quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Leia trechos dos melhores artigos de opinião sobre as eleições nos EUA

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 Eleitores norte-americanos deram mais um voto de confiança a Barack Obama 
(Reprodução/NYT)

Analistas políticos comentam a vitória de Obama e revelam os maiores desafios que o presidente reeleito terá de enfrentar a partir de 2013


A aposta arriscada que pavimentou a vitória de Obama seis meses atrás
Em um domingo de maio, Jim Messina, o gerente de campanha para a reeleição de Barack Obama  foi até o presidente, juntamente com seus principais conselheiros, e propôs uma estratégia pouco ortodoxa. A campanha, segundo ele, deveria investir muito, começando imediatamente, em anúncios detonando o candidato republicano Mitt Romney.

A ideia, explicou Messina ao presidente em uma apresentação de PowerPoint no Salão Roosevelt da Casa Branca, era moldar impressões dos eleitores com uma despesa pesada antes de Romney ter  dinheiro suficiente para fazê-lo por si mesmo. O plano desafiava a sabedoria convencional, que diz que uma campanha deve começar devagar, com uma mensagem positiva e poupar dinheiro para ataques contundentes na reta final. O plano poderia deixar o presidente exposto no final da campanha.

“Se isso não funcionar, nós não teremos dinheiro suficiente para um plano B mais tarde”, disse Messina, de acordo com pessoas presentes na reunião.

O presidente deu a sua aprovação. E dentro de algumas semanas a campanha de Obama começou atirando, numa ofensiva radical no final da primavera, forçando Romney a rebater acusações sobre seu currículo empresarial e suas finanças pessoais ao invés de se preocupar em fazer o presidente defender o seu primeiro mandato.

Obama venceu a batalha da reeleição em meio a persistentes preocupações econômicas, em grande parte, devido à aposta de Messina de atacar Romney cedo na disputa.


O sucesso do presidente Obama
A dramática vitória do presidente Barack Obama não é um sinal de que a nação fraturada finalmente se uniu no dia da eleição. Mas foi um forte endosso de políticas econômicas que se concentram na criação de empregos, na reforma do sistema de saúde, em aumentos de impostos e numa equilibrada redução do déficit – além de políticas moderadas sobre o aborto, imigração e o casamento gay. Foi também um repúdio da era Reagan, que focava em cortes de impostos, políticas de intolerância, medo e desinformação.

A vitória do presidente dependia fortemente dos estados do Centro-Oeste, como Ohio, onde o resgate da indústria automobilística – que Obama orquestrou e Romney criticou – provou muito popular pelo simples motivo de que funcionou.

De uma forma mais ampla, os eleitores do Centro-Oeste parecem ter endossado o argumento do presidente de que o governo deve exercer um papel significativo na criação de empregos no setor privado e no direcionamento da economia. Eles rejeitaram a posição de Romney de que Washington deveria simplesmente ficar de fora desses assuntos e deixar o mercado trabalhar à revelia.

A última tentativa dos republicanos de conquistar o estado da Pensilvânia, sublinhando o desemprego no estado, foi um fracasso lá e em outros lugares também. A maioria dos eleitores que disse que o desemprego era uma questão importante nas eleições, votou em Obama.

Ainda assim, a vitória de Obama não mostrou um país unido. Os norte-americanos ricos apoiaram Romney, enquanto os norte-americanos mais pobres votaram em Obama. Há também divisões claras entre os eleitores por sexo, idade, raça e religião.
Os negros e hispânicos apoiaram maciçamente Obama. Homens brancos votaram em Romney:  ele conquistou aqueles que disseram que se opõem ao casamento gay, ao aborto e que favorecem a deportação em massa de imigrantes ilegais. Nenhuma dessas posições têm uma maioria no país atualmente.


Precisamos de um pouco de medo
Os eleitores norte-americanos deram o seu veredito e reelegeram Barack Obama. Então, o que acontece agora? Como será que um país tão dividido enfrentará suas crescentes ameaças e desafios?

