Delfim Netto*
É uma grande ilusão imaginar que o Brasil estará entre as cinco maiores economias do mundo na década atual se não realizar investimentos pesados num novo padrão de energia independente da utilização do petróleo. Apesar do abandono do planejamento estratégico e de nossa fraca vocação para pensarmos o longo prazo, a verdade é que mantemos algumas características de país altamente inovador. Temos realizado avanços extraordinários no desenvolvimento de processos e na pesquisa em energias alternativas, em razão da antiga (e felizmente superada) dependência das importações de petróleo. Não atendemos, porém, às necessidades de financiamento na medida exigida pela continuidade das pesquisas.
O rápido crescimento da economia chinesa atrai as atenções, ocupando um enorme espaço na mídia global, mas devíamos orientar o nosso interesse em acompanhar prioritariamente as inovações que se estão processando nos Estados Unidos, na Alemanha e nos países nórdicos. A China, por enquanto, continua uma economia que copia, muito mais do que investe em inovação. Para os dirigentes asiáticos, a prioridade é manter o crescimento anual do PIB em 9%, não importa o que os demais pensem a respeito. Os americanos, com todos os problemas de suas finanças, mantêm a dianteira nos investimentos em desenvolvimento tecnológico: no governo Obama, decidiram recuperar a autonomia energética (primeiro item, reduzir drasticamente a dependência das importações de petróleo nos próximos 15 anos), investindo pesadamente no desenvolvimento de novas modalidades de energia. Para P&D nas universidades e fundações (públicas ou privadas) foram destinados 700 bilhões de dólares. A partir dessa ação do Estado indutor, os setores privados costumam destinar um volume de recursos duas ou três vezes maior nas modalidades desenvolvidas. De seu lado, alemães e escandinavos estão ampliando os investimentos em energia alternativa (cuidando principalmente de não aumentar a dependência do fornecimento de gás da Rússia) e já colhem resultados expressivos na utilização da energia eólica.
Em termos imediatos, o que acontece de importante nos EUA e na China é a ênfase total dos investimentos públicos na expansão e modernização da infraestrutura dos transportes e comunicações de modo geral. Não é novidade no caso dos EUA, tradicionalmente um canteiro de obras da iniciativa privada que se expande e se renova conforme a ação do Estado indutor, que tem sido intensa no atual governo como terapia para a crise financeira. No caso chinês, os investimentos se multiplicam conforme as decisões centralizadas do governo autoritário: o volume de recursos anunciados para os setores de transporte (por exemplo, 100 mil quilômetros de ferrovias, novas ou em recuperação!) e energia é algo ciclópico.
O caminho brasileiro não deve ser diferente: temos de acelerar, ainda no que resta deste governo e sem quebra da continuidade no próximo a ser eleito em 2010, os investimentos na infraestrutura dos transportes (rodovias, instalações portuárias marítimas e fluviais, especialmente) para eliminar o mais rápido possível os gargalos que encarecem a circulação interna e as exportações da produção agrícola e industrial, obras reclamadas há mais de 20 anos, com endereços certos, conhecidos, filmados e fotografados.
Não é preciso insistir que o Brasil é um país inovador. O que nos falta é o suporte do crédito (como existe nos EUA), de forma contínua, para sustentar as inovações, é claro que com algumas notáveis exceções: alcançamos o estado da arte na produção de combustíveis para transporte e a Embrapa fez, em 30 anos, uma revolução na produtividade de nossa agricultura (e pecuária), dando um enorme retorno aos parcos recursos de investimentos que recebeu.
Para que o Brasil se transforme efetivamente num protagonista importante, de ponta, nesta revolução que vai mudar profundamente os processos de produção industrial e agropastoril em todo o mundo, os próximos governos terão de dar prioridade absoluta aos investimentos em inovação e ao desenvolvimento tecnológico. Para sustentar esses investimentos, eles terão de estabilizar (ao menos) os gastos de custeio, algo que o atual governo apenas ameaçou fazer, timidamente.
A fórmula do crescimento é inovação mais crédito. Sua aplicação foi fundamental para a construção da mais poderosa economia global no século passado. Não há nenhuma razão para ignorá-la.
*Economista. Colunista da Carta Capital e Folha
Fonte: Carta Capital online, 17/01/2009
Fonte: Carta Capital online, 17/01/2009
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