segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O retorno da religião, mas cada vez mais deslocada

 
"Deus? Eu não tenho uma resposta, eu reconheço o mistério. 
Certamente, valorizar a nossa espiritualidade 
nos ajuda a superar os obstáculos": essa é 
uma das afirmações mais conhecidas 
e intensas de Frédéric Lenoir, diretor da 
Le Monde des Religions, que recebeu 
nessa sexta-feria o Prêmio Carlo Arturo Jemolo.

O filósofo francês abordou na lectio da Universidade de Turim a relação entre fenômeno religioso e dimensão civil, concentrando a atenção no conceito de laicidade, "entendida como a separação da esfera política da religiosa, elemento fundamental da modernidade ocidental, que tende a se internacionalizar em virtude da pretensão dos indivíduos à sua própria liberdade de consciência, religiosa e de expressão".

Quais são as formas da laicidade hoje? Lenoir distingue dois modelos: "O regime de separação que confina a religião à esfera privada, perfeitamente representado pela França, e o 'caso' Estados Unidos que legítima a expressão religiosa dentro da dimensão pública. Neste segundo modelo, estão envolvidas sociedades que têm uma identidade coletiva profundamente ligada a uma referência religiosa. E é a esse tipo de laicidade, em que a fé dominante continua sendo a marca identitária coletiva que os países árabes estão se orientando, teatro das revoluções democráticas".

Ao contrário, os países europeus decristianizados (Espanha, Alemanha, Holanda) se aproximam mais do modelo francês, no qual, explica Lenoir, "as reivindicações das religiões que exigem mais visibilidade ou influência são hostilizadas por uma parte significativa da população".
Eis a entrevista.

Você acha que é fundamentada a teoria da dessecularização, segundo a qual a religião voltaria a aplicar as suas próprias normas coletivas às comunidades?

A globalização determinou na sociedade ocidental um retorno à religião por razões de natureza espiritual, porque a realidade desorienta e o mundo é percebido como excessivamente materialista. A perda dos pontos de referência morais e a presença de uma mistura cultural dão medo e provocam o retorno a identidades fortes e defensivas.

Ao mesmo tempo, porém, cresce a afirmação das liberdades individuais que certificam a incapacidade das Igrejas, apesar de todos os seus esforços, de se oporem à banalização das relações sexuais fora do casamento e da contracepção, ao divórcio, à legalização do aborto e agora ao casamento homossexual, e a impossibilidade da religião de influenciar sobre a evolução dos costumes e sobre as leis civis.

No dia 13 de janeiro, foi realizada em Paris uma grande manifestação contra a ampliação dos direitos individuais e o reconhecimento civil das uniões homossexuais, à qual aderiram católicos, mas também judeus, muçulmanos e alguns representantes seculares.

É a demonstração da ruptura presente na sociedade francesa. O governo entendeu o sentido desse protesto e agora se apressa para aprovar uma lei que reconhece os mesmos direitos às pessoas homossexuais e heterossexuais em matéria de união civil, postergando ao futuro as questões mais espinhosas no tema da reprodução.

Mas o reconhecimento do casamento homossexual não põe em discussão a própria concepção de casal?

O que antes era era dado como óbvio na idéia de casal, ou seja, que um homem se casa com uma mulher para ter filhos, hoje não há mais um consenso unânime. Houve uma mudança de mentalidade, ponto de chegada da revolução dos direitos individuais iniciada na Europa do século XVIII, que levou a antepor a aspiração dos indivíduos às leis da natureza. As religiões, que se fundamentam todas na lei da natureza, só podem estar cada vez mais deslocadas.
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 A entrevista é de Luca Rolandi, publicada no jornal La Stampa, 25-01-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU on line, 28/01/2013
Imagem da Internet

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