Todo mundo gosta de generalizar sobre os americanos, todos os 300 milhões. Mas provavelmente poucos podem fazer isso com a autoridade de Claude S. Fischer, professor de sociologia da Universidade da Califórnia em Berkeley.
Em "Made in America", Fischer embarca em um projeto ambicioso: "descrever como a cultura e o caráter dos americanos mudaram ? ou não mudaram - ao longo da história", da era colonial até hoje.
O fato de ele fazer isso em menos de 250 páginas, e de uma maneira clara e divertida, é um feito formidável. Fischer reduz seu quadro de referências considerando as relações dos americanos com cinco aspectos básicos da vida: a segurança física, os bens materiais, os grupos sociais, os espaços públicos e a atitude mental. E conclui que a prosperidade permitiu aos americanos se tornarem mais americanos, com mais pessoas aspirando à prosperidade e à liberdade individual, neles incutidas social e culturalmente há mais de 300 anos.
A análise densa de Fischer sobre as mudanças sociais ganha vida nas histórias de pessoas comuns, extraídas de documentos históricos citados em publicações acadêmicas, livros e estudos. Criadas não são mais enviadas para asilo de pobres, como ocorria na Filadélfia em 1786. Garotos de 10 ou 11 anos não são mais tratados como Chauncey Jerome, um relojoeiro forçado a trabalhar longe de casa, em 1804, depois da morte do pai.
Mas o fascínio deste livro está em revelar quanta coisa ainda continua igual. Fischer observa que a ideia dos americanos viciados em crédito e vivendo além de suas possibilidades não é tão nova quanto podemos pensar. Paul Dudley, procurador-geral da colônia de Massachusetts, lamentava, no começo do século XVIII, "que as pessoas...exagerem nas circunstâncias, em suas compras, casas, despesas, roupas e no geral do padrão de vida".
De forma mais positiva, os americanos continuaram mostrando um entusiasmo por unir grupos - de suas igrejas à Elks Fraternity, e mais recentemente os clubes do livro e sites de discussões pela internet -, uma tendência que impressionou Alexis de Tocqueville, o pensador político francês, quando este visitou a América na década de 1830.
Isso, afirma Fischer, aponta não para o individualismo ao estilo John Wayne, popularmente visto como um atributo tipicamente americano, mas sim para a própria característica voluntarista dos americanos. Ao contrário dos europeus, cujas identidades grupais eram determinadas pelo parentesco ou pela religião, os americanos, dos primeiros colonizadores em diante, podiam escolher se definir pelos grupos de que participavam. Os primeiros colonos formulavam consensualmente suas próprias regras, contratos de assentamento e comprometimento com grupos religiosos, e tinham o direito de deixar uma comunidade para entrar em outra. Esse voluntarismo americano aumentou de forma constante nos séculos seguintes.
Fischer também derruba certos mitos. Mais americanos vão hoje à igreja do que no século XVIII. Os níveis de comparecimento às urnas, em torno de 50%, podem estar abaixo dos picos registrados nas décadas de 1880 e 1890, mas permanecem em grande parte inalterados desde o princípio do século XX. Em resumo, o americano moderno é mais seguro, tanto fisica como financeiramente; as mulheres têm uma probabilidade menor de serem agredidas nas ruas e os homens uma probabilidade menor de se envolverem em brigas de bar do que seus antepassados.
Mas no geral, conclui Fischer, os americanos são mais felizes por serem mais americanos: "Não fosse pelas ansiedades que acompanham a liberdade que as pessoas têm de serem o que quiserem, as contas da felicidade teriam detectado um contentamento crescente."
"Made in America: A Social History of American Culture and Character"
Claude S. Fischer. University of Chicago Press. 528 págs., US$ 35
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Reportagem :Jonathan Birchall, Financial TimesFonte: http://www.valoronline.com.br/?impresso/investimentos/91/6299045/americanos-sao-assim-ha-mais-tempo-do-que-se-pensa
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