quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
DEUS
Os acontecimentos de 2008 e sua evolução em 2009
Os últimos quatro meses foram muito reveladores dos dois mundos em que o mundo está dividido, o mundo dos ricos e o mundo dos pobres, separados mas unidos para que o mundo dos pobres continue a financiar o mundo dos ricos. Muito do que se desencadeou em 2008 vai continuar, sem qualquer solução de continuidade, em 2009 e mais além. O sociólogo Boaventura de Sousa Santos analisa algumas destas continuidades.
Tudo leva a crer que o ano de 2008 não termine em 31 de dezembro. O tempo inerte do calendário cederá o passo ao tempo incerto das transformações sociais. Muito do que se desencadeou em 2008 vai continuar, sem qualquer solução de continuidade, em 2009 e mais além. Analisemos algumas das principais continuidades.
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Estamos usando mais de uma Terra
Segundo recente pesquisa do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), a humanidade está gastando hoje em consumo e desperdício 1,3 Terra. Isto é, estamos estressando a nossa mãe Terra em mais de 30% do que aquilo que ela nos pode dar, o que é absolutamente espantoso.
Fico pensando na China. Esse país hoje consome mais recursos básicos do que os EUA, com exceção do petróleo. Seu consumo de carne é o dobro do registrado nos EUA e o de aço é o triplo. O que acontecerá se a China alcançar os EUA em consumo per capita?
Vamos, por um exercício de futurologia, ao ano de 2031. Se o crescimento chinês se reduzir a 8% ao ano, em 2031 sua renda per capita será a mesma dos EUA. Imaginemos que os chineses tivessem o mesmo padrão de consumo que os americanos nesse ano. A população então, em termos conservadores, subindo para 1,5 bilhão de habitantes, consumiria o dobro da atual produção de papel e teria cerca de 1,1 bilhão de carros. Em todo o mundo hoje, o número de carros não passa de 800 milhões e o consumo mundial de petróleo é de 85 milhões de barris por dia. Na situação citada, só a China consumiria 99 milhões de barris por dia.
Isso tudo, colocado em conjunto, nos mostra que na terceira década deste século não usaríamos apenas uma Terra mais 30%, e sim, no mínimo, 2,5 Terras, também em termos conservadores, porque temos que considerar a Índia (cuja população, então, será maior que a da China) e outros países periféricos a quem foi empurrado goela abaixo o sonho de consumo americano. E o que isso nos ensina? Simplesmente que o modelo econômico ocidental centrado em combustíveis fósseis, no uso de minérios e no desperdício, não vai mais funcionar no mundo. Já hoje há mais de 3 bilhões de pessoas nos países em desenvolvimento, e se não reestruturarmos a partir de agora a economia mundial, o crescimento econômico será insustentável.
A esses números, que extraímos de Lester Brown, provavelmente o maior ecologista da atualidade e autor da série The State of the World, publicada anualmente pela ONU, acrescem-se números opostos, desta vez da Food and Agriculture Organization (FAO) sobre a fome no mundo. Depois da inflação no preço das commodities em 2008, o número de pessoas famintas no mundo, que já era de 824 milhões de pessoas, ganhou mais 100 milhões. E isso não foi pelo fato de os chineses e indianos se alimentarem mais, mas porque os países mais pobres empobreceram ainda mais. Até os anos 1960 eles podiam saciar a fome porque sua agricultura era pesadamente baseada na agricultura familiar, e a partir desses anos eles foram obrigados pelas dívidas que tinham com o FMI a transformar suas multiculturas em grandes monoculturas para a exportação. Assim, com a sua fome, aumentavam o excesso de alimentação dos países mais ricos. Foi esse o efeito mais perverso da globalização.
Só o modelo baseado na solidariedade, no desestímulo ao consumo supérfluo, na descentralização econômica, tal como se usava nos tempos primitivos em que as comunidades geriam os pré-estados, é que poderemos pensar em uma sobrevida para a humanidade. Mas é muito difícil sairmos de um modelo de poder político e econômico centralizados, de uma competição cada vez mais violenta, para um modelo realmente democrático em que as populações tenham influência sobre os destinos do Estado, tal como já está acontecendo hoje, por exemplo, na Europa nórdica, onde a corrupção das elites é menor, inclusive pelo grande número de mulheres existentes nos primeiros escalões dos governos. Segundo informações do Banco Mundial, há uma correlação estatística significativa entre o aumento das mulheres nos primeiros escalões e a diminuição da corrupção, o que faz com que os fluxos de dinheiro governamental sejam realmente alocados às populações que dele mais necessitem.
Não podemos mais aceitar um mundo em que nos anos 1990 o PIB cresceu 134% e a miséria 1000%. É essa ganância dos mais ricos, que distorceram todas as estruturas de poder, que está matando a humanidade. Crises como a que estamos vivendo tendem a repetir-se e acelerar-se cada vez mais, tais como os furacões se aceleram quando o clima foi desequilibrado.
Estamos chegando à hora do impasse final, em que os senhores do dinheiro estão sendo confrontados com uma força maior do que a sua, a de nossa mãe Terra, que não quer ser assassinada. Ou mudamos todos ou acabaremos.
