A onda de adoções de crianças haitianas que ficaram órfãs no terremoto de 12 de janeiro desencadeou uma série de críticas de organizações não governamentais. As entidades humanitárias Save the Children, Visão Mundial e a Cruz Vermelha Britânica defenderam que as autoridades do Haiti precisam se focar na tentativa de encontrar familiares dessas crianças para entregar-lhes os menores, antes de repassá-los a estrangeiros. “Qualquer adoção precipitada colocaria em risco a ruptura permanente de famílias, provocando danos a longo prazo nas já vulneráveis crianças, e poderia desviar a atenção dos esforços de ajuda no Haiti”, informou um comunicado conjunto das agências, segundo a rede de TV norte-americana CNN.
Jasmine Whitbread, diretora-executiva do Save the Children, afirmou que a “vasta maioria” das crianças no Haiti não são órfãs, mas apenas foram separadas de suas famílias, em meio ao caos. “Os parentes delas podem estar vivos e ficarão desespeados para encontrá-las”, disse. “Tirar uma criança do país separaria milhares delas de suas famílias — uma separação que compreenderia um trauma agudo do qual elas já estão sofrendo e infligiria danos a longo prazo sobre suas chances de recuperação”, acrescentou a ativista.
Já a diretora-executiva do Visão Mundial considerou que o fluxo de novas adoções também poderia abrir as portas para os traficantes de crianças. De acordo com ela, a pobreza no Haiti torna as crianças “extremamente vulneráveis” à exploração e ao abuso. “Estamos preocupadas não apenas com as prematuras adoções internacionais, mas também com o fato de as crianças serem enviadas desacompanhadas para a República Dominicana”, alertou. Por sua vez, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef, pela sigla em inglês) advertiu que a adoção de haitianos só pode ser considerada um último recurso.
Holanda
Apesar dos temores e das advertências, 106 pequenos haitianos — cujas idades variam de 6 meses a 7 anos — desembarcaram ontem na base aérea de Eindhoven, na Alemanha, carregadas por soldados holandeses, e foram entregues aos pais adotivos. “Cerca de duas horas e meia antes do pouso, elas comeram, ficaram cheias de energia e transformaram o avião em um parque de diversões”, brincou Macky Schouten, diretor da instituição de adoção NAS, citada pela agência de notícias Reuters. A assessora de imprensa da entidade Letje Vermut revelou que os novos pais estavam excitados para encontrar os filhos, mas também ansiosos com o estado dos menores. “É um sentimento ambíguo”, disse Letje. “Sorriso e lágrimas estavam muito próximos hoje.”
Das 106 crianças, 92 foram adotadas por casais holandeses e 14 por pais procedentes de Luxemburgo. Uma delas consegue falar um pouco de holandês, por ter recebido lições do idioma em um orfanato dirigido por holandeses. O Ministério da Justiça da Holanda confirmou ter acordado em acelerar a entrada dos haitianos.
O número
380 mil
Total de crianças haitianas que viviam em orfanatos do país antes mesmo do terremoto de 12 de janeiro.
Reportagem de Rodrigo CraveiroFonte: Correio brasiliense online, 22/01/2010
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