Sabrina Nascimento*
Sabe-se que todos nós, de alguma forma, somos um pouco masoquistas.
Insistimos em escutar aquela música-dor-de-cotovelo para nos afundarmos
cada vez mais em nosso infinito buraco sem fundo, e quanto mais nadamos,
mais morremos aos poucos na praia. Vivemos inundados pelas nossas
lágrimas, cegos, egoístas, pensando que não há mais saída para os nossos
problemas e que o resto do mundo é apenas o resto, como se ele fosse
menor do que a nossa própria unha. Não nos damos conta de que perante
todo esse universo, nós somos realmente quase nada, somos grão de areia,
e que as nossas dores são relativamente insignificantes, vistas juntas
com todas as coisas que existem.
Às vezes a gente insiste em sonhar acordado com medo da realidade.
Parece sempre muito mais cômodo deixar as coisas como estão e continuar
iludido com o que poderia ser e não é.
Nós vivemos com medo de tentar tudo que seja novo, temos medo de
perder o que temos e acabarmos sem nada. O problema é que ninguém nasceu
pra viver de migalhas, nem a gente e nem ninguém.
Na verdade eu acho que nós nos acostumamos a viver nossa vida mais ou
menos, com altos e baixos, tristes, eventualmente felizes. Nos
ensinaram que a felicidade é feita apenas por momentos felizes, e nos
fizeram desistir de correr atrás dela. E então, a felicidade acabou
triste, jogada num canto do quarto enquanto nós, que estamos tristes,
espalhamos as nossas tristezas pelos quatro cantos do mundo. Afinal, de
que adianta ter voz se não pra desabafar, não é mesmo?
Então chega uma tarde qualquer de terça-feira, ensolarada, e você
está triste. O céu está lindo lá fora, e você não quer sair pra ver. O
cheiro das flores e o vento de primavera estão batendo na sua janela,
mas você está triste demais pra isso. A sua tristeza é muito mais
importante do que qualquer outra coisa que possa te deixar calmo e
feliz, não é mesmo? Somos maduros o suficiente para culpar todas as
pessoas pelos nossos problemas, não aprendemos que a culpa do que
acontece com a gente é exclusivamente nossa, ninguém pode tomar decisões
por nós, a menos que a gente deixe.
Sabe, de vez em quando a gente joga a toalha. Esquece de regar as
plantas, de arrumar os cabelos, de olhar pra dentro como se fossemos
humanos que sofrem, e sim, nós sofremos, faz parte da vida. A gente se
joga no chão e grita em silêncio esperando que alguém nos escute e que
lute por nós. Fechamos nossos olhos na esperança de sermos crianças
outra vez, queremos colo, queremos carinho. Mas somos adultos e estamos
sozinhos, aprendemos a limpar o rosto e levantar.
Pois é, ninguém disse que crescer seria uma tarefa fácil.
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* Sabrina Nascimento. 21 anos, gosta de livros, filmes, música e
fotografias. Estudante de design de moda, gosta de ocupar seu tempo
livre observando o mundo girar à sua volta.
Fonte: http://lounge.obviousmag.org/deixa_estar/2012/11/06
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