*Escritora
http://www.correiobraziliense.com.br/impresso/ 25/12/2008
CARTÃO DE NATAL
Pois que reinaugurando essa criança
pensam os homens
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno, f
resco como o pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de vôo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes:
que desta vez não perca esse caderno
sua atração núbil para o dente;
que o entusiasmo conserve vivas
suas molas,
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem
o sim comer o não.
http://www.correiobraziliense.com.br/impresso/ 25/12/2008
Adoráveis vampiros
O adolescente é uma espécie de
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Escute o Natal
Cada pessoa se prepara de um jeito para o Natal. Eu costumo cumprir os rituais inevitáveis que a época exige, como montar a árvore, comprar presentes e providenciar um jantar especial para receber a família. Mas, como neste período minha emoção fica sempre à flor da pele, me condiciono a algo mais íntimo: seleciono uma trilha sonora adequada ao meu estado de espírito.
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2346106.xml&template=3916.dwt&edition=11371§ion=1006
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Decálogo do diálogo sobre Bioética
Eis o texto.
A Associação de Teólogos e Teólogas João XXIII quer se unir ao movimento de diálogo interdisciplinar da Bioética na busca comum de valores compartilhados, mas sem se dar o direito de intromissão para ditar normas de moralidade à sociedade civil. Cremos que a Teologia deve se somar a tal diálogo para ajudar a transformar, tendo-se em vista os novos dados, alguns de seus paradigmas e conclusões; mas sem impor exclusivamente interpretações de sentido sobre a vida e a morte, a dor, a saúde ou a doença.
No terreno da bioética, é necessário distinguir três tipos de questões: as científicas, as filosóficas e as religiosas. A intervenção no debate sobre as questões científicas corresponde aos especialistas em tais matérias. Nas questões filosóficas, existe uma ampla pluralidade de concepções. No terceiro tipo de questões, as religiões estão em seu legítimo direito de expor suas concepções, mas não podem exigir o seu cumprimento a toda a sociedade, como se fossem as únicas válidas. No contexto da sociedade plural e secular, os fiéis podem participar no debate público sobre bioética, conjugando sua própria fé com o empenho do diálogo em meio a situações interculturais e inter-religiosas.
Com esse espírito de diálogo, propomos o seguinte Decálogo:
1. Unimo-nos ao movimento de diálogo interdisciplinar da bioética como conversação pública para buscar, em comum, respostas aos desafios que o cuidado da vida na era da biotecnologia propõe. Cremos que, para as ciências e as humanidades, vale o programa emblemático. Em vez de enfrentar as éticas ou as crenças contra as ciências e as tecnologias, convém fomentar sua integração mediante a educação, a colaboração dos meios de comunicação e o debate cívico sem crispação.
2. Para convergir em uma ética autenticamente global, queremos escutar as diferentes perspectivas mediante o diálogo intercultural sem exclusões nem hierarquias prévias. A aliança de civilizações e o diálogo de religiões são imprescindíveis para fomentar uma cultura da vida.
3. Desejamos e esperamos que as diversas religiões se unam a essa busca em comum de valores frente ao futuro da vida e da humanidade. Respeitaremos a pluralidade, unindo-nos à busca comum de convergências em valores para garantir, responsavelmente, o futuro da vida e da humanidade. “Já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um...” (Gálatas 3, 28). As diversas crenças deverão passar pelo crivo da autocrítica para se livrar de seus respectivos exageros, por exemplo, a homofobia, os maus-tratos às mulheres ou a discriminação das vidas mais desfavorecidas.
4. As atitudes aprendidas no evangelho de Jesus nos motivam especialmente para apoiar uma ética da gratidão responsável no cuidado de toda vida. Proporemos, sem impor, alternativas para o cuidado da vida a partir da perspectiva do evangelho de Jesus, para fazê-lo no momento oportuno e com tolerância construtiva. Mas, ao contribuir com um diálogo plural a partir de perspectivas evangélicas, não centraremos a contribuição dessa tradição em citações de documento eclesiásticos oficiais. Partiremos da palavra de Jesus: “Eu vim para que tenham vida e para que a tenham em abundância” (João 10, 10), para exortar com linguagem positiva e esperançosa, que anime a viver e a vivificar-nos mutuamente.
5. A acolhida responsável do processo humano de nascer deve realizar-se no marco do respeito à dignidade e dos direitos da mulher com relação à reprodução. Reconhecemos a necessidade de revisar a fundo a própria tradição, no que se refere aos enfoques sobre gênero, sexo e relações humanas, para superar os limites de uma teologia muito condicionada por pessimismos, maniqueísmos, estoicismos ou puritanismos. “Vós me tecestes no seio de minha mãe” (Salmo 139, 13) é um texto programático que convida a respeitar o processo constitutivo de uma nova vida – caminho e não momento instantâneo –, acompanhando-a com o processo humano de acolhê-la responsavelmente, de acordo com a graduação de tal exigência de respeito segundo as fases de sua formação. Sem levar a sério a educação sexual integrada – incluídas a anticoncepção e a intercepção responsáveis –, carecerão de credibilidade os esforços pela proteção do feto.
6. O acompanhamento responsável do processo humano de morrer inclui o respeito ao direito de decidir como viver a fase final desse processo digna e autonomamente. Teremos que redescobrir e reapreciar elementos esquecidos da própria tradição terapêutica corpóreo-espiritual; por exemplo, assumir a morte e tomar autonomamente as rédeas do processo de morrer. Mas teremos presentes as deficiências da própria tradição, no que se refere às cisões dualistas entre o ser humano e a natureza ou entre o corporal e o psíquico; para poder recriar uma teologia da criação capaz de valorizar e libertar a terra, o corpo e a vida. “Eu sou a ressurreição e a vida” (João 11, 25). A tradição da moral teológica católica ajuda a discernir situações de limitação do esforço terapêutico, legal, ética e teologicamente correta.
