Entrevista - Geraldo Rondelli
Parapsicologia e trabalho pastoral. Quando a ciência e a religião se encontram favorecem o trabalho de evangelização e a unidade da Igreja. A conclusão é do parapsicólogo pós-graduado pelo Centro Latino-americano de Parapsicologia (Clap) e teólogo pela PUC Campinas, Geraldo Rondelli. Segundo ele, a libertação das superstições, dos medos e o crescimento de uma consciência crítica, capaz de discernir os verdadeiros valores do Reino, levam a uma vida de comunhão (não apenas sacramental). Para Rondelli a parapsicologia tem papel imprescindível no crescimento espiritual no contexto da cultura brasileira tão carregada de superstições e medos.
Graduado também em Filosofia e autor do livro: Renovação Carismática Católica: exposição e análise, lições e respostas do Clap, o entrevistado desta semana questiona a atribuição de fenômenos ao sobrenatural, contudo, não descarta a existência do maligno nem os milagres de Deus.
O que é parapsicologia e o que esta ciência pode acrescentar de positivo à ação pastoral da Igreja?
Por parapsicologia entende-se, conforme a concepção do Centro Latino Americano de Parapsicologia (CLAP), “o conjunto de todos os conhecimentos que interessam à análise do maravilhoso... adivinhações, movimentos de objetos sem contato (telecinésia), xenoglossias, pré-cognições, levitações e tantos outros prodígios tomados como pretensas possessões ou intervenções demoníacas...” (Cf. Pe. Quevedo, Antes que os demônios voltem, p.58). A Igreja para um eficaz e autêntico exercício da ação pastoral não pode prescindir da contribuição das ciências na elucidação dos fatos. Ela tem como missão anunciar o Evangelho para que todos cheguem ao conhecimento da verdade e tenham vida em plenitude. Com certeza, não se trata só da verdade revelada, mas também daquela que ao longo da história arduamente o homem vai desvelando por meio de estudos e pesquisas. Em se tratando de ação pastoral, a parapsicologia tem papel imprescindível, visto ser uma ciência que ajuda a esclarecer o verdadeiro significado de fenômenos que, histórica e culturalmente, sofreram graves distorções na interpretação, dando a fenômenos, puramente naturais, sentido religioso/sobrenatural.
Como lidar, no âmbito da parapsicologia, com o misticismo das pessoas?
A finalidade da parapsicologia, na concepção do CLAP, é elucidar os fatos que se apresentam como maravilhosos buscando suas verdadeiras causas para ajudar as pessoas a se libertarem de visões religiosas/místicas, supersticiosas e alienantes, desenvolvendo uma verdadeira espiritualidade cristã e libertadora. Para tanto, é preciso que os fenômenos tidos como sobrenaturais sejam estudados antes de serem interpretados e divulgados. A parapsicologia visa, portanto, ajudar no discernimento sobre o que é realmente sobrenatural (miraculoso) e o que é apenas paranormal.
A parapsicologia pode contribuir com o crescimento espiritual? De que maneira?
Entendendo por crescimento espiritual a libertação das superstições, dos medos e o crescimento de uma consciência crítica, capaz de discernir os verdadeiros valores do Reino como: justiça, solidariedade e, acima de tudo o amor a Deus condicionado ao amor ao próximo; isto levando a uma vida de comunhão (não apenas sacramental) a parapsicologia tem, em nossa cultura tão carregada de superstições e medos, papel imprescindível.
Qual o limite desta ciência para a explicação de situações que parecem ser sobrenaturais?
Ela investiga justamente fenômenos que, por não serem normais, parecem sobrenaturais, procurando, no caso do CLAP, esclarecer critérios para discernir os limites que permitem com segurança identificar quando um fenômeno é paranormal (natural, porém, à margem da normalidade) e quando é sobrenatural (milagre).
A parapsicologia consegue explicar fenômenos como, por exemplo, imagens que choram, casas que pegam fogo sem uma explicação lógica, objetos que são lançados contra pessoas e paredes por forças invisíveis?
Essa é a função da parapsicologia. Todos esses fenômenos citados já foram estudados por especialistas do CLAP e ficou esclarecido que se trata de problemas de fundo psicológico, que produzem alterações no inconsciente de pessoas relacionadas com tais situações. Esses casos se resolvem mediante tratamento psicológico especializado, dispensando, portanto, rituais religiosos exorcizantes. Aliás, quanto mais se insiste nos rituais religiosos mais se agravam os fenômenos.
Existem, realmente, espíritos malignos que têm poder de perturbar seres humanos ou há explicações para esses fenômenos na dimensão que conhecemos como natural?
O que se pode afirmar a esse respeito é que inúmeros fenômenos que são atribuídos a espíritos malignos são explicados cientificamente de forma clara e convincente. Não se trata aqui de negar a existência de espíritos malignos e sim de não atribuir a eles fenômenos que têm, apesar de impressionantes e incomuns, causas naturais.
