fazer duas "especializações"]. 

Você sentiu diferença de relacionamento com professores brasileiros e americanos?
É diferente. No modelo do MIT, primeiro você tem aula em um auditório grande, com até 200 pessoas.
O professor é altamente qualificado, muitos já ganharam o prêmio Nobel. Neste próximo semestre, terei aula de química com um dos caras que sequenciaram o DNA humano.
Depois, há continuidade em grupos de até dez pessoas com os "assistant professors", que são alunos terminando o PhD [doutorado]. Debatemos tópicos, eles incentivam que façamos perguntas, que cheguemos às próprias conclusões. O relacionamento com esse professor é muito próximo, conversamos com eles no corredor, tiramos dúvidas, saímos para almoçar.
Esse relacionamento próximo é diferente do que temos com os professores na USP, até porque eles têm muitos alunos ao mesmo tempo. 

Viu vantagens na USP, nos seis meses que passou lá?
Sim, tem muitas coisas que gostei. As provas são mais frequentes, o que ajuda você ficar em cima da matéria. Gosto de fazer prova, de acordar e saber que terei o conhecimento testado.
O chato nos EUA é que não existem áreas como medicina e direito na graduação.
Você se forma em alguma coisa antes, provavelmente na área de biológicas para a medicina, e depois faz uma pós-graduação na área. Acaba demorando mais. 

E em relação à estrutura, quais são as principais diferenças?
Não conheço a USP inteira, mas a Pinheiros [faculdade de medicina] tem uma excelente estrutura, não deve nada.
Outro problema lá nos Estados Unidos é que, como as universidades não são públicas, o governo não ajuda nada. Aqui, você tem uma USP, de ponta, sem pagar nada. A alimentação é R$ 1,50.
Nos EUA, mesmo na faculdade, onde é mais barato, os planos são de US$ 10 [R$ 20] por dia, que é caro para um estudante comer. 

O que achou dos modelos de admissão nas universidades do Brasil e dos EUA?
Nos EUA é legal porque eles olham o candidato como um todo. Tem a prova, o SAT, mas eles pegam seu currículo, a redação em que você mostra seus interesses.
Há ainda entrevistas, cartas de recomendação. É uma avaliação global. Mas tende a ser subjetiva. Aqui, com o vestibular, é mais objetivo. 

Você se destacou no Brasil ao ganhar várias edições das olimpíadas de conhecimento, passar em diversos vestibulares. Agora, nos Estados Unidos, como você está?
Os estudantes internacionais são valorizados; 90% das vagas são para os americanos. Sobram 10% para o mundo todo, umas 100 vagas. 

Como tem sido a parte social lá no ambiente do MIT?
Legal. É intensa, sempre saio com amigos, americanos e estrangeiros. Não vi nada de xenofobia. 

O que você pensa fazer depois de se formar?
Primeiro, uma pós-graduação lá. Faz sentido me manter no sistema. Aqui eu teria dificuldades burocráticas, teria de procurar a revalidação do meu diploma.
Depois disso, certamente quero morar no Brasil.
Os EUA são um país legal, mas por um tempo. Visitei outros sete países por causa das olimpíadas.
Aqui é melhor, as pessoas são mais amigas, mais receptivas. Lá, cumprimentar alguém com beijo no rosto, esquece. 

Como você avalia as oportunidades para a sua carreira aqui? Não teme que o momento de melhoria seja passageiro?
Todos os economistas que ouvi discordam disso. E quase a totalidade dos brasileiros que se formam no MIT estão voltando ao Brasil.
O mercado aqui está aquecido, principalmente para as "start-ups" [empresas iniciantes]. O Brasil é a moda. 

Jovem vai lançar sua segunda empresa no país

DE SÃO PAULO
 
No período em que não estuda (a carga semanal no MIT é de pelo menos 48 horas), Gustavo Braga Haddad, 18, trabalha para lançar sua segunda empresa. 

Nesta semana, ele deve lançar com dois colegas um projeto para financiar brasileiros em universidades de ponta nos EUA. 

O Eduqueme.com fará acordos para que grandes empresas e multinacionais com sede no Brasil financiem esses estudantes, -um custo que pode chegar, por todo curso, a R$ 500 mil.
Em troca, esses alunos promissores terão de ficar de seis meses a um ano na instituição financiadora. 

Segundo Haddad, a ideia é que 20 estudantes consigam a bolsa para o segundo semestre (quando começa o ano letivo). 

"Vi, no meu caso, quanto é difícil obter uma bolsa. Foi aí que tive a ideia." 

O problema, diz, é que a lógica americana de financiamento de estudos é diferente. "Lá, a família economiza a vida inteira para poder pagar uma boa universidade. Aqui, as famílias 'queimam' o dinheiro no ensino básico, esperando que não se gaste no superior. Fica difícil para quem passa em uma universidade lá." 

Se prosperar, afirma, o projeto poderá beneficiar também alunos de outros países da América Latina. 

Essa será sua segunda empresa. A primeira é o site Estudar nos EUA (estudarnoseua.com.br), que ajuda brasileiros nos processos de seleção das melhores universidades americanas. O projeto virtual tem o apoio da Fundação Lemann. (FT)

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Fonte: Folha on line, 20/01/2013
Imagem da Internet
 

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