7. Não se deve fazer da dor um ídolo. Deve-se fomentar seu alívio e assegurar o acesso igual aos cuidados paliativos. “Ainda que exteriormente se desconjunte nosso homem exterior, nosso interior renova-se de dia para dia” (2 Coríntios 4, 16). Não se deve fazer da dor um ídolo, que temos direito a aliviar, incluída a sedação oportuna, medicamente indicada e devidamente consentida e protocolizada. A tradição católica ajuda a evitar criminalizações injustas, como, por exemplo, a das irresponsáveis acusações do caso Lamela vs. Leganés [1].
8. É responsabilidade ética apoiar a investigação científica para curar, melhorar e proteger a qualidade do viver. Reconhecemos a necessidade de soltar o lastro da própria tradição, para que uma teologia, que durante muito tempo desvalorizou a tecnociência, não naufrague. Cultivar a terra, sem ficar de braços cruzados esperando o dom do céu, é o começo da tecnologia, missa do ser humano, para quem é natural modificar artificialmente a natureza com a tecnologia, desde uma atitude de respeito à natureza. A teologia da criação fomenta o diálogo para aprender da ciência.
9. Admirando e agradecendo pelos avanços científicos, fomentaremos as aplicações da investigação ao serviço da terapia. Mas o cuidado da vida deve se estender ao conjunto dos seres vivos e dos ecossistemas. “Esperamos novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça” (2 Pedro 3, 13). A Bioética inclui a Ecoética. Não basta ter passado do paternalismo à autonomia; deve-se globalizar e ecologizar a ética da justa distribuição dos recursos da vida.
10. O cuidado da vida deve incluir também a responsabilidade com as gerações futuras. Por isso, teremos sempre presentes as perguntas motrizes do movimento bioético: “É responsável e vale a pena fazer o que for possível fazer tecnicamente? Para quem serão os benefícios?”. Assim, enfocaremos qualquer problema bioético, captando seu aspecto social. Jesus repartiu o pão da vida, mas para todos e todas. Essa ética global da justiça é, por sua vez, ética da vida. Para nós, estão unidos o não à guerra, ao assassinato e à pena de morte, o não às interrupções injustas do processo de nascer e o não às prolongações injustas do processo de morrer, assim como o não à destruição do ambiente e à dilapidação dos recursos da vida. Esse quer ser o nosso compromisso como cidadãos, como fiéis e como teólogos e teólogas, em colaboração com todos os profissionais, grupos sociais e organismos humanitários que trabalham para melhorar as condições de vida e aliviar o sofrimento da humanidade e da natureza.
Notas:
1. Após denúncia anônima, uma comissão de especialistas, nomeada pelo conselheiro de saúde Manuel Lamela, identificou 73 casos suspeitos de sedação inadequada no hospital Severo Ochoa, de Leganés, na Espanha, entre setembro de 2003 e março de 2005. O trabalho identificou uma relação direta entre a administração irregular de sedativos e a morte desses 73 pacientes.
O PRESÉPIO
RUBEM ALVES
MENINO, LÁ EM MINAS , eu tinha inveja dos católicos. Eu era protestante sem saber o que fosse isso. Sabia que, pelo Natal, a gente armava árvores com flocos de algodão imitando neve que não sabíamos o que fosse. Já os católicos faziam presépios.
Os pinheiros eram bonitos, mas não me comoviam como o presépio: uma estrela no céu, uma cabaninha na terra coberta de sapé, Maria, José, os pastores, ovelhas, vacas, burros, misturados com reis e anjos numa mansa tranqüilidade, os campos iluminados com a glória de Deus, milhares de vaga-lumes acendendo e apagando suas luzes, tudo por causa de uma criancinha. A contemplação de uma criancinha amansa o universo. O Natal anuncia que o universo é o berço de uma criança.
Até os católicos mais humildes faziam um presépio. As despidas salas de visita se transformavam em lugares sagrados. As casas ficavam abertas para quem quisesse se juntar aos reis, pastores e bichos. E nós, meninos, pés descalços, peregrinávamos de casa em casa, para ver a mesma cena repetida e beijar a fita.
Nós fazíamos os nossos próprios presépios. Os preparativos começavam bem antes do Natal. Enchíamos latas vazias de goiabada com areia, e nelas semeávamos alpiste ou arroz. Logo os brotos verdes começavam a aparecer. O cenário do nascimento do Menino Jesus tinha de ser verdejante.Sobre os brotos verdes espalhávamos bichinhos de celulóide. Naquele tempo ainda não havia plástico. Tigres, leões, bois, vacas, macacos, elefantes, girafas. Sem saber, estávamos representando o sonho do profeta que anunciava o dia em que os leões haveriam de comer capim junto com os bois e as crianças haveriam de brincar com as serpentes venenosas. A estrebaria, nós mesmos a fazíamos com bambus. E as figuras que faltavam, nós as completávamos artesanalmente com bonequinhos de argila.
Tinha também de haver um laguinho onde nadavam patos e cisnes, que se fazia com um pedaço de espelho quebrado. Não importava que os patos fossem maiores que os elefantes. No mundo mágico tudo é possível. Era uma cena "naif". Um presépio verdadeiro tem de ser infantil.