A Bíblia traz passagens que relatam a presença de demônios que acabam dominados por Jesus. Trata-se de linguagem figurada ou de fato eles existiam e ainda existem?
O uso da linguagem figurada é comum na Bíblia. O texto revelado é também fruto do contexto histórico e cultural do momento em que foi produzido. Quanto à palavra demônio, de origem grega e que só aparece no Novo Testamento, não é sinônimo de outros termos que comumente são utilizados para designar o espírito maligno, tais como: satanás, diabo, belzebul etc. como muito bem esclarece o padre Quevedo no seu livro Antes que os demônios voltem. Muitos fenômenos que os antigos atribuíam a forças espirituais, hoje são plenamente esclarecidos pela ciência. Não se trata de negar a possibilidade da existência de seres que são espirituais e malignos, mas sim de não atribuir a eles fenômenos cujas causas são naturais apesar de incomuns, melhor dizendo, paranormais.
E as religiões, principalmente as neopentecostais que, mesmo se dizendo cristãs, utilizam supostas possessões para atrair fiéis?
Os líderes neopentecostais, católicos ou evangélicos, têm o dever moral de estudar os fenômenos que atribuem a possessões diabólicas a partir dos dados oferecidos pelas ciências, em especial a parapsicologia. É criminoso omitir a verdade para preservar interesses religiosos e econômicos. A meu ver há no Brasil, em nome de uma equivocada leitura do direito de liberdade de culto, uma grosseira exploração da boa fé e da ignorância de uma grande parcela da população. É lamentável a omissão das autoridades neste sentido, tanto civis quanto religiosas.
Como se situa a prática do exorcismo, legitimado pela Igreja Católica neste contexto?
A Igreja Católica desde sua origem utilizou o exorcismo para combater o espírito maligno. Foi, no entanto, revendo conceitos ao longo da história e alterando normas relativas ao exorcismo ao longo dos séculos, acatando, coerentemente, as descobertas das ciências. Em 1999 o Vaticano divulgou o novo Ritual de Exorcismo, restringindo-o de tal forma que praticamente extingue a prática. Na ocasião o arcebispo de Campinas, dom Gilberto, declarou em uma entrevista ao jornal da cidade, que em 24 anos à frente da Arquidiocese, apenas uma vez havia autorizado um padre a fazer o exorcismo e o mesmo não ocorreu visto que o padre constatou tratar-se de problemas mentais e não de possessão diabólica.
Até que ponto a força mental de uma pessoa ou grupo de pessoas pode ter influência sobre determinado indivíduo ou mesmo interferir, por exemplo, em processos de cura?
De acordo com a parapsicologia nenhuma pessoa tem, consciente e intencionalmente, poder de influenciar a mente de outra. É possível, porém, que pessoas em estado alterado de consciência influenciem ou sejam influenciadas por outras em fenômenos conhecidos como contágio psíquico. Em ambientes carregados de emoção, com as pessoas fragilizadas e extremamente suscetíveis à sugestão (podem ser católicos, evangélicos ou espíritas) é comum indivíduos deixarem de sentir dores ou se libertarem de paralisias com causas emocionais que presumem serem doenças graves e até incuráveis. É possível também desaparecer os sintomas de doenças reais levando o doente a acreditar equivocadamente que foi curado.
A parapsicologia dispõe de instrumentos que contribuam com o equilíbrio do indivíduo, especialmente nos casos de paranormalidade?
Penso que a parapsicologia já tem dado uma contribuição muito importante orientando e subsidiando profissionais que trabalham na área da psiquiatria, da psicologia e da medicina, assim como tantas pessoas que atuam no campo pastoral da Igreja. Além disso, o CLAP possui especialistas para acompanhar pessoas que necessitam de tratamentos especiais.
Há terapias que atuam com eficiência também em casos comuns como os de ansiedade, problemas de autoestima, distúrbios ou transtornos? É possível o tratamento exclusivamente no nível do inconsciente?
Tais problemas são objetos de tratamentos psicológicos e psiquiátricos e, certamente há hoje muitas terapias que ajudam as pessoas superarem muitos desses problemas. O que falta é tornar esses excelentes serviços mais acessíveis à população. O alto custo geralmente inviabiliza o acesso da maioria. Quanto à parapsicologia, seu campo é mais específico; como já foi dito, são os fenômenos que fogem à normalidade. Quanto ao tratamento exclusivamente no nível do inconsciente penso que, embora a descoberta da importância do inconsciente seja um dado extremamente importante para o trabalho dos profissionais dessa área, é preciso tomar cuidado com exageros e mistificações.
_____________________________________Reportagem de: Mônica Bussinger Fonte: JORNAL DE OPINIÃO/BELO HORIZONTE – ED.1095 - 07 a 13/06/2010 - Pág. 4 e 5
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