Eleitores norte-americanos deram mais um voto de confiança a Barack Obama
(Reprodução/NYT)
Analistas políticos comentam a vitória de Obama e revelam os maiores desafios que o presidente reeleito terá de enfrentar a partir de 2013
A aposta arriscada que pavimentou a vitória de Obama seis meses atrás
Em um domingo de maio, Jim Messina, o gerente de campanha para a
reeleição de Barack Obama foi até o presidente, juntamente com seus
principais conselheiros, e propôs uma estratégia pouco ortodoxa. A
campanha, segundo ele, deveria investir muito, começando imediatamente,
em anúncios detonando o candidato republicano Mitt Romney.
A ideia, explicou Messina ao presidente em uma apresentação de
PowerPoint no Salão Roosevelt da Casa Branca, era moldar impressões dos
eleitores com uma despesa pesada antes de Romney ter dinheiro
suficiente para fazê-lo por si mesmo. O plano desafiava a sabedoria
convencional, que diz que uma campanha deve começar devagar, com uma
mensagem positiva e poupar dinheiro para ataques contundentes na reta
final. O plano poderia deixar o presidente exposto no final da campanha.
“Se isso não funcionar, nós não teremos dinheiro suficiente para um
plano B mais tarde”, disse Messina, de acordo com pessoas presentes na
reunião.
O presidente deu a sua aprovação. E dentro de algumas semanas a
campanha de Obama começou atirando, numa ofensiva radical no final da
primavera, forçando Romney a rebater acusações sobre seu currículo
empresarial e suas finanças pessoais ao invés de se preocupar em fazer o
presidente defender o seu primeiro mandato.
Obama venceu a batalha da reeleição em meio a persistentes
preocupações econômicas, em grande parte, devido à aposta de Messina de
atacar Romney cedo na disputa.
O sucesso do presidente Obama
A dramática vitória do presidente Barack Obama não é um sinal de que a
nação fraturada finalmente se uniu no dia da eleição. Mas foi um forte
endosso de políticas econômicas que se concentram na criação de
empregos, na reforma do sistema de saúde, em aumentos de impostos e numa
equilibrada redução do déficit – além de políticas moderadas sobre o
aborto, imigração e o casamento gay. Foi também um repúdio da era
Reagan, que focava em cortes de impostos, políticas de intolerância,
medo e desinformação.
A vitória do presidente dependia fortemente dos estados do
Centro-Oeste, como Ohio, onde o resgate da indústria automobilística –
que Obama orquestrou e Romney criticou – provou muito popular pelo
simples motivo de que funcionou.
De uma forma mais ampla, os eleitores do Centro-Oeste parecem ter
endossado o argumento do presidente de que o governo deve exercer um
papel significativo na criação de empregos no setor privado e no
direcionamento da economia. Eles rejeitaram a posição de Romney de que
Washington deveria simplesmente ficar de fora desses assuntos e deixar o
mercado trabalhar à revelia.
A última tentativa dos republicanos de conquistar o estado da
Pensilvânia, sublinhando o desemprego no estado, foi um fracasso lá e em
outros lugares também. A maioria dos eleitores que disse que o
desemprego era uma questão importante nas eleições, votou em Obama.
…
Ainda assim, a vitória de Obama não mostrou um país unido. Os
norte-americanos ricos apoiaram Romney, enquanto os norte-americanos
mais pobres votaram em Obama. Há também divisões claras entre os
eleitores por sexo, idade, raça e religião.
Os negros e hispânicos apoiaram maciçamente Obama. Homens brancos
votaram em Romney: ele conquistou aqueles que disseram que se opõem ao
casamento gay, ao aborto e que favorecem a deportação em massa de
imigrantes ilegais. Nenhuma dessas posições têm uma maioria no país
atualmente.
Precisamos de um pouco de medo
Os eleitores norte-americanos deram o seu veredito e reelegeram
Barack Obama. Então, o que acontece agora? Como será que um país tão
dividido enfrentará suas crescentes ameaças e desafios?
