quinta-feira, 3 de maio de 2012

Os novos gestores de mídias sociais


Silvia Costanti/Valor / Silvia Costanti/Valor

Aleksey Stivanin, 39, diretor comercial da Predicta Digital, consultoria em comunicação e inteligência na internet, tem 20 anos de experiência na área de vendas 

As mídias sociais estão virando assunto de gente grande. Quando as plataformas on-line ganharam espaço, as empresas correram para contratar jovens executivos, familiarizados com as novas tecnologias, e marcar território no mundo virtual. Agora, as diretorias perceberam que a área conquistou contornos estratégicos e precisa de gestores mais maduros e experientes, aptos a zelar pela imagem da marca diante de consumidores e clientes.
A chamada seniorização dos gestores de mídias sociais acontece em setores com forte presença na internet e as agências digitais - contratadas por grandes clientes para cuidar dos ambientes virtuais - também garimpam esse novo profissional. Para especialistas, os currículos mais atraentes estão nas áreas de marketing, comunicação e publicidade, com características de liderança, experiência em cargo similar acima de dois anos e focados em resultados. Além disso, é preciso ter conhecer bem os produtos da marca e o mercado no qual ela está inserida.
Para César Paz, presidente da Associação Brasileira das Agências Digitais (Abradi), que reúne 350 empresas, a nova cara do gestor de mídias sociais faz parte da evolução do mercado. Segundo ele, a mudança é puxada pela importância que o mundo on-line representa hoje para as grandes marcas. "Empresas das indústrias de automóveis, material esportivo, moda e do setor financeiro estão na vanguarda das novas contratações", explica.
De acordo com Paz, o executivo mais experiente é capaz de entender o valor das redes, organizar melhor a presença do cliente na web, além de criar indicadores de performance. Aos 32 anos, o jornalista Renato Mendes já havia acumulado know-how suficiente para assumir a gerência de comunicação corporativa do site de e-commerce Netshoes que, em 2011, iniciou operações na Argentina e México. Contratado no ano passado, Mendes foi diretor da unidade de mídias digitais e redes sociais do grupo Máquina PR, de relações públicas. "Com um trabalho criativo, podemos aproveitar o ambiente colaborativo para criar vínculos duradouros com os clientes", diz. Um de seus primeiros projetos foi medir, em tempo real, a satisfação dos consumidores em lançamentos de produtos e serviços. "Essa proximidade se traduz em ganho de receita. O usuário passa mais tempo no site da marca e também compra mais", afirma.
Por um tempo, de acordo com Mendes, acreditou-se que a área deveria ser coordenada por executivos da geração Y, definição dada aos nascidos a partir de 1978. A justificativa era uma suposta experiência desse público como usuário permanente dos ambientes virtuais. "Hoje, está claro que o segmento é estratégico para as companhias e deve ser gerido por profissionais mais experientes", explica. A dificuldade é que as redes sociais são relativamente novas e não há muita gente qualificada no mercado. "Mas os talentos que atuam em nichos relacionados à comunicação podem se adaptar ao trabalho."
Para Andreza Santana, gerente de marketing sênior do site Monster Brasil, da área de recrutamento e gerenciamento de carreiras on-line, as empresas querem profissionais que compreendam a visão estratégica da organização. "Quem apostou no amadorismo está pagando caro. Qualquer erro, como uma mensagem mal interpretada, pode causar prejuízos à marca", diz. Para ela, maturidade profissional independe do ano de nascimento. "É preciso ter comprometimento com a organização, jogo de cintura e vivência em situações de crise". No Monster, os executivos que fazem a coordenação dos projetos nas redes digitais têm entre 25 e 45 anos de idade.
Envolvido profissionalmente com internet desde 2005, Celso Fortes, 41 anos, é diretor de criação da agência Novos Elementos, no Rio de Janeiro, de gestão de conteúdo digital. Ex-executivo da gravadora Universal, também edita sites sobre serviços da cidade e mantém um blog com mais de oito mil seguidores. "A diferença entre um gestor experiente e um jovem é o foco", afirma. "Sabemos traçar um plano de ação, com metas bem definidas. Já os mais novos costumam estar sempre à procura de melhores ferramentas de interatividade."
Na Cypress, assessoria financeira com atuação em fusões e aquisições, a área de mídias sociais foi criada no ano passado. Tem cinco funcionários, com uma média de idade de 35 anos. "Para promover a aproximação do público a temas ligados ao nosso negócio, buscamos pessoas que sabiam transitar na internet, mas que entendessem peculiaridades do setor financeiro", diz o diretor-presidente Luiz Felipe Alves. Além de um perfil especializado, Alves exigiu mais iniciativa da nova equipe. "O responsável deve conduzir uma imersão da organização nas plataformas sociais". Desse modo, o executivo selecionou candidatos que já haviam trabalhado com clientes do mercado financeiro e que circulavam bem entre corporações de grande porte.
Para Carlos Vidigal, CEO da Cíclope Treinamentos e Consultoria, o ideal é que o gestor consiga analisar as demandas das mídias sociais para trazer informações que se transformem em oportunidades de negócio e aumento da receita. "É preciso ter habilidade analítica e saber como as novidades on-line podem melhorar o relacionamento da organização com o cliente."
O especialista acredita que os profissionais da geração X, nascidos nas décadas de 1960 e 1970, têm uma relação de curiosidade e empatia com as redes sociais. "Isso pode render melhores análises no ambiente de trabalho e mais poder de tomar decisões racionais." Já os candidatos nascidos nos anos 1980 e 1990 mantêm uma relação de "necessidade" com as mídias on-line, com atitudes pautadas na intuição.
Outra vantagem apontada por Vidigal nos currículos mais extensos são as habilidades de liderança já desenvolvidas, com reflexos positivos no andamento de tarefas e na redução de custos de capacitação para o empregador. É caso de Aleksey Stivanin, de 39 anos, diretor comercial da Predicta Digital, empresa de consultoria em comunicação e inteligência na internet, ligada ao Grupo RBS. Formado em administração e com MBA em marketing, o executivo foi contratado em março, depois de apresentar alguns projetos para a direção. Com mais de 20 anos de experiência em vendas, passou por Credicard, P&G e Terra Networks, onde participou da criação e desenvolvimento da publicidade virtual da companhia.
"A maioria dos clientes fala de monitoramento on-line, para captar o que estão comentando sobre seus produtos", diz. "Mas as novas exigências são para gerar ideias e mudanças concretas, a partir de informações coletadas na web". Para Stivanin, executivos com mais quilometragem no mercado são capazes de indicar a melhor forma de explorar as redes sociais, de acordo com a atividade das organizações. "É um trabalho sem modismos e com foco na melhoria da eficiência dos investimentos", afirma. "Para um profissional nesse estágio de carreira, espera-se que ele seja capaz de apontar novos rumos para o negócio, principalmente em mercados dinâmicos como comunicação e tecnologia."
De acordo com Patricia Toddai, da ToddaiCOM, especializada em comunicação empresarial e gestão de conteúdos, é possível unir executivos experientes e jovens talentos em um projeto. "A diferença está na resposta às estratégias. Os mais novos ganham na agilidade, mas os maduros têm vivência e cautela, características necessárias ao setor."
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Reportagem Por Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo
Fonte: Valor Econômico on line, 03/05/2012

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