E as figuras mais desproporcionais nessa cena tranqüila éramos nós mesmos. Porque, se construímos o presépio, era porque nós mesmos gostaríamos de estar dentro da cena. (Não é possível estar dentro da árvore!).
Éramos adoradores do Menino, juntamente com os bichos, as estrelas, os reis e os pastores.Será que essa estória aconteceu de verdade? Foi daquele jeito descrito pelas escrituras sagradas? As crianças sabem que isso é irrelevante. Elas ouvem a estória e a estória acontece de novo. Não querem explicações. Não querem interpretações. A beleza da estória lhes basta. O belo é verdadeiro. Os teólogos que fiquem longe do presépio. Suas interpretações complicam o mundo.
O presépio nos faz querer "voltar para lá, para esse lugar onde as coisas são sempre assim, banhadas por uma luz antiquíssima e ao mesmo tempo acabada de nascer. Nós também somos de lá. Estamos encantados. Adivinhamos que somos de um outro mundo." (Octávio Paz )
Seria tão bom se os pais contassem essa estória para os seus filhos!
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2312200804.htm
NATAL: isso é grego para mim
Papai Noel, este sim,
Os pais de Jesus viviam em Nazaré, mas ele nasceu em Belém, na Judéia, então uma província do Império Romano, entre os anos 4 e 6 a.C., por força de um erro de calendário perpetrado por Dionísio, que fixou no ano 1 o nascimento do Nazareno. Quando é condenado à morte, a maior autoridade romana ali é Pôncio Pilatos.
Bem qualificado, como qualquer funcionário romano do alto escalão, Pilatos era poliglota e falava e escrevia fluentemente em latim e em grego. Foi parar no Credo dos Apóstolos, dando origem à expressão "como Pilatos no Credo", pois a citação de seu nome é só para fixar a existência de Jesus na História, identificando a época dos graves eventos ali narrados, quando foi crucificado entre dois ladrões: Gestas, o mau, e Dimas, o bom, que, aliás, deu mote ao Padre Vieira para o Sermão do Bom Ladrão.
Às vezes, porém, Pilatos se atrapalhava nos idiomas. Dialogando em grego e não em latim com José de Arimatéia, este lhe pede o soma (corpo) de Jesus, e Pilatos entende que pediu o ptoma (cadáver).
Esta é uma das explicações profanas da retirada de Jesus da cruz e de seu desaparecimento, depois de medicado e não sepultado no túmulo do próprio Arimatéia, de onde, clandestino, teria seguido para a casa da discípula mais amada, Madalena, e dali para a Índia ou para a Europa, segundo versões ainda mais controversas.
Estão documentados os três anos que antecedem a execução de Jesus, marcados por intensa pregação na Judéia. Os 30 anos anteriores dependem dos relatos solitários dos Evangelhos e assim mesmo não de todos eles, apenas de quatro considerados oficiais. Foram documentados dezenas deles, depois considerados apócrifos, mas é provável que existissem centenas de relatos semelhantes.
O mais simples e mais objetivo é o de São Mateus, que escreve seu Evangelho em aramaico. Foi traduzido depois para o grego e para o latim. Ele narra deste modo o Natal: “Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia no tempo do rei Herodes, chegaram a Jerusalém uns magos vindo do Oriente, que perguntaram: ‘onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo’. Ao ouvir isso o rei Herodes perturbou-se e toda Jerusalém com ele”.
Ainda assim, séculos depois os magos foram fixados em três chegaram a ser oito nos primeiros séculos. Eram reis; um era preto, um branco, outro amarelo. E tinham nomes: Baltazar, Gaspar e Merquior. E em 1164, vindos de Milão, seus restos mortais foram parar num dos altares laterais da Catedral de Colônia, na Alemanha, onde estão até hoje.
Os relatos continuaram controversos com outras figuras. Pôncio Pilatos, cuja mulher se chamava Claudia Procula, sucedeu a Valério Grato depois da deposição de Arquelau no tempo do imperador Tibério César e lavou as mãos na morte de Jesus.
Mas não pôde fazer o mesmo quando, mobilizados por messias anônimo, milhares de samaritanos subiram ao Monte Garazim à procura dos vasos de ouro do tabernáculo que Moisés teria enterrado ali. Para dissuadir a multidão, as tropas romanas perpetraram um massacre, pois, ao contrário de cronistas cristãos que quiseram fazer média com as autoridades romanas, pondo a culpa nos judeus, Pilatos era um homem cruel e sanguinário, segundo os relatos de Fílon.
Vitélio, que governava a Síria, delatou Pôncio Pilatos a Tibério César, que chamou o governador a Roma para explicações do morticínio. Mas o imperador morreu nesse ínterim, e Pilatos, destituído, foi banido para Viena, onde se suicidou no rio Reno.
A presença mais controversa do Natal é, porém, outra: a do Papai Noel, este sim, uma excrescência de exclusivos fins comerciais. O verdadeiro Natal é o do Menino Jesus.
