Riad Younes
Nada mais natural e urbano do que chegar em casa, ligar a televisão e assistir à programação oferecida pelos canais abertos e pagos. Milhares de seriados, noticiários, documentários e filmes. Sempre há algo novo, interessante para ver. O tempo passa sem percebermos. Mas o corpo percebe. E muito.
Estudo recentemente publicado na revista Circulation por pesquisadores do Instituto de Coração e Diabetes de Melbourne, na Austrália, liderados pelo médico D. Dunstan, avaliou o impacto do tempo que uma pessoa passa à frente de uma tela de tevê e os riscos de desenvolver problemas graves de saúde e de morrer.
Durante seis anos, acompanharam 8,8 mil indivíduos adultos, com idade superior a 25 anos, que voluntariamente participaram de um extenso estudo sobre diabetes, obesidade e estilo de vida. Durante esse período, observaram o tempo e as causas de morte dos participantes do estudo. Ficou demonstrado que as pessoas que assistiam rotineiramente a mais de quatro horas de televisão por dia apresentavam um risco 46% mais elevado de morrer, quando comparadas com pessoas expostas a menos de duas horas diárias. E 80% mais chances de morrer de doenças cardiovasculares (infarto, derrame etc.).
Levando em conta outros fatores de risco, como obesidade, sexo, idade, tabagismo e sedentarismo, os riscos de morrer de câncer ou de doenças cardiovasculares aumentaram de forma proporcional ao número de horas dispensadas à atividade de telespectador. Para cada hora de televisão, em que a pessoa fica sentada, imóvel e concentrada na programação, o risco de morrer de câncer aumentou 9%, e de desenvolver doenças cardiovasculares fatais, 18%.
O curioso é que o risco aumentou de forma similar em pessoas que relatavam realizar regularmente exercícios físicos, como andar, correr, pedalar ou nadar. O problema mais grave associado à tevê, segundo os cientistas, é o fato de o telespectador ficar sentado por longas horas.
Esse estudo tem sido bem recebido pela comunidade científica e autoridades de saúde interessadas em reduzir a incidência e a mortalidade por doenças cardiovas-culares e malignas. Estudos prévios, discutidos extensamente nesta coluna, relacionaram claramente a televisão e os jogos eletrônicos com a epidemia de obesidade.
Até recentemente, a recomendação geral era iniciar uma atividade física aeróbica para compensar as horas de sedentarismo diante das telas. Os cientistas australianos alertam que a mensagem enviada talvez seja insuficiente. Os males decorrentes da televisão podem ser reduzidos, mas não são compensadas pelo exercício físico regular.
A falta de pequenos movimentos, como andar, ficar em pé, movimentar o corpo, é que tem o maior impacto nos riscos de morte. Acreditam os autores que longas horas de inatividade afetam significativamente o metabolismo de nosso corpo, o modo como ele processa carboidratos e gorduras. As consequências dessas alterações são claras sobre o coração e outros órgãos.
Em outras palavras, a definição de sedentarismo logo mudará. Se uma pessoa passar mais de quatro horas seguidas sentada será classificada como sedentária, mesmo que faça depois algum exercício. Não há dúvida das vantagens da atividade esportiva, mas recomenda-se evitar, a todo custo, passar mais de duas horas imóvel à frente de uma tela de televisão, computador ou videogame, assim como lendo ou viajando.
Provavelmente, um prolongado período sentado apaga os benefícios dos minutos diários de exercício físico. Portanto, caros leitores, mexam-se frequentemente, em intervalos regulares, e mantenham suas atividades esportivas em dia.
Fonte: Revista Carta Capital online, 17/01/2009
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