Um provérbio beduíno diz: “Eu contra o meu irmão, meus irmãos e eu contra meus primos, meus primos e eu contra estranhos”.  Os seres humanos são muito bons em unir forças para lutar contra um inimigo em comum. A eleição presidencial norte-americana concentrou a atenção do país em um único embate: partido político contra partido político. Seguindo a lógica dos beduínos, esse embate pode ser caracterizado como “eu e meu irmão contra nosso primo.” Mas, passada essa fase, é hora de o país se unir para lutar contra as muitas ameaças e inimigos que o confronta dentro e fora de suas fronteiras.

O problema é que os EUA não se uniram há quatro anos, quando as coisas pareciam ainda mais sombrias, e não há nenhum sinal de que irão fazê-lo agora. Desde os anos 1990 o país trava uma cega batalha de partido contra partido. Partidarismo não é uma coisa ruim em si, mas quando muitos líderes não conseguem, ocasionalmente, colocar o interesse nacional antes dos interesses do partido, cria-se o hiperpartidarismo, que é nocivo.

O que precisa ser feito para que o país supere a briga entre primos? Uma maneira é se concentrar em ameaças comuns, e não em políticas comuns, como sugere o provérbio beduíno. Um ataque protagonizado por estranhos – como Pearl Harbor ou o 11 de Setembro – une as pessoas como nenhuma outra causa. Mas e se não houver tal ameaça? A rivalidade monetária com a China teria o mesmo efeito? Que tal uma ameaça criada pelos próprios norte-americanos, como o déficit ou a crise da imigração?


Esperança e Mudança, Parte II
Em outubro de 2010, o senador Mitch McConnell, líder republicano, famosamente disse ao National Journal, “A coisa mais importante que queremos alcançar é que Obama seja um presidente de um mandato só.” E foi assim que ele e seu partido agiram durante os últimos quatro anos.

Ninguém conhece ao certo a complexa química emocional que desequilibrou a balança em favor da reeleição de Barack Obama, mas aqui vai o meu palpite: no final das contas, a maioria dos norte-americanos acredita que, apesar dos seus defeitos, Obama deu o seu melhor para consertar os problemas do país, e ele teve que fazer isso com um Partido Republicano que não estava disposto a negociar com ele, mas que, muito pelo contrário, queria vê-lo fracassar, para que algum candidato republicano pudesse juntar os cacos nesta eleição. Até hoje, eu acho a declaração de McConnell terrível. Considere todos os problemas enfrentados pelo país ao longo dos últimos quatro anos – da dívida interna ao desemprego,  da mudança climática ao terrorismo – e, em seguida, relembre a afirmação do senador McConnell: “A única coisa mais importante que queremos alcançar é que Obama seja presidente de um mandato só. ”

Esse tipo de pensamento, na minha visão, é o que fez toda a diferença nesta eleição. O Partido Republicano perdeu a eleição que, dado o atual estado da economia, poderia ter vencido. Perdeu por causa do excesso de cinismo, da falta de novas ideias e de uma abundância de ideias realmente ruins – sobre imigração, clima, empregos, aborto e outras questões sociais.

Parece que muitos norte-americanos foram às urnas sem muito entusiasmo pelos candidatos, no entanto, com uma ideia clara de quem preferiam. A maioria parecia estar dizendo a Obama: “Você não entendeu bem a sua primeira oportunidade, mas nós vamos dar-lhe uma segunda chance”. De certa forma, eles votaram pela “esperança e mudança” novamente. Não acho que os votos de Obama representam a ratificação da sua reforma do sistema de saúde ou qualquer outra iniciativa específica. Foi mais um voto pelo personagem Obama. Os eleitores disseram: “Nós vemos que você está tentando. Agora tente ainda mais.  Aprenda com seus erros. Estenda a mão para o outro lado, mesmo que eles afastem a sua mão, e foque como um laser na economia, para aqueles de nós que votaram em você hoje, sem muito entusiasmo, poderem se sentir bem sobre esta votação “.