Deonísio da Silva - escritor e Professor - É vice-reitor de Cultura da Universidade Estácio de Sá http://ee.jornaldobrasil.com.br/reader/clipatextoorig.asp?pg=jornaldobrasil_117625/102797- 23/12/2008
domingo, 21 de dezembro de 2008
Sempre é possível reinventar a existência
Regina Schöpke*
O conceito nietzschiano de vontade de poder (ou de "potência", para alguns intérpretes) não deixa de ser uma resposta à idéia de "vontade de vida" de Schopenhauer. Nietzsche que, na juventude, foi um entusiasta das idéias desse filósofo, acabou chegando a um pensamento não só diferente, mas contrário, em muitos aspectos, ao de seu "mestre espiritual". De fato, nada é mais oposto à concepção nietzschiana de uma afirmação integral e profunda da existência do que a idéia schopenhaueriana de cessação da vontade, de supressão dos desejos e das paixões. Com relação à "vontade de vida" ou de "viver", como algo inerente a todo ser, Nietzsche a considera um contra-senso, já que o vivo não pode "desejar viver". Não se trata, para ele, de um desejo, de uma ânsia de vida, mas de plenitude, de potência. E potência, aqui, diz respeito a uma vontade vigorosa, a uma vontade que produz, que inventa a própria vida.
O ANJO PORNOGRÁFICO
sábado, 20 de dezembro de 2008
Ética é solução para o enlouquecimento do mercado?
Adital –
Após reconhecer que os EUA não aplicou internamente os remédios prescritos para outros países e lamentar a perda do respeito e do prestígio do mercado financeiro norte-americano frente ao mundo, Friedman faz uma afirmação interessante: "Enquanto o capitalismo salvou a China, o fim do comunismo parece ter perturbado os EUA que perdeu os dois maiores concorrentes ideológicos: Pequim e Moscou. Quando o capitalismo americano não precisou mais se preocupar com o comunismo, parece ter enlouquecido".
Não vou discutir aqui a discutível tese de que "o capitalismo salvou a China", mas sim a constatação por parte de um defensor do sistema de mercado livre de que o capitalismo "despreocupado", isto é, sem preocupações que o obrigasse a um certo auto-controle, acabou enlouquecendo. Eu penso que o diagnóstico dele é bastante pertinente, pois uma das causas ou sintomas de loucura é exatamente a perda da diferença entre a realidade e a fantasia, a perda da noção consciente do limite que separa o mundo real e do mundo do desejável ou da fantasia. Noção essa que está na base do auto-controle ou auto-disciplina.
O que nos mantém salvos da loucura é o reconhecimento de que a resistência que o mundo objetivo - o mundo que existe para além da minha imaginação - coloca aos nossos desejos, ambições, ganâncias ou fantasias é, em parte, saudável. Não querer aceitar o princípio da realidade e "tocar os negócios" ou fazer política buscando somente realizar a ganância ilimitada ou poder sem limite é o primeiro passo para neurose e outras insanidades. O problema é que nós preferimos viver somente de acordo com os nossos desejos ilimitados.
Esse modo de viver traz consigo a fé ou falsas certezas de que ao final tudo acabará bem. Na base dessas atitudes ou políticas "despreocupadas" com o futuro encontramos os mitos religiosos ou seculares que dão segurança e tranqüilidade sobre o futuro.
Friedman reconhece que a existência dos países socialistas e a disputa ideológica serviram para manter o capitalismo dentro de um grau de sanidade que evitou grandes loucuras financeiras. Porém, ele não tira disso a conclusão de que a economia global dirigida por uma única lógica econômica, a capitalista, sempre estará em risco destas loucuras. Porque no fundo, ele não pode ou não quer aceitar que este problema de "enlouquecimento" é estrutural ao sistema capitalista de mercado livre; pois, a "missão" de todo empresário é conseguir o máximo de lucro para a sua empresa e os seus acionistas, e a dos executivos é maximizar os seus salários e bônus através da maximização imediata dos lucros.
Como não pode reconhecer o problema estrutural do capitalismo sem concorrentes político e ideológico, ele diz que "não precisamos de um pacote de ajuda financeira; precisamos de uma ajuda ética, restabelecer o equilíbrio básico entre nossos mercados". Parece que está na moda pedir ajuda à ética ou propor ética como caminho de soluções para crises econômicas e ambientais.
Apelar para ajuda ética não soluciona problemas estruturais, mas serve para maquiar algumas reformas e manter o sistema estruturalmente intacto. Isto é, apelando para ética, ele desvia atenção das reformas estruturais necessárias para a sustentabilidade social e ecológica da economia mundial. Além disso, este tipo de discurso consegue atrair a simpatia dos setores da sociedade e das igrejas que reduzem tudo a uma vontade ou reforma ética; sem perceber que problemas estruturais não são solucionados somente com bons desejos ou boas intenções éticas.
* Professor de pós-grad. em Ciências(Autor, entre outros, de "Se Deus existe, por que há pobreza?", Ed. Reflexão).
http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=36609 - 19/12/2008.
Nascendo de novo numa era mortal
Cristine Gerk e Marsílea Gombata
O que falta para a humanidade conseguir orquestrar filosofia, ética e ecologia? Para qual direção estamos caminhando?
Que tipos de cuidado o homem está deixando de ter?
Na verdade, não amamos mais a vida, pois a submetemos a tantos riscos, a manipulamos em função da acumulação e dos negócios nos mercados e ofendemos tão duramente sua dignidade intrínseca que nos tornamos cruéis e sem piedade. Temo que Gaia, a Terra entendida como um superorganismo vivo, se defenda de nós, eliminando-nos, como eliminamos uma célula cancerígena. Pois é isso que nos tornamos em relação a todas as demais espécies. Estamos em guerra declarada contra Gaia, atacando-a em todas as suas frentes. E não temos condições de ganhar esta guerra. Gaia poderá existir sem nós, como existiu durante quase toda a sua existência de 4,5 bilhões de anos.
Com quais olhos você vê o futuro da humanidade?