Um provérbio beduíno diz: “Eu contra o meu irmão, meus irmãos e eu
contra meus primos, meus primos e eu contra estranhos”. Os seres
humanos são muito bons em unir forças para lutar contra um inimigo em
comum. A eleição presidencial norte-americana concentrou a atenção do
país em um único embate: partido político contra partido político.
Seguindo a lógica dos beduínos, esse embate pode ser caracterizado como
“eu e meu irmão contra nosso primo.” Mas, passada essa fase, é hora de o
país se unir para lutar contra as muitas ameaças e inimigos que o
confronta dentro e fora de suas fronteiras.
O problema é que os EUA não se uniram há quatro anos, quando as
coisas pareciam ainda mais sombrias, e não há nenhum sinal de que irão
fazê-lo agora. Desde os anos 1990 o país trava uma cega batalha de
partido contra partido. Partidarismo não é uma coisa ruim em si, mas
quando muitos líderes não conseguem, ocasionalmente, colocar o interesse
nacional antes dos interesses do partido, cria-se o hiperpartidarismo,
que é nocivo.
O que precisa ser feito para que o país supere a briga entre primos?
Uma maneira é se concentrar em ameaças comuns, e não em políticas
comuns, como sugere o provérbio beduíno. Um ataque protagonizado por
estranhos – como Pearl Harbor ou o 11 de Setembro – une as pessoas como
nenhuma outra causa. Mas e se não houver tal ameaça? A rivalidade
monetária com a China teria o mesmo efeito? Que tal uma ameaça criada
pelos próprios norte-americanos, como o déficit ou a crise da imigração?
Esperança e Mudança, Parte II
Em outubro de 2010, o senador Mitch McConnell, líder republicano, famosamente disse ao National Journal,
“A coisa mais importante que queremos alcançar é que Obama seja um
presidente de um mandato só.” E foi assim que ele e seu partido agiram
durante os últimos quatro anos.
Ninguém conhece ao certo a complexa química emocional que
desequilibrou a balança em favor da reeleição de Barack Obama, mas aqui
vai o meu palpite: no final das contas, a maioria dos norte-americanos
acredita que, apesar dos seus defeitos, Obama deu o seu melhor para
consertar os problemas do país, e ele teve que fazer isso com um Partido
Republicano que não estava disposto a negociar com ele, mas que, muito
pelo contrário, queria vê-lo fracassar, para que algum candidato
republicano pudesse juntar os cacos nesta eleição. Até hoje, eu acho a
declaração de McConnell terrível. Considere todos os problemas
enfrentados pelo país ao longo dos últimos quatro anos – da dívida
interna ao desemprego, da mudança climática ao terrorismo – e, em
seguida, relembre a afirmação do senador McConnell: “A única coisa mais
importante que queremos alcançar é que Obama seja presidente de um
mandato só. ”
Esse tipo de pensamento, na minha visão, é o que fez toda a diferença
nesta eleição. O Partido Republicano perdeu a eleição que, dado o atual
estado da economia, poderia ter vencido. Perdeu por causa do excesso de
cinismo, da falta de novas ideias e de uma abundância de ideias
realmente ruins – sobre imigração, clima, empregos, aborto e outras
questões sociais.
Parece que muitos norte-americanos foram às urnas sem muito
entusiasmo pelos candidatos, no entanto, com uma ideia clara de quem
preferiam. A maioria parecia estar dizendo a Obama: “Você não entendeu
bem a sua primeira oportunidade, mas nós vamos dar-lhe uma segunda
chance”. De certa forma, eles votaram pela “esperança e mudança”
novamente. Não acho que os votos de Obama representam a ratificação da
sua reforma do sistema de saúde ou qualquer outra iniciativa específica.
Foi mais um voto pelo personagem Obama. Os eleitores disseram: “Nós
vemos que você está tentando. Agora tente ainda mais. Aprenda com seus
erros. Estenda a mão para o outro lado, mesmo que eles afastem a sua
mão, e foque como um laser na economia, para aqueles de nós que votaram
em você hoje, sem muito entusiasmo, poderem se sentir bem sobre esta
votação “.
