terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Jaron Lanier


Pioneiro digital critica a mentalidade da turba que domina a internet

Um "pensamento de colmeia" na cultura da internet Quando a sabedoria das multidões começa a dar lugar à mesquinharia das turbas?

Nos anos 90, Jaron Lanier foi um dos pioneiros digitais a saudar as possibilidades maravilhosas que virariam realidade a partir do momento em que a internet permitisse que músicos, artistas, cientistas e engenheiros em todo o mundo compartilhassem seu trabalho. Agora, como muitos de nós, ele está repensando sua posição.

Músico e cientista de vanguarda da computação -foi ele quem popularizou o termo "realidade virtual"-, Lanier se pergunta se a estrutura e ideologia da web não estariam fomentando dinâmicas de grupo maldosas e colaborações medíocres. Seu novo livro, "You Are Not a Gadget" (Você não é um gadget), é um manifesto contra o "pensamento de colmeia" e o "maoísmo digital", termos que emprega para indicar a glorificação dos softwares de fonte aberta, das informações gratuitas e do trabalho coletivo, às expensas da criatividade individual.

Ele atribui à tradição de "anonimato de passagem" da internet o incentivo a comportamentos coletivos nocivos em blogs, fóruns e redes sociais. Lanier reconhece os exemplos de colaboração generosa, como o caso da Wikipedia, mas argumenta que os mantras "cultura aberta" e "a informação quer ser livre" geraram um novo e destrutivo contrato social.

"A ideia fundamental desse contrato", escreve, "é que escritores, jornalistas, músicos e artistas são incentivados a tratar os frutos de seus intelectos como fragmentos a serem entregues gratuitamente à mente colmeia. A reciprocidade assume a forma de autopromoção. A cultura deve tornar-se precisamente nada além de publicidade".

Stan Liebowitz, professor da Universidade do Texas em Dallas, disse que o problema atual da web tem menos a ver com monopólios e desenho de softwares que com pirataria intelectual.

Quando o Napster e outros sites de partilha de música ganharam popularidade, Liebowitz previu, corretamente, que a indústria musical seria prejudicada, porque ficou barato fazer e distribuir cópias.

Hoje ele vê dano semelhante sendo feito a outros setores, como o das publicações e o da TV.

"Uma pessoa inteligente sente-se culpada por descarregar música sem pagar ao músico, mas usa essa ideologia de cultura aberta gratuita para acobertar sua culpa", disse-me Lanier. No livro, ele contesta a afirmação de que não faz mal copiar um arquivo digital de música porque você não danificou o arquivo original.

Lanier propõe que se repense a ideologia da web, revendo sua estrutura de software e introduzindo inovações como um sistema universal de micropagamentos.

Liebowitz sugere uma reforma mais tradicional do ciberespaço: impor penalidades aos ladrões. A grande diferença entre a pirataria na internet e um furto em uma casa, diz ele, é que as penalidades impostas pela pirataria são leves e raramente aplicadas. Ele prevê que as pessoas continuem a furtar (e a racionalizar seus furtos) enquanto os benefícios da pirataria excederem seus custos.

Teoricamente, autoridades poderiam endurecer as penalidades, mas há muito mais consumidores de conteúdo digital que produtores desse conteúdo. E, quando a maioria se sente no direito de tomar posse da propriedade de outros, quem é capaz de se opor a ela?
_________________________________________
Reportagem de John Tierney - The New York Times

FONTE: Folha on line, 25/01/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário