Deonísio da Silva*
RIO - Júlia, Sofia e Giovana para as meninas, e Gabriel, Artur e Mateus para os meninos são os nomes de bebês mais comuns no Brasil. Às vezes, pais sofisticados mudam para Julie, Sophie, Giovanna, Arthur e Matheus.
Durante décadas, tivemos que ouvir de alguns locutores esportivos, quando o Brasil jogava com a Alemanha, que a bola estava com Mataus, como pronunciavam o alemão Mathäus, que é dito Mateus, como no português. O jogador foi capitão da Alemanha em 1990, quando o nosso técnico era Sebastião Lazzaroni. Tomara que Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga, igualmente descendente de italianos, nos venha da África com o hexa, como fez Luiz Felipe Scolari na Ásia, que nos trouxe o penta.
Por falar em Lothar Mathäus, o ex-camisa 10 da seleção alemã, hoje com 48 anos, caminha para seu quarto divórcio, desta vez da modelo ucraniana Kristina Liliana, de apenas 22 anos. Beberam muito na Oktoberfest de Munique e casaram-se em Las Vegas, no Réveillon de 2009. Tornaram-se breves os casamentos, esta é outra mudança que revela mais do que registra.
Acabou o reinado de Maria, José, João, Claudia e de outros nomes até então muito frequentes em cartórios e secretarias paroquiais. Como se sabe, proclamada a República, viu-se que apenas a Igreja sabia o nome de todos. Monarquia e Império apoiavam-se em registros eclesiásticos. E durante toda a República Velha (1889-1930), padres letrados continuavam a influenciar o nome dos bebês que batizavam. Prevalecia quase sempre, ao menos como um dos nomes, o do santo ou santa do dia.
Com a consolidação dos cartórios de registros civis, já sem vínculos com as paróquias, a criatividade dos pais ensejou milhares de nomes; alguns muito esquisitos, aliás. De todo modo, sobretudo no Nordeste, a inovação impediu um sério problema: a proliferação de homônimos, dada a prevalência de sobrenomes como Silva, Sousa, Santos etc. Há muitos José da Silva, mas uma sílaba de um nome, combinada com a de outro, cumpre a função primordial, a de individualizá-lo, já não importando o sobrenome. Esta é outra questão: ainda se omite muito o sobrenome da mãe.
A homonomia pode ser evitada também com os nomes compostos. Há muitas pessoas chamadas José ou Maria, cujo número diminui muito quando compostos de forma invertida: José Maria para o menino, Maria José para a menina.
Os nomes dos jogadores de futebol são um capítulo à parte, mas também revelam a mudança. José, João, Manuel – naturalmente, mais conhecidos pelos apelidos de Zé, Joãozinho, Mané e compostos como Zé Sérgio, Mané Garrincha etc – foram substituídos por Igor, Jefferson, Richarlyson, Wagner, Wendel, Washington etc. E as meninas receberam até nomes como Jana, Petra e Martina.
Manobristas, porteiros e seguranças têm nomes às vezes muito curiosos. A onomástica oferece uma fresta social muito importante a quem, como este escritor, adora o detalhe e certas vias para a realidade às quais não damos a devida atenção. Exemplo: o Brasil continua o maior país católico do mundo, mas o santo do dia já não inspira as famílias a darem nomes aos filhos. Foram-se os poderes do padre e do escrivão. Então, o Brasil se laiciza a passos rápidos? Que bom se o rumo tomado seja mesmo este, pois o Estado deve ser leigo!
O significado do nome às vezes é um segredo até mesmo para seu titular. Tememos o caso de Alberto, que veio do latim Albertus, adaptado do alemão Albrecht e do francês Albert. Já era resumo do germânico adal (nobre) e berht (brilhante).
Alberto não era nome no português até o século 15. Foi entrando devagarinho e popularizou-se a partir de 1840 com o casamento da rainha Vitória, inglesa, com o príncipe alemão Albert de Saxe-Coburgo-Gota. No palácio, ela era conhecida como Drina, de Alexandrina, seu outro nome.
É germânica a origem de um dos nomes do presidente da República. Luiz veio de Ludwig, composto de hlod, glória, e wig, batalha. Tornou-se Ludovicus no latim; Louis no francês; Luigi no italiano; e Luiz ou Luís no espanhol e no português. Já Sérgio, nome do governador do Rio, procede do etrusco, com o significado de guardião; tornou-se Sergius no latim, Sergei na Rússia, lá popularizado porque São Sérgio é padroeiro do país, e Serge no francês. Eduardo, nome do prefeito, tem origem nos étimos do inglês antigo, ead, feliz, rico, e weard, guarda.
Mas, adverte Shakespeare, “o que chamamos rosa teria o mesmo perfume sob outro nome”. Há controvérsias.
________________________________________________________*Deonísio da Silva é doutor em letras pela USP, professor da Universidade Estácio de Sá e autor de 30 livros, entre os quais 'De onde vêm as palavras' e 'A vida íntima das frases'.
Fonte: Jornal do Brasil online - 25/01/2010
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