E é por isso que a vitória de Obama é tão devastadora para o Partido
Republicano. Os republicanos perderam duas eleições presidenciais
consecutivas porque forçaram o seu candidato a dar uma guinada tão
radical para a direita para sobreviver as primárias, dominadas por sua
base ultraconservadora, que Mitt Romney não poderia chegar perto o
suficiente do centro em tempo para vencer uma eleição nacional.
Vitória de Obama levanta questões para os republicanos
Obama disse a simpatizantes em Chicago que ele tinha ouvido o chamado
dos eleitores para superar o impasse partidário em Washington. Ele saiu
do seu caminho para conquistar republicanos, com quem ele precisará
chegar a um acordo para evitar cortes de gastos e aumentos de impostos
automáticos que ameaçam empurrar o país de um penhasco fiscal no próximo
ano. Ele até prometeu se reunir com Mitt Romney para discutir ideias
para consertar a economia. Obama prometeu em seu discurso de vitória:
“Continuamos sendo mais do que uma coleção de estados vermelhos e azuis,
somos e permaneceremos para sempre os Estados Unidos.”
….
Mas os republicanos não podem escapar de um acerto de contas diante
dos presságios demográficos revelados pela eleição. Os brancos
representam apenas 72% do eleitorado em 2012, de acordo com uma sondagem
da CNN. Romney ganhou esse grupo (especialmente os homens brancos), bem
como as pessoas idosas, por margens substanciais. Mas isso não foi o
suficiente para derrotar a coalizão de Obama de jovens, mulheres
(especialmente as mulheres solteiras e formadas em universidades),
negros e hispânicos, acima de tudo.
Alguma cautela é necessária. O voto latino é atualmente decisivo em
apenas um punhado de estados, como Novo México, Nevada e Colorado. Mas
hispânicos são o grupo que mais cresce nos EUA, e os republicanos ainda
têm de apreender como conquistá-los. Durante as primárias da base, o
partido forçou Romney a virar para a direita na questão da imigração.
Qualquer coisa que cheire a anistia para imigrantes ilegais é um anátema
para os conservadores. No entanto, uma pesquisa da CNN mostrou que dois
terços dos norte-americanos apoiam oferecer aos imigrantes ilegais um
caminho para a obtenção do visto de permanência ou cidadania.
Uma fantasia liberal
O recém-eleito Senado, controlado pelos democratas, deve ser muito
mais liberal do que o que substitui. Isso, por sua vez, poderia liberar o
presidente para nomear os tipos de juízes que ele quer ver na Suprema
Corte sem se preocupar com a constante obstrução de senadores
republicanos.
Isso também pode fortalecer os democratas do Senado em questões sobre
aumento de impostos e orçamentos, encurralando a Câmara dos
Representantes, que ainda estará sob o controle dos republicanos. A
Câmara ainda deve rejeitar qualquer reforma fiscal, regulamentação
ambiental, leis de financiamento de campanha, entre outras questões, mas
com o Senado e a Casa Branca controlados por democratas, e portanto
mais alinhados, os democratas mais liberais podem conseguir avançar uma
agenda política com muito mais vigor do que no primeiro mandato de
Obama.
Um país dividido
Barack Obama acaba de ganhar a reeleição, mas os EUA continuam um
país amargamente dividido, como tem sido por mais de uma década. A
divisão é, simultaneamente, muito estreita, em termos numéricos, e
escancarada em termos ideológicos, ou partidários. Isto é o que mais
impressiona, principalmente para quem observa à distância: o país parece
repetidamente envolvido em selvagens disputas eleitorais que culminam
em resultados apertados de 51 contra 49 e está cada vez mais paralisado
pelo rancor irresolúvel entre direita e esquerda.
Pense sobre isso por um segundo: é bizarro. Se os norte-americanos
estão, de fato, extremamente divididos entre duas diferentes ideologias
políticas, seria uma coincidência extraordinária se cada uma dessas
filosofias estivesse conseguindo manter a fidelidade de blocos quase
iguais de apoio. Essa situação não deve ser sustentável. A adesão a
estas duas ideologias deve mudar bastante apenas devido à demografia,e a
divisão de 50 de um lado e 50 do outro deve se deteriorar. Mas a
questão é que a divisão parece estável. O que está acontecendo?