Qual o papel da teologia hoje?
O senhor fez 70 anos. Como encara o desafio da "velhice"?
>> Perfil
Professor da Uerj, Boff é também doutor `honoris causa' pela Universidade de Turim, na Itália
http://ee.jornaldobrasil.com.br/reader/clipatextoorig.asp?pg=jornaldobrasil_117622/102565 20/12/2008
POESIA: tem quem não goste
A POESIA CORRESPONDE a uma profunda necessidade humana. Sempre podem ser encontradas pessoas que, em nome do bom senso e do saudável espírito pragmático, declaram que não têm interesse algum pela poesia. Devemos respeitar-lhes o mau gosto, a falta de sensibilidade. Com paciência, entretanto, talvez seja possível dar-lhes uma leve idéia do que estão perdendo.
Em seus primeiros desenvolvimentos, a linguagem dos caçadores da idade da pedra refletia a necessidade de movimentos coletivos. Nossos remotíssimos antepassados dependiam de ações sincronizadas para enfrentar animais grandes ou velozes. Podemos supor, então, que a linguagem deles era orientada pela busca de uma objetividade cada vez maior.
Sabemos, porém, que a dimensão subjetiva do medo e o esforço de superação das limitações individuais estava lá desde o início. As "almas" das pessoas não tinham como subestimar as criações coletivas, os valores do "grupo", venerado como um ser superior, transcendente, uma força pertencente à esfera do divino. Quando se defrontavam com essa transcendência, os caçadores, os pescadores davam passos importantes na direção de mudanças na linguagem.
A linguagem pragmática do mundo do "trabalho" cedia espaço à linguagem simbólica da religião. As artes e a literatura não só registraram essa modificação como participaram ativamente dela. Na Grécia antiga, a religião (a mitologia) foi posta no palco. O teatro em Atenas falava a linguagem da poesia. Os gregos viveram mais intensamente do que os seus contemporâneos a descoberta de que não existe – nem pode existir – uma linguagem única, capaz de abranger toda a inesgotabilidade da nossa condição humana. Uma linguagem comprometida com a objetividade, com a exatidão científica, é imprescindível a nosso conhecimento do mundo e de nós mesmos. Uma coisa, porém, é a secura de um informe, o levantamento de dados de um acidente ou de um assassinato. Outra coisa é o uso de recursos artísticos, literários, para aproximar o interlocutor do que foi vivido e arrebatadoramente sentido pelo outro.
Esse é o desafio enfrentado pela poesia. Os poetas escrevem textos que não poderiam ser escritos de outra forma. Há 2500 anos, em Antígona, Sófocles escreveu um poema irretocável. Peço licença para traduzí-lo. (Tenho em algum lugar de casa uma tradução feita por Millôr Fernandes, mas não consegui encontrá-la):
"Há muitas coisas maravilhosas no mundo, mas nenhuma é maior do que o ser humano. Ele sabe atravessar o mar cinzento, aproveitando o vento sul e passando pelos abismos de ondas gigantescas. Rasga e atormenta a mais venerada das deusas, a Terra. Eterna e incansável, ela suporta seus arados e ele, além da colheita, com suas redes, captura os peixes. O ser humano é um inventor engenhoso; domesticou o animal selvagem; o cavalo de longa crina e os touros da montanha. Com a palavra, seu pensamento é veloz como o vento. A se proteger do temporal e do granizo, que castigam rudemente os que não têm outro teto que não o céu. Bem armado contra tudo, menos contra a morte. Nunca terá o poder mágico de escapar dela. Se bem que ele já conseguiu descobrir remédios contra algumas doenças, as mais pertinazes.
Esse poema, para mim, não é só um manifesto humanista, daqueles que são suspeitos de pecar por otimismo, mas acabam nos despertando simpatia. Vejo na tragédia de Antígona, filha de Édipo, contada por Sófocles, a serena confiança do poeta no futuro da poesia.
Desconfio que a poesia teve, na história da humanidade, dois momentos de glória incontestável. O primeiro – que o historiador inglês Gordon Chillde chamou de "revolução neolítica" – na passagem da pré-história à história, a invenção da agricultura, o fim do nomadismo, o início do trabalho com metais, as mudanças na linguagem.
O segundo momento é, digamos, recente: é a revolução industrial, a consolidação do domínio burguês. A organização da vida social em torno do mercado gerou um clima de hipercompetição. Uma onda de violência começou a varrer a Europa e o mundo. Poesia rebelde (e rebeldia poética) participarão decisivamente da batalha final. Os que não gostam de poesia ficarão com a leitura dos discursos dos que não riem e estão sempre ocupados em convocar suas "tropas" para prosaicamente atacar a esquerda. Tem gente que gosta.
http://ee.jb.com.br/reader/zomm.asp?pg=jornaldobrasil_117622/102563 20/12/2008
Madonna e madonas medievais
A famosa cantora e atriz Madonna está circulando pela América Latina. Em São Paulo, faz hoje o penúltimo show.
Aos 50 anos recentemente completados, prossegue como figura polêmica e impactante, pois acessa alguns núcleos de conflito moralista onde quer que se apresente.
Nas nações sul-americanas, o maior reflexo reacionário foi o do Chile. Semana passada, logo que desembarcou no solo andino, foi criticada por dom Jorge Medina, cardeal emérito chileno e ex-presidente da Congregação da Doutrina da Fé do Vaticano. Como elevada autoridade religiosa, o eminente clérigo tem opinião importante e decisiva para a maioria católica da América do Sul.
