quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A Voyager e a humanidade

Roberto Malvezzi (Gogó)*

Em foto da Voyager I,
 a Terra é um minúsculo ponto, distante 6.4 bilhões de quilômetros,
no meio de um raio solar,
circulado em azul.
Foto na Wikipédia

[Ecodebate] Pela primeira vez na história da humanidade, um objeto fabricado por seres humano transporá os limites do sistema solar e mergulhará no espaço interestelar. Em cinco anos a Voyager I cruzará a bolha do sol que abriga nossos planetas. Em mais alguns anos será a Voyager II, que segue seus rastros. Um feito grandioso que parece não chamar a atenção da própria humanidade.

Uma das fotos mais impressionantes da espaçonave é justamente a que fez de nosso planeta. Em um determinado momento, há mais de 10 bilhões de quilômetros, ela voltou sua câmara e fotografou a própria Terra. Apenas um pontinho azul perdido entre bilhões de galáxias.

Nossa velha Terra segue locupletada de seres humanos, predadores vorazes que pouco enxergam seu lugar no espaço, as diminutas dimensões de seu planeta, que seguem com um consumo voraz das riquezas naturais, que fecham os olhos para as injustiças e crueldades dentro da própria sociedade humana.

Muitos já estão perdendo a esperança, o ser humano parece irremediavelmente perdido em sua aventura na Terra. Esses dias, Steven Hawking parece ter desistido da humanidade e do planeta Terra. Segundo ele, diante das guerras, do número de pessoas, da destruição ambiental provocada pelo ser humano, nossa única saída é o espaço. E teríamos que começar logo, no máximo em cem anos.

É preciso lembrar que não há saída para todos. Caso consigamos sair, será para poucos, como uma aventura espacial, como um passeio em uma Voyager, não como solução para a humanidade. A humanidade não desistirá de escapar de seu confinamento terráqueo, mas não como solução imediata, muito menos para toda a humanidade.

“...a humanidade não é suicida.
Na hora oportuna vai reagir”.

Casaldáliga

Enquanto a Voyager 1 vasculha o universo, bilhões morrem de sede e fome, confinados em sua comunidade, sem espaço sequer para sobreviver. Hoje já se pensa mais na “sobrevivência da espécie humana” que na sobrevivência de pessoas humanas. Avançamos até ao reconhecimento dos direitos da pessoa humana, mas parece que eles poderão ser rapidamente abandonados, inclusive nominalmente, quanto mais na sua efetivação prática.

Por isso, para “sonhar com os pés no chão, mesmo olhando o universo pelas lentes da Voyager”, prefiro a sabedoria de nosso velho profeta das margens do Araguaia. Um dia, conversando sobre o futuro humano na Terra, Casaldáliga observou: “a humanidade não é suicida. Na hora oportuna vai reagir”.

Impossível saber quem está certo. A única certeza é que temos que fazer agora o que agora nos cabe fazer.
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*Roberto Malvezzi (Gogó), Assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT, é colunista do EcoDebate.
Fonte: EcoDebate, 12/08/2010

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