Sempre li as mulheres. Elas são alma e afagam a realidade com ternura e cheiro quando escrevem. Assim é INÊS PEDROSA*
Alguns fragmentos que assinalei, na primeira parte, da leitura que faço. Agora divido com quem acessa o meu blog:
1) _ “As palavras são caleidoscópios onde as coisas se transformam noutras coisas. As palavras não têm cor – por isso permanecem quando as cores desmaiam” #_“o movimento entorpece o acontecer das coisas” (pg.13).
2) -“Peço-te que olhes para o que fazem as pessoas felizes – são essas que preciso ver. Dizes-me que te peço demasiado, que a felicidade não se vê.” # “Somos conduzidos para as lágrimas, a civilização é provavelmente isso, um longo trajeto de lágrimas. Como se tivéssemos medo de merecer o júbilo da terra”. (pg.14).
3) - “rio-me porque preciso de arrefecer as palavras, preciso de as adequar á temperatura do meu corpo”. # “A carne dos corpos, alimentando-se de palavras para não morrer, matando as palavras para não chorar. Corpos. Pedaços de tempo que o tempo vai matando. Desde que se me tornaram opacos vejo-os por dentro, massas de ossos, nervos e vísceras, e ouço-os, espapalaçados, na sua gramática descontínua”. (pg.15)
4) – “Nem imaginas como odeio as pessoas que me garantem, com música de elevador na voz, que é bom manter o desejo, a raiva, a vontade, que bom, a questão é canalizar positivamente tudo isso. Odei-os, a esses conselheiros bondosos e às suas teorias do positivo e à auréola de tolerância que lhe envolve a garganta quando me incitam a que desabafe, que desabafar faz bem. Querem que além de cega seja santa, eruditamente santa, socialmente santa, que me porte bem, que aceite o carinho empenado pela piedade que têm para me oferecer”. (pg.16)
5) – “... se me quiseres seguir acabarás por te perder também”. (pg.17)
6 ) – “Como se alguém pudesse regressar ao lugar onde foi infeliz. Não se é duas vezes infeliz da mesma maneira, e ninguém é feliz de maneira nenhuma. Inventamos aquilo de que nós queremos lembrar, isso sim”. # - “É verdade que o amor cega, paralisa, entorpece – mas apenas para tudo o que não é o amor. E tudo o que não é o amor é o mal do mundo”. (pg.20)
7) – “Amei o bastante para já não temer nada”. # - “Digo-te que o pior de ser ceguinha é ter de estar sempre a agradecer”. - # - “Não me queiras de um querer tão estreito. Para solidão, basta-me o negrume constante em que vivo. E o meu riso, o riso apavorado em que choro as lágrimas que nunca mais poderei ver”. (pg.21)
8) – “Desejamos antes de desejarmos; somos desejados pelo desejo”. # - “Pensei que ficando do lado de fora da vida conseguiria agarrar a dor pelas costas e matá-la”. (pg.22).
* INÊS PEDROSA nasceu em Coimbra, Portugal, em agosto de 1962. Trabalhou no rádio e na televisão e é colunista do semanário português Expresso. É autora de contos, crônicas, ensaios biográficos e antologias, e publicou os romances A instrução dos amantes (1992), Nas tuas mãos (1997) – vencedor do Prêmio Máximo de Literatura – e Fazes-me falta (2002). A eternidade e o desejo é o seu primeiro livro ambientado no Brasil.
* Os fragmentos aqui postos foram tirados do livro: A ETERNIDADE E O DESEJO. Ed. Objetiva, RJ, 2008.
“Em A eternidade e o desejo, Pedrosa conta a história de Clara, uma jovem portuguesa que decide retornar a Salvador anos depois de ter passado por uma experiência traumática na cidade. Foi atingida por um tiro ao tentar salvar o amor de sua vida e, apesar de não carregar no rosto uma cicatriz aparente, a bala causou um dano ainda maior: deixou-a cega. Guiada pelos sermões do padre Antônio Vieira, que lhe servem de inspiração e estímulo para seguir adiante, e acompanhada por Sebastião, o amigo que a ama sem ser correspondido, Clara visita as igrejas históricas de Salvador, percorre os mercados e o Pelourinho, encanta-se com o Candomblé e seu orixás. E descobre, ao conhecer o jovem Emanuel, que ainda é capaz de sentir desejo e paixão. “Não vendo, só te vejo a ti”, diz ela, neste romance arrebatador” (Comentário na segunda orelha do romance).
Nenhum comentário:
Postar um comentário