CLÁUDIO MORENO*
Para Ana
Desde menino, quando morava numa modesta aldeia alemã,
Schliemann tinha a certeza de que iria encontrar um tesouro. Uma lenda
local falava de um antigo senhor medieval que, tendo perdido o filho
recém-nascido, enterrou-o num berço de ouro maciço – e sua fé era
tamanha nessa história que várias vezes, ouvindo o pai se queixar da
falta de dinheiro, sugeriu que ele pegasse uma pá e fosse desenterrar o
bercinho nas ruínas do velho castelo.
Fascinado pelas histórias de Homero, prometeu a Minna, seu amor da juventude, que eles um dia casariam e partiriam em busca das ruínas de Troia. A pobreza e a miséria, no entanto, afastaram-no para sempre da noivinha e do pequeno povoado. O destino o jogou daqui para ali, sempre em desvantagem, mas ele, mesmo nos piores momentos de incerteza, mesmo às portas da miséria ou da falência, mesmo diante do fracassado casamento com uma cidadã russa, jamais abandonou a certeza de que Troia devia estar em algum lugar, à sua espera.
Às vezes, um relâmpago servia para reavivar o velho sonho. Quando trabalhava como simples caixeiro num armazém, num regime duríssimo que ia das cinco da manhã às onze da noite, conheceu um estudante alcoolizado que, em troca de um gole de aguardente, recitava de cor os cem primeiros versos da Ilíada, no original. Embora não entendesse uma sílaba sequer, a melodia quase mágica do Grego antigo fez Schliemann chorar de emoção, jurando que nunca ia desistir de aprender aquela língua.
Com sorte e determinação, acabou se tornando um brilhante homem de negócios. Em 1869, rico como um marajá, resolveu que era hora de retomar sua procura. Convencido de que Troia ficava em algum lugar no litoral da Turquia, decidiu não começar as escavações sem antes achar uma mulher que o amasse de verdade e com ele compartilhasse suas descobertas. Confiante no destino, pediu a um amigo que encontrasse, na Grécia, uma esposa “jovem o bastante para ter filhos, amável, educada, apreciadora da arte e da literatura clássica e disposta a me acompanhar em minhas aventuras”. Quando recebeu a foto de Sophia Engastromenos, Schliemann, que era um bom avaliador de fisionomias, teve a certeza de que sua busca se encerrava ali.
Depois de intensa troca de cartas, os dois terminaram casando para a vida toda. Os deuses haviam sorrido para ele, pois Sofia, além de bonita, meiga e inteligente, interessava-se por tudo que ele fazia e ainda se divertia em ajudá-lo em seus arrojados projetos. Todo o resto que ele fez, fez com ela a seu lado – e o sucesso internacional que conquistou por ter encontrado os restos de uma possível Troia não suplantou, em momento algum – são palavras dele a um amigo – o tesouro incomparável de sua felicidade doméstica.
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* Escritor. Colunista da ZH
Fonte: ZH on line, 08/01/2013
Imagem da Internet
Fascinado pelas histórias de Homero, prometeu a Minna, seu amor da juventude, que eles um dia casariam e partiriam em busca das ruínas de Troia. A pobreza e a miséria, no entanto, afastaram-no para sempre da noivinha e do pequeno povoado. O destino o jogou daqui para ali, sempre em desvantagem, mas ele, mesmo nos piores momentos de incerteza, mesmo às portas da miséria ou da falência, mesmo diante do fracassado casamento com uma cidadã russa, jamais abandonou a certeza de que Troia devia estar em algum lugar, à sua espera.
Às vezes, um relâmpago servia para reavivar o velho sonho. Quando trabalhava como simples caixeiro num armazém, num regime duríssimo que ia das cinco da manhã às onze da noite, conheceu um estudante alcoolizado que, em troca de um gole de aguardente, recitava de cor os cem primeiros versos da Ilíada, no original. Embora não entendesse uma sílaba sequer, a melodia quase mágica do Grego antigo fez Schliemann chorar de emoção, jurando que nunca ia desistir de aprender aquela língua.
Com sorte e determinação, acabou se tornando um brilhante homem de negócios. Em 1869, rico como um marajá, resolveu que era hora de retomar sua procura. Convencido de que Troia ficava em algum lugar no litoral da Turquia, decidiu não começar as escavações sem antes achar uma mulher que o amasse de verdade e com ele compartilhasse suas descobertas. Confiante no destino, pediu a um amigo que encontrasse, na Grécia, uma esposa “jovem o bastante para ter filhos, amável, educada, apreciadora da arte e da literatura clássica e disposta a me acompanhar em minhas aventuras”. Quando recebeu a foto de Sophia Engastromenos, Schliemann, que era um bom avaliador de fisionomias, teve a certeza de que sua busca se encerrava ali.
Depois de intensa troca de cartas, os dois terminaram casando para a vida toda. Os deuses haviam sorrido para ele, pois Sofia, além de bonita, meiga e inteligente, interessava-se por tudo que ele fazia e ainda se divertia em ajudá-lo em seus arrojados projetos. Todo o resto que ele fez, fez com ela a seu lado – e o sucesso internacional que conquistou por ter encontrado os restos de uma possível Troia não suplantou, em momento algum – são palavras dele a um amigo – o tesouro incomparável de sua felicidade doméstica.
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* Escritor. Colunista da ZH
Fonte: ZH on line, 08/01/2013
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