Textualmente, a mídia divulgou o comentário do cardeal, realizado durante uma missa: “Estes dias estão bastante agitados em nossa cidade porque está chegando essa mulher que, com um atrevimento incrível, provoca um entusiasmo louco, que é um entusiasmo de luxúria. Os pensamentos de luxúria, os pensamentos de impureza (...) são uma ofensa a Deus e uma mancha, uma sujeira no nosso coração”.
Essa observação lembra as lendas do súcubo, demônio em forma de mulher que seduzia os homens (especialmente monges) e revive toda a tradição católica impregnada de moralismo e machismo que associa a mulher a uma pecadora carnal.
Também nos remete para a Baixa Idade Média, período compreendido entre os séculos 11 e 15, em que a sociedade era dominada pela Igreja Católica — os bens culturais que restaram na Europa ficavam sob a guarda dos monastérios.
O clima medieval se sustentava pela Inquisição e sua forte repressão sexual. A ciência e a arte seguiam atreladas a essa castração.
No início do século 16, esboçava-se o Renascimento. A Europa fervilhava de iniciativas e novidades que repercutiriam decisivamente mais tarde, já na aproximação do século 17. Mas o domínio católico persistia: naquela época, um súcubo esculpido no exterior de uma estalagem indicava que o estabelecimento funcionava também como um prostíbulo.
O pintor italiano Rafael alcançava o auge de seu trabalho enquanto surgia o Renascimento. Uma das suas obras maiores foram as madonas (uma delas é muito usada em santinhos). Leonardo da Vinci, seu contemporâneo mais influente, legou-nos a sua: a extraordinária Mona Lisa, terminada em 1507.
Saltando meio milênio, deparamos com Madonna apresentando um show impecável, de apurada tecnologia artística. Profissionalmente forte e talentosa, ela tem vários sucessos da música pop e um prêmio no cinema como Evita.
Aliás, em Buenos Aires, há uma quinzena, os argentinos a saudaram freneticamente, esquecidos de que muitos não concordavam que ela interpretasse a madona peronista.
Se realmente ela pretende polemizar, se porta um crucifixo combinado com lingerie como provocação, se um dos seus irmãos fez uma biografia vingativa, se é uma celebridade conhecida em todos os cantos do mundo, o que importa?
Hoje, o conceito de pessoa célebre é esdrúxulo e tolo. Idolatrar alguém, acompanhar seus passos para registrar fofocas, valorizar qualquer coisa que ela diga não passa de bobagem.
Por outro ângulo, quando vemos condutas reacionárias e conservadoras, especialmente das religiões, não há como concordarmos, só podemos respeitá-las como opiniões.
A verdadeira decência não está na castidade ou nas roupas vestidas. Estas, muitas vezes, favorecem as máscaras da hipocrisia e a impostura.
Os verdadeiros pecados não são sexuais. Só a pedofilia e o estupro merecem tal condenação, bem como a corrupção, o crime, a mentira, os exageros do capitalismo selvagem.
O sexo adulto, consensual, seguro e o erotismo artístico são virtudes humanas próximas do amor.
A arte de Madonna não se eternizará como a de um renascentista, mas ela criou uma “santa malícia”, ressuscitando a sexualidade do mundo sagrado, prestando enorme favor à humanidade.
Na Antiguidade, indica Georg Feuerstein, os templos eram também palcos do amor erótico.
Boas festas aos leitores!
Interajam no GEA (Grupo de Estudos sobre o Amor) através do site: http://www.blove.med.br/.
*Joaquim Zailton Bueno Motta é médico psicoterapeuta e sexólogoE-mail: jzmotta@uol.com.br
http://www.cpopular.com.br/mostra_noticia.aspnoticia=1612398&area=2190&authent=82034C4FD67332BA9174DDEEE10A28/20/12/2008
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Idade e Alienação
Pouca idade nem sempre significa alienação
Essa é a tese de Don Tapscott, professor de administração na Universidade de Toronto e autor, há uma década, de "Growing Up Digital: the Rise of the Net Generation". Em seu novo livro, ele argumenta que os administradores empresariais precisam buscar compreender a "geração internet", agora um fato concreto..
Com muita freqüência, diz ele, a geração que cresceu com a internet é menosprezada por empregadores, por que seria mal informada, sem foco, pouco lida e narcisista. Mas com uma pesquisa - que consumiu US$ 4 milhões e envolveu milhares de entrevistas com jovens de 16 a 19 anos em 12 países -, e programas de entrevistas comparativas com gerações anteriores, Tapscott e sua equipe chegaram a uma visão diferente.
A geração internet, observa ele, foi alimentada com uma dieta de mídia muito mais diversificada do que seus pais, que, nos Estados Unidos, assistia em média a 22 horas de televisão por semana em sua juventude. A geração internet, diz ele, tem acesso a tantas mídias concorrentes, que é mais provável que passe seu tempo em casa diante de computadores, interagindo simultaneamente com diversas telas, ao mesmo tempo que conversam ao telefone, ouvem música, fazem sua lição de casa e lêem.
Essa geração "tudo em um" não pode ser definida como participante de aprendizagem passiva. "Eles são ativos criadores, colaboradores, organizadores, leitores, escritores, autenticadores e até mesmo estrategistas. Não apenas observam, como participam. Questionam, discutem, argumentam, jogam, fazem compras, criticam, investigam, ridicularizam, fantasiam, buscam e informam".