Para colocar isso de outra forma, é perfeitamente lógico obter uma
divisão de 50 contra 50 em um país onde dois partidos políticos
relativamente compatíveis estão competindo por votos centristas. Em um
sistema regido pela lógica do eleitor mediano, seria de se esperar que
os partidos convergissem politicamente para ganhar a fidelidade dos
eleitores no centro. Talvez seja isso o que aconteça nos EUA na maioria
dos temas políticos. Argumentos realistas sobre políticas específicas
são realizados em um terreno relativamente estreito: são argumentos
sobre uma taxa de imposto de 35% ou 39,6%, sobre um sistema de seguro de
saúde com cobertura garantida para condições pré-existentes, mas com ou
sem a cobertura para todos, e assim por diante. Mas, em termos
ideológicos, não é isso que a divisão política aparenta. Republicanos
interpretam as posições democratas sobre estas questões como socialismo e
como uma ameaça do declínio internacional dos EUA. Democratas
interpretam as posições republicanas como o darwinismo social e o
imperialismo militante. Como chegamos a uma população dividida entre
essas estruturas de crenças radicais?
Minha opinião é que a divisão partidária básica, estável, estreita e
amarga nos Estados Unidos é um fenômeno impulsionado por uma interação
entre dois grandes jogadores: os próprios partidos e os meios de
comunicação. Os partidos políticos têm alcançado um nível impressionante
de profissionalismo, a disponibilidade crescente de dados e
estatísticas sobre as preferências do eleitorado e a sofisticação
crescente das técnicas de recrutamento na era da tecnologia da
informação resultam em convergências entre as suas habilidades para
proteger sua base eleitoral. A mídia, por sua vez, e isso deve continuar
a ser repetido, é esmagadoramente inclinada à produção de emocionantes
disputas políticas. Tratar a eleição como uma corrida de cavalos dá os
meios de comunicação a capacidade coletiva de moldar o tipo de narrativa
que torna a cobertura empolgante. A crescente interação entre meios de
comunicação e mídias sociais parece apenas ter exacerbado essa
tendência: os dois meios de comunicação e seus colaboradores são
recompensados por caracterizações acentuadamente polarizadas. Estamos
vendo a segmentação do mercado da mídia em que um número de emissoras e
veículos têm interesse em manter os segmentos do eleitorado em tamanhos
iguais.
O verdadeiro teste dos EUA começa agora
O presidente Barack Obama enfrenta um teste imediato de liderança,
não apenas para superar as divisões entre democratas e republicanos, que
em grande parte paralisa Washington. O maior desafio é como reacender o
espírito de otimismo em uma nação abatida pela crise financeira global.
“O que os EUA precisam agora é de confiança”, disse um CEO de Wall
Street. “Todos os ingredientes estão no lugar para uma recuperação, mas
precisamos de previsibilidade e de liderança executiva forte”.
A eleição deste ano será lembrada como um referendo sobre a gestão
econômica, se não toda uma filosofia de governo. Tendo herdado uma
economia em crise, Obama rejeitou cortes de impostos regressivos e a
desregulamentação e recorreu a empréstimos do governo e à intervenção
estatal em um nível não visto desde 1930. Como Franklin Roosevelt, Obama
tentou salvar o capitalismo de si mesmo.
Quatro anos depois, os preços dos imóveis têm parado de cair e o
consumidor norte-americano está gastando de novo. Mas apesar de um
aumento de 13,6% no índice S&P do mercado de ações, o otimismo dos
investidores está em baixa e eles estão gastando menos.
Por alguns
cálculos, as empresas norte-americanas têm US $ 1,7 trilhões em seus
balanços à espera de bons investimentos.
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Fonte: http://opiniaoenoticia.com.br/internacional/leia-trechos-dos-melhores-artigos-de-opiniao-sobre-as-eleicoes-nos-eua/
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