Rafaela Werdan*
E a música? pra onde vai a música depois que nossos silenciosos
ouvidos abruptamente as engole como se em desespero quisessem aprender a
falar? Para onde vai a tristeza não chorada? E as milhares de cores que
os bebês enxergam nos primeiros meses de vida no mundo? Para onde vão
essas cores depois que esses bebês crescem e perdem a capacidade de
enxergar o mundo por conta própria? Para onde vai o prazer depois do
orgasmo? Vai para o sangue, pele, coração ou para as teorias de atração
da física quântica?
Para onde vai toda a gente na rua? Estão a andar em círculos? Para
onde vai a ideia errada depois de criada a ideia certa? Vai para a alma
da ideia certa e fica lá esperando para sair com o intuito de liberta-la
de suas certezas inflexíveis? Para onde vão as nuvens? Será que vão
para onde tempo está indo? E as escadas, afinal, servem para subir ou
para descer? Pra onde elas vão? Para onde vai o amor depois que acaba?
Que grande dúvida, o amor foi criado para durar pra sempre dizem os
homens, mas por que uma hora ele nos abandona? Pra onde ele vai? Será
que o vazio de todo o espaço ao nosso redor o engole? E os abraços que
nunca pudemos dar pra onde vão? Ficam presos em nossos braços causando
tensão nos ombros ou ficam eternamente debaixo de nossa perecível pele
tentando cobrir-se do frio do solitário mundo sem abraços?
Para onde vai a memória do humano depois que ele morre? Para onde os
insetos naturalmente querem ir? O que faz eles irem a algum lugar? O que
faz eles andarem ou pararem? O que faz com que eles queiram se
reproduzir, viver e morrer? Para onde vão os milhares de meteoros
nascidos da desconstrução de alguma fatigada matéria? Estarão condenados
a viajar sozinhos pelo vazio para todo o sempre? Quando o sempre
terminar onde terão chegado? Para onde iriam as teorias religiosas sobre
o paraíso se os homens conseguissem enxergar a magnitude dos mares,
flores, vulcões, sementes e mulheres bem aqui nesse mundo? Será que
finalmente chegariam ao paraíso sem ter que morrer para enxerga-lo de
olhos fechados?
Por que o universo me faz fazer tantas perguntas? Ele quer ser
desvendado antes de colidir com um outro universo e perder pra sempre a
identidade atual como um cérebro perde sua identidade para o Alzheimer?
Será que o universo quer ser salvo? Os cientistas dizem que ele está
avançando rápido, está sendo puxado, talvez contra a própria vontade... E
então pra onde estamos indo? Pra onde iriam o masculino e feminino se
finalmente se compreendessem por completo? Seus corpos se transformariam e virariam um só como no inicio dos tempos? Pra onde iria
o tempo se parássemos os relógios? Pra onde vai o Adeus depois do
último encontro? Será que ele senta em um banquinho escuro dentro da
alma e fica lá esperando que alguém o resgate dele mesmo?
Incrível como nada nem ninguém pode nos dar respostas para quase
todas essas perguntas. Nem o físico mais aplicado; nem o pastor mais
devoto; nem o pássaro mais livre; nem os amigos mais confiáveis; nem o
beijo mais amoroso; nem mesmo o confuso e esperto filósofo. Não há o que
fazer! Nesse momento só temos o ar livre utilizando de nosso corpo para
saber o que é prisão. Temos em nossa alma o vigor de uma estrela que
acabou de surgir mas que logo explodirá. Temos a memória como única
Deusa a ser idolatrada, pois sem ela não somos nada. E temos a
consciência da morte para que possamos desfrutar ao máximo o maior
milagre do universo: a vida! Uma vida cheia de ausências, e por isso
mesmo, infinita em possibilidades.
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* Rafaela exerce a função de web designer nas horas de realidade e nas horas de sonho desenha, escreve, fotografa e ouve pessoas.
Fonte: http://lounge.obviousmag.org/entre_ocio_e_sonhos/2012/11/06
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