A informática está moldando suas mentes de uma maneira distinta, escreve Tapscott. Diferentemente de suas antecessoras, que absorvem informações seqüencialmente, a geração internet "brinca" com informações - clicando, cortando, colando e criando vínculos a material interessante. "Eles desenvolvem mentes hipertexto", nas palavras de William Winn, diretor do Centro de Aprendizagem no Laboratório Tecnológico de Interface Humana da Universidade de Washington.
Esses comportamentos, escreve Tapscott, significam que essa nova geração está bem equipada para operar com informações. Ele cita pesquisas realizadas pela dupla de cientistas, pai e filho, dedicados ao estudo do cérebro, Stanley e Matthew Kutcher, para quem as práticas de "escaneamento" dos jovens estão desenvolvendo seu potencial para o pensamento analítico.
Henry Jenkins, diretor do programa de estudos comparativos de mídias no Instituto de Technologia de Massachusetts (MIT), também é citado. Ele acredita que a denominada "imersão digital" pode estar estimulando uma nova forma de inteligência que é fortalecida por meio de colaboração com outras pessoas e máquinas.
Contestando a metodologia do currículo escolar convencional, Tapscott argumenta que, embora continue sendo importante que as crianças tenham um bom conhecimento básico, certos detalhes são menos importantes numa época em que podem ser acessados instantaneamente na web. Essa é uma tese controvertida, com conseqüências de largo alcance para a maneira como os jovens são ensinados e empregados. Mas o livro visa atacar frontalmente os preconceitos contra a internet.
Sua conclusão é de que "a garotada está bem". Os melhores administradores e educadores compreenderão que há muita coisa que podem aprender com esse segmento populacional, e vice-versa. Devem, inclusive, "repensar a autoridade", permanecendo abertos para ouvir os jovens. Outras recomendações incluem incentivar os funcionários a escrever blogs e evitar interdições ao acesso a sites de redes sociais. Em vez disso, os administradores deveriam desenvolver maneiras de domar essas tecnologias para promover melhor colaboração.
O livro é uma perspicaz antítese à arraigada, e por vezes alarmista, oposição a comportamentos influenciados pela internet. É para ler ao lado do computador, escaneando, fotografando e anotando-o, como adição ao conhecimento via internet que está revolucionando nosso mundo.
(Tradução de Sergio Blum)
Madonna e a Cabala
Moacyr Scliar
*Moacyr Scliar, escritor ecolunista quinzenal/Correio Braziliense
http://www.correiobraziliense.com.br/impresso/ 19/12/2008
Sacerdotisa, cardeal e bispos
Gaudêncio Torquato
* Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político.
http://www.cpopular.com.br/mostra_noticia.asp?noticia=1612154&area=2190&authent=4CEDA2611ABFF2747F9AF3222DCAE6
O brilho da esperança
IVO LIMA
*Ivo Lima é professor de Filosofia e escritor, autor do livro O Recheio que Faltava em Sua Vida. Correio Popular, Campinas, SP, 19/12/2008
Sonho de Natal
Não me recordo de Papai Noel em Pinheiro, onde nasci, nem em São Bento, onde vivi a minha infância, quando descobri as cores e meus olhos viram desde os pássaros voando em bando sobre os campos de arroz brabo até o corredor dos retratos, onde aqueles velhos barbudos e senhoras de vestidos rodados contavam a decadência da família Araújo.
Depois, a primeira lembrança de Papai Noel, quando ele me enganou. Minha irmã convencera-me de que ele ia trazer um cavalo e ele me deixou debaixo da rede um tambor pintado em xadrez preto, vermelho e branco e um pedaço de pau para tocá-lo, levando-me a azucrinar os ouvidos dos meus avós e fazendo-me mais feliz do que se no meu quarto estivesse o mais belo poldro alazão.
Mas o Menino deitado em palha de arroz com os braços abertos e olhinhos castanhos sempre me trouxe a mensagem de ser meu amigo e irmão, filho de minha mãe e neto de minha avó, que chamava Madona.
Novos natais eram de reza, chocolate e bolo de mandioca. Fiquei horrorizado quando, já homem, soube que existia em Ax-les-Thermes um Evangelho das Rocas que era lido por um ancião letrado “durante as longas noites de inverno entre o Natal e a Candelária; era um livro sobre sexos, casos de amor, relações entre marido e mulher, superstições”. Século 15 e as mulheres em volta repetiam a leitura em voz alta, com grande alegria. A Inquisição levou à fogueira muita gente desse divertimento tido como pecaminoso, embora Jesus não tenha tido tempo para tratar dessas coisas menores, entregue a César, como o dinheiro. Ele não viu pecado na carne. Foi São Paulo quem inventou estar o Diabo na saia das mulheres.
Fiquei com a crença de que esse velho antigo, que lia evangelhos apócrifos e eróticos para aquelas pudicas velhas que fiavam rocas, podia ser Papai Noel.
Outro dia, um amigo meu quis testar minha capacidade de crer e perguntou-me se eu acreditava que os americanos iam sair do Iraque enquanto existisse ali uma gota de petróleo. Respondi que sim.
-E em Papai Noel?
- Mais ainda.
E o que é Papai Noel?
É um sonho de solidariedade que o homem construiu e, como diz Borges, só há uma coisa eterna, é o sonho.
*Ex-Presidente da República, escritor.
http://ee.jornaldobrasil.com.br/reader/zomm.asp?pg=jornaldobrasil_117621/102288