E é por isso que a vitória de Obama é tão devastadora para o Partido Republicano. Os republicanos perderam duas eleições presidenciais consecutivas porque forçaram o seu candidato a dar uma guinada tão radical para a direita para sobreviver as primárias, dominadas por sua base ultraconservadora, que Mitt Romney não poderia chegar perto o suficiente do centro em tempo para vencer uma eleição nacional.


Vitória de Obama levanta questões para os republicanos
Obama disse a simpatizantes em Chicago que ele tinha ouvido o chamado dos eleitores para superar o impasse partidário em Washington. Ele saiu do seu caminho para conquistar republicanos, com quem ele precisará chegar a um acordo para evitar cortes de gastos e aumentos de impostos automáticos que ameaçam empurrar o país de um penhasco fiscal no próximo ano. Ele até prometeu se reunir com Mitt Romney para discutir ideias para consertar a economia.  Obama prometeu em seu discurso de vitória: “Continuamos sendo mais do que uma coleção de estados vermelhos e azuis, somos e permaneceremos para sempre os Estados Unidos.”
….

Mas os republicanos não podem escapar de um acerto de contas diante dos presságios demográficos revelados pela eleição. Os brancos representam apenas 72% do eleitorado em 2012, de acordo com uma sondagem da CNN. Romney ganhou esse grupo (especialmente os homens brancos), bem como as pessoas idosas, por margens substanciais. Mas isso não foi o suficiente para derrotar a coalizão de Obama de jovens, mulheres (especialmente as mulheres solteiras e formadas em universidades), negros e hispânicos, acima de tudo.

Alguma cautela é necessária. O voto latino é atualmente decisivo em apenas um punhado de estados, como Novo México, Nevada e Colorado. Mas hispânicos são o grupo que mais cresce nos EUA, e os republicanos ainda têm de apreender como conquistá-los. Durante as primárias da base, o partido forçou Romney a virar para a direita na questão da imigração. Qualquer coisa que cheire a anistia para imigrantes ilegais é um anátema para os conservadores. No entanto, uma pesquisa da CNN mostrou que dois terços dos norte-americanos apoiam oferecer aos imigrantes ilegais um caminho para a obtenção do visto de permanência ou cidadania.


Uma fantasia liberal
O recém-eleito Senado, controlado pelos democratas, deve ser muito mais liberal do que o que substitui. Isso, por sua vez, poderia liberar o presidente para nomear os tipos de juízes que ele quer ver na Suprema Corte sem se preocupar com a constante obstrução de senadores republicanos.

Isso também pode fortalecer os democratas do Senado em questões sobre aumento de impostos e orçamentos, encurralando a Câmara dos Representantes, que ainda estará sob o controle dos republicanos. A Câmara ainda deve rejeitar qualquer reforma fiscal, regulamentação ambiental, leis de financiamento de campanha, entre outras questões, mas com o Senado e a Casa Branca controlados por democratas, e portanto mais alinhados, os democratas mais liberais podem conseguir avançar uma agenda política com muito mais vigor do que no primeiro mandato de Obama.


Um país dividido

Barack Obama acaba de ganhar a reeleição, mas os EUA continuam um país amargamente dividido, como tem sido por mais de uma década. A divisão é, simultaneamente, muito estreita, em termos numéricos, e escancarada em termos ideológicos, ou partidários. Isto é o que mais impressiona, principalmente para quem observa à distância: o país parece repetidamente envolvido em selvagens disputas eleitorais que culminam em resultados apertados de 51 contra 49 e está cada vez mais paralisado pelo rancor irresolúvel entre direita e esquerda.

Pense sobre isso por um segundo: é bizarro. Se os norte-americanos estão, de fato, extremamente divididos entre duas diferentes ideologias políticas, seria uma coincidência extraordinária se cada uma dessas filosofias estivesse conseguindo manter a fidelidade de blocos quase iguais de apoio. Essa situação não deve ser sustentável. A adesão a estas duas ideologias deve mudar bastante apenas devido à demografia,e  a divisão de 50 de um lado e 50 do outro deve se deteriorar. Mas a questão é que a divisão parece estável. O que está acontecendo?

Para colocar isso de outra forma, é perfeitamente lógico obter uma divisão de 50 contra 50 em um país onde dois partidos políticos relativamente compatíveis estão competindo por votos centristas. Em um sistema regido pela lógica do eleitor mediano, seria de se esperar que os partidos convergissem politicamente para ganhar a fidelidade dos eleitores no centro. Talvez seja isso o que aconteça nos EUA na maioria dos temas políticos. Argumentos realistas sobre políticas específicas são realizados em um terreno relativamente estreito: são argumentos sobre uma taxa de imposto de 35% ou 39,6%, sobre um sistema de seguro de saúde com cobertura garantida para condições pré-existentes, mas com ou sem a cobertura para todos, e assim por diante. Mas, em termos ideológicos, não é isso que a divisão política aparenta. Republicanos interpretam as posições democratas sobre estas questões como socialismo e como uma ameaça do declínio internacional dos EUA. Democratas interpretam as posições republicanas como o darwinismo social e o imperialismo militante. Como chegamos a uma população dividida entre essas estruturas de crenças radicais?

Minha opinião é que a divisão partidária básica, estável, estreita e amarga nos Estados Unidos é um fenômeno impulsionado por uma interação entre dois grandes jogadores: os próprios partidos e os meios de comunicação. Os partidos políticos têm alcançado um nível impressionante de profissionalismo, a disponibilidade crescente de dados e estatísticas sobre as preferências do eleitorado e a sofisticação crescente das técnicas de recrutamento na era da tecnologia da informação resultam em convergências entre as suas habilidades para proteger sua base eleitoral. A mídia, por sua vez, e isso deve continuar a ser repetido, é esmagadoramente inclinada à produção de emocionantes disputas políticas. Tratar a eleição como uma corrida de cavalos dá os meios de comunicação a capacidade coletiva de moldar o tipo de narrativa que torna a cobertura empolgante. A crescente interação entre meios de comunicação e mídias sociais parece apenas ter exacerbado essa tendência: os dois meios de comunicação e seus colaboradores são recompensados ​​por caracterizações acentuadamente polarizadas. Estamos vendo a segmentação do mercado da mídia em que um número de emissoras e veículos têm interesse em manter os segmentos do eleitorado em tamanhos iguais.


O verdadeiro teste dos EUA começa agora

O presidente Barack Obama enfrenta um teste imediato de liderança, não apenas para superar as divisões entre democratas e republicanos, que em grande parte paralisa Washington. O maior desafio é como reacender o espírito de otimismo em uma nação abatida pela crise financeira global.

“O que os EUA precisam agora é de confiança”, disse um CEO de Wall Street. “Todos os ingredientes estão no lugar para uma recuperação, mas precisamos de previsibilidade e de liderança executiva forte”.

A eleição deste ano será lembrada como um referendo sobre a gestão econômica, se não toda uma filosofia de governo. Tendo herdado uma economia em crise, Obama rejeitou cortes de impostos regressivos e a desregulamentação e recorreu a empréstimos do governo e à intervenção estatal em um nível não visto desde 1930. Como Franklin Roosevelt, Obama tentou salvar o capitalismo de si mesmo.

Quatro anos depois, os preços dos imóveis têm parado de cair e o consumidor norte-americano está gastando de novo. Mas apesar de um aumento de 13,6% no índice S&P do mercado de ações, o otimismo dos investidores está em baixa e eles estão gastando menos.

Por alguns cálculos, as empresas norte-americanas têm US $ 1,7 trilhões em seus balanços à espera de bons investimentos.
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Fonte:  http://opiniaoenoticia.com.br/internacional/leia-trechos-dos-melhores-artigos-de-opiniao-sobre-as-eleicoes-nos-eua/

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