David Brooks
THE NEW YORK TIMES
O dia inteiro somos afetados por grandes forças. Os genes influenciam nossa inteligência e vontade de correr riscos. A dinâmica social molda inconscientemente nossas escolhas. Percepções instantâneas geram reações neurais em nossa mente, mesmo que não estejamos atento a elas.
Nos últimos anos, cientistas fizeram uma série de descobertas animadoras sobre como esses padrões profundos influenciam a vida cotidiana. Ninguém fez mais que Malcolm Gladwell para trazer essas descobertas a público.
O novo livro de Gladwell Fora de série A história do sucesso (Outliers em inglês) parece, à primeira vista, uma descrição de indivíduos excepcionalmente talentosos. Mas, na verdade, é outro livro sobre padrões profundos.
Pessoas muito bem-sucedidas não foram as primeiras a criar o próprio sucesso, argumenta. Elas são as beneficiárias sortudas de arranjos sociais. Como Gladwell disse a Jason Zengerle, da revista New York: O livro diz:
- "Grandes pessoas não são tão grandes. A própria grandeza não é o fato importante sobre elas. É o tipo de mistura bem-sucedida de oportunidades a que tiveram acesso".
Para Gladwell, algumas pessoas têm mais oportunidades do que outras.
Bill Gates teve sorte de ir para uma escola privada com seu próprio computador no início da revolução da informação. A tese mais interessante de Gladwell diz que forças sociais explicam, em grande parte, porque algumas pessoas trabalham mais intensamente quando têm oportunidades. Os chineses trabalham duro porque cresceram numa cultura construída ao redor do cultivo de arroz. Administrar a plantação de arroz exigiu até 3 mil horas de trabalho por ano, e deixou um legado cultural que preza o ritmo industrial de produção.
Muitas crianças americanas de classe média alta são criadas numa atmosfera que inculca uma devoção fanática ao esforço meritório. O determinismo social de Gladwell é igualitário.
Os menos bem-sucedidos não são menos importantes, apenas não tiveram muita sorte