domingo, 13 de junho de 2010

A subjetividade do amor

Cleto Brasileiro Pontes*

É verdade que as formas de amar são múltiplas. Da perfeita idealização à paixão acendrada, o Eros se confunde simetricamente com o Thanatos.

O significado do amor foi cultivado durante séculos entre os claustros e muros dos mosteiros. Era o amor direcionado a Deus. Não era carnal e sim, espiritual. O seu embrião talvez tenha surgido no momento de auto-reflexão em que o ser humano gerou uma dor fundamental, mãe de dois sentimentos, o de solidão e o de orfandade. Ambos sentimentos, desde então, perseguem a humanidade.

Poucos foram os monges existentes e muitos os mundanos. Fica difícil acreditar que fomos gerados à imagem e semelhança do criador. Assemelhamos-nos mais aos nossos ascendentes, os primatas. A mitologia grega é rica em sabedoria nesse sentido. Os arquétipos dos Centauros e Minotauros, periodicamente, tornam-se ricos em significados. Dados estatísticos encontrados pelo pesquisador N. Cousins, acusam mais de 14.530 guerras desencadeadas pelo homem de 3.600 anos antes da era cristã até os nossos dias e que o número de mortos supera ao de habitantes do planeta atualmente. Ideologias, religiões, petróleo e money, são máscaras do diabo que se confundem legitimando nossa irracionalidade.

Tudo indica que o amor a Deus será para milênios e entre humanos continuará apenas como uma promessa de futuro incerto. A racionalidade valorizada pelo antropocentrismo no momento em que o homem buscou se impor à luz da razão, aumentou ainda mais o ódio que habitava no coração do homem, tornando-se um apaixonado pelas coisas da terra. Enquanto R. Descartes via castelos, catedrais e outras formas geométricas dentro de si, justificando a sua existência em termos de saber, os mundanos viam ouro e terra que alimentavam sua ganância pelo poder. Muitos séculos já se passaram e cada vez mais fica difícil acreditar na possibilidade de que um dia nutriremos um amor sem ambiguidade em relação a nós mesmos e aos outros. Quem não tem poder almeja e quem tem, deseja mais.

A violência ocupa as primeiras páginas dos jornais e quanto à vida a dois, o amor romântico passou a ser algo além de insalubre, de alta periculosidade.

Se do ponto de vista antropológico, o psiquismo é o cultural introjectado, urge uma reflexão sobre o porquê nos dias de hoje, o Thanatos vir se impondo virulentamente e ofuscando o valor do Eros.

Recomendo a leitura do livro “A arte de amar” do psicanalista Erich Fromm, pois amar não é uma coisa fácil. Segundo Fromm, a capacidade de amar só se adquire plenamente na madurez pessoal. Vale a reflexão no Dia dos Namorados que transcorreu ontem, 12 de junho, onde o comércio toma conta do sentimento do homem e desvirtua o sentido de amar.
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*Psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina da UFC

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