Roland Emmerich fala do seu novo blockbuster,
diz que mais do que sobre o dilúvio é sobre a arca de Noé e
revela seu sonho:
um filme pequeno, sem efeitos
Alienígenas, monstros antediluvianos, geleiras, tsunamis - o alemão Roland Emmerich ama as catástrofes e os efeitos. Seu cinema é espetacular, e odiado pelos críticos, que reprovam o excesso de clichês. Ele filosofa - "Deve ser difícil para eles aceitar o sucesso dos outros, isto é, o meu" ou então "Faço cinema para me comunicar; é claro que utilizo fórmulas e clichês, mas espero fazer isso melhor do que qualquer outro antes, ou depois." Emmerich está em Cancún, no México, participando da superjunket da Sony. O dia está sendo muito especial porque de manhã cedo, pela primeira vez, ele mostrou à alta direção do estúdio a sua montagem de 2012, e ela foi integralmente aprovada. Mas o filme que estreia hoje, dois meses depois, nos cinemas brasileiros, ainda não estava 100% concluído. "Ainda terei muito trabalho nas próximas semanas, mas, depois, já está combinado - vou alugar um iate e levar meus amigos num cruzeiros pelas ilhas gregas."
Qual é a vantagem de ser um mega diretor em Hollywood?
É justamente esta - "Enquanto você faz sucesso, está sempre todo mundo ao seu redor paparicando e tentando realizar seus desejos." Emmerich já havia saído do armário há tempos, mas foi em Cancún que ele desfilou aos beijos com o namorado - modelo e bem mais jovem. A pedido de Emmerich, a Sony realizou uma festa extravagante, à base de motivos maias. A própria escolha do México para abrigar as entrevistas do diretor e sua equipe tem a ver com a civilização - os maias foram grandes astrônomos. Chichen Itzá, que muita gente - turistas, principalmente - pensa ser um templo, na verdade é um observatório. É um desafio entender como e por que esse povo construiu um calendário tão perfeito, que prevê eclipses e cometas com grande antecedência. O calendário maia termina em 2012. Certas profecias - de Nostradamus e outros profetas do apocalipse - também apontam para o fim do mundo nessa data. Roland Emmerich já acabou tantas vezes com o mundo na tela... Ele garante que não. Foram dois encontros com o diretor, e num deles o repórter participou de um exclusivo almoço, com um jornalista de cada continente. Éramos seis à mesa, incluindo o próprio Emmerich.
Por que você é tão atraído pelo fim do mundo?
Mas meus filmes não tratam do fim do mundo. O que me interessa é exatamente o contrário, o recomeço. Se formos pensar em termos bíblicos, 2012 não é sobre o dilúvio, mas sobre a arca de Noé. Fiz uma nova versão high tech da história da arca de Noé. Mas, claro, para encarar o recomeço, preciso mostrar o fim. E é interessante. Gosto do cinema espetacular, cheio de efeitos. Me estimula fazer um filme gigantesco como 2012 no prazo em que o fizemos. Havia gente no estúdio que jurava que não conseguiríamos fazer tantos efeitos - milhares - num prazo tão reduzido, mas essas coisas, longe de nos abalar, nos estimulam, a Harald (Kloser) e a mim. (É o produtor associado dos filmes de Roland Emmerich.) E eu vou lhe dizer uma coisa. Estamos brincando de catástrofe, mas, ao fazê-lo, estamos popularizando grandes temas e levando as pessoas a se questionarem. O aquecimento global era questão que afligia a meia dúzia de especialistas, bem, eram mais que meia dúzia. Com O Dia Depois de Amanhã, a preocupação pelo tema atingiu o americano comum, que passou a pressionar o governo. De novo, com 2012, discutimos o estado do mundo, o comprometimento do governo com seus cidadãos, a família como base de tudo.
Você tem um presidente negro. Já pensava em Barack Obama?
Está brincando? Por mais rapidamente que 2012 tenha sido feito, foram anos de intenso trabalho. E todo mundo apostava em Hillary (Clinton).
O filme mostra os governos construindo arcas e cobrando caro pelos ingressos. Seu cientista, Chiwetel Ejiofor, se insurge contra isso.
É a mensagem humanista de 2012. Se queremos construir um mundo novo para substituir este, não podemos repetir os erros e baseá-lo nos mesmos valores materialistas que nos levaram à falência.
Você destroi o Cristo Redentor, o Vaticano, o Tibete, mas não destroi os centros de peregrinação do islamismo. Por quê?
Queríamos usar essas imagens muito conhecidas, que fazem parte do patrimônio cultural da humanidade. Mas entendo sua pergunta. Sou louco, mas não tanto. Quer que o Islã me persiga, como perseguiu Salman Rushdie?
Como os maias entraram nessa história?
É só você pesquisar na internet. Encontramos ali alguma coisa que nos levou a pensar e a buscar mais informações com especialistas. Brincamos, mas com coisas sérias.
Uma pergunta bem pessoal - foi difícil sair do armário?
Sou um homem muito melhor depois disso, e os meus filmes o refletem. Mas para um diretor não é muito difícil, não. Para um astro, sim. O público não se identifica com um diretor. Não somos objetos de desejo. A garota que deseja um astro vai se decepcionar, se souber que ele prefere um homem. O que posso dizer é que viver de aparência não faz bem a ninguém.
Depois de filmes cada vez maiores, o que se pode esperar? Qual seu maior desafio?
Um filme pequeno, intimista, sem efeito nenhum. Tenho esse projeto, que um dia espero realizar, mas não para os críticos. Quero fazer esse filme para mim.
Filme: 2012 (EUA-Canadá/2009, 158 min.) - Ação. Dir. Roland Emmerich. Cotação: Regular
Reportagen de Luiz Carlos Merten, CANCÚN .O repórter viajou a convite da distribuidora Sony.
Fonte: Estadão on line, 13/11/2009
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