Marcos Coimbra*
Dilma contra Aécio é uma eleição bem diferente da que Lula pensou. Com a bandeira do futuro nas mãos, ele poderia dar muito mais trabalho que Lula achava que ia ter. Se, nas eleições de 2010, a discussão for sobre nosso futuro e não sobre o passado, elas ganham muito em importância.
Para quem gosta daqueles painéis que marcam o tempo que falta até um evento, chegamos a uma distância das próximas eleições presidenciais que já pode ser calculada em dias. De hoje até elas, mesmo se só se resolverem no segundo turno, falta menos de um ano. O tempo, agora, parece que corre mais depressa.
Toda eleição é importante para um país e algumas são mais. Mesmo nos que estão acostumados com elas, existem as que têm significado maior, pois provocam sentimentos que influenciam o modo como as pessoas se veem e veem a nação que são, com efeitos que atravessam os anos. Em 2008, nos Estados Unidos, por exemplo, a eleição de Barack Obama foi uma dessas. Depois de sua vitória, o país mudou.
No Brasil, com a história que temos, o simples fato de fazermos a sexta eleição presidencial democrática em sequência é motivo para soltar foguetes. Em 509 anos, isso nunca tinha acontecido. Nosso recorde até o fim do século 20 (já ultrapassado na reeleição de Lula em 2006) era de apenas quatro, de Dutra a Jânio. Parece que agora, finalmente, engrenamos na democracia.
Do modo como o jogo político está sendo jogado, já sabemos qual será um dos polos da decisão ano quem vem. Quando escolheu Dilma para ser sua candidata, Lula apostou na continuidade, entendendo que as pessoas estão, majoritariamente, satisfeitas com o que têm. Guiado pelas pesquisas de opinião, convenceu-se de que o mínimo de mudanças tinha máxima probabilidade de sucesso, respaldado pelos quase 80% de aprovação a seu trabalho.
Pelo que se pode deduzir, o presidente sempre calculou que José Serra seria o adversário de quem ele indicasse. Talvez por conhecer seu estilo, Lula imaginou que ele tentaria suplantar qualquer outro nome que surgisse nas oposições. Nessa avaliação, deve ter se lembrado que, para Serra, essa é, muito provavelmente, a última chance. Na seguinte, em 2014, ele já terá 72 anos, o que não inviabiliza, mas dificulta uma candidatura.
Se Serra era o adversário de Dilma, o cenário da eleição de 2010 estava definido: de um lado, uma candidatura cuja promessa fundamental seria deixar tudo como está (ainda que repetisse o mantra de “melhorar o que precisa ser melhorado”); do outro, uma que pudesse ser identificada com Fernando Henrique, cujo governo, ainda segundo as pesquisas, tinha terminado com imagem ruim e só piorara de lá para cá.
É possível que Lula tenha escolhido Dilma por estar convicto de que a eleição seria contra Serra. Foi pensando que o governador não conseguiria se desvencilhar de suas ligações com o passado que ele fez a opção por alguém que representa o presente. Em vez de Dilma contra Serra, o eleitor seria levado a uma escolha entre ele e seu antecessor. Seria a forra de Lula contra quem o derrotou duas vezes, quando os eleitores comparariam o presente que aprovam com o passado de que não gostam.
E o futuro, a possibilidade de pensar o que podemos ser e não o que fomos nos últimos 16 anos? Na candidatura Dilma, a ideia é tabu, pois ela está presa a uma defesa intransigente do presidente Lula. Discutir o futuro, salvo se para propor ajustes cosméticos, é reconhecer que algo deixou de ser feito ou foi mal feito.
Será que Serra consegue escapar do papel escalado por Lula? É possível, mas não é fácil. Afinal, ele esteve, durante oito anos, no governo FHC, no qual, aliás, construiu a parte de sua biografia que mais interessa aos eleitores, quando foi ministro da Saúde. Pode, até, não falar diretamente de Fernando Henrique, mas o espectro do ex-presidente vai sempre rondar sua candidatura (nas pesquisas atuais, quase 80% dos entrevistados dizem que Serra é “o candidato de Fernando Henrique”).
Mas e se o nome do PSDB for Aécio? O que aconteceria com a estratégia montada por Lula há tanto tempo? Como Dilma já está sacramentada, não é mais possível inventar outro discurso, outras propostas. Ela vem para defender o presente.
Dilma contra Aécio é uma eleição bem diferente da que Lula pensou. Com a bandeira do futuro nas mãos, ele poderia dar muito mais trabalho que Lula achava que ia ter. Se, nas eleições de 2010, a discussão for sobre nosso futuro e não sobre o passado, elas ganham muito em importância.
*Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi marcoscoimbra.df@diariosassociados.com.br Correio Braziliense, 04/11/2009
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