terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Os brasileiros e seus nomes

MOACYR SCLIAR*



Quais são os nomes preferidos dos pais brasileiros? Para responder a esta pergunta foi feita uma pesquisa abrangendo 28 mil bebês filhos de usuários cadastrados no portal BabyCenterBrasil.com, um site que proporciona informações acerca de saúde infantil, gestação etc. É uma amostra significativa da nossa população? Não, não é. A maior parte desse público vive na Região Sudeste e é de classe média e alta. Mas vale a pena conhecer as preferências de um grupo que funciona como verdadeira caixa de ressonância do país, o grupo em grande parte responsável pela chamada opinião pública. A lista inclui os cem nomes mais comuns de meninos e os cem nomes mais comuns de meninas.

A primeira coisa que se constata é que as preferências variam com o tempo. Houve uma época em que José era um dos nomes mais comuns; agora, ele nem figura na lista, coisa que dá uma conotação profética ao famoso poema de Drummond, “E agora, José?”. Os nomes mais comuns de meninos são: Arthur/Artur, Matheus/Mateus, Davi/David, Lucas. Guilherme, Pedro, Miguel, Enzo, Gustavo. Como José, cinco desses nomes estão ligados ao Antigo ou ao Novo Testamento: a Bíblia, pelo visto, continua sendo uma fonte de inspiração. No caso das meninas, os nomes mais comuns são Júlia/Giúlia, Sofia/Sophia, Maria Eduarda, Giovanna/Giovana, Isabela/Isabella/ Beatriz, Manuela/Manoela/Manuella, Yasmin/Iasmin, Maria Clara, Ana Clara. Aí a inspiração bíblica é menor; Maria, que, como José, era comum no passado, agora aparece, mas de preferência em nomes compostos (Maria Clara), assim como Ana, também do Novo Testamento (Ana Júlia). Nos nomes compostos masculinos, Henrique é o componente mais comum (Pedro Henrique, João Henrique).

Quem escolhe o nome dos bebês? Em 53% dos casos, a decisão foi dos pais em conjunto; em 28%, só da mãe; em 15%, só do pai; em 3%, do irmão; em 1%, dos avós. E como são escolhidos esses nomes? Quase metade dos pais (42%) disseram, na pesquisa, que escolheram o nome por ele “ter um significado interessante ou importante”, e 38% o fizeram por “ser um nome simples”. E aí a pergunta se impõe: será, mesmo, que os nomes são simples? Olhem a lista e vejam quantos desses nomes apresentam grafias alternativas (e poderia haver ainda outras grafias). Dá para falar em simplicidade no caso de um nome como Pedro, ou Paulo: ninguém precisa perguntar como se escreve. Mas em outros casos a pessoa tem de dar explicações. Meu nome, por exemplo, é uma homenagem de minha mãe, professora, a José de Alencar. Já foi comum, não é mais. E era grafado com y, o que me obriga sempre a dizer “Moacyr com y” e, em seguida, “Scliar com i”, porque, e em razão da inércia, a pessoa sempre escreve “Sclyar”.

Esta é, contudo, uma dificuldade menor. Pior é o caso dos pais que usam o “th”, que dobram as consoantes, e que, mais importante (e problemático) recorrem aos nomes estrangeiros, o Michael, ou Maicon ou outras variantes, sem falar em formas novas como Kathyellyn – esse eu inventei, não tomem como sugestão. Meu palpite: dar nome ao bebê às vezes funciona como desafio à criatividade dos pais. Tudo bem, desde que não obrigue o filho ou a filha a passar boa parte de suas vidas soletrando seus nomes. Pais, não compliquem: as futuras gerações agradecem.

*Médico. Escritor e colunista da ZH
Fonte: ZH online, 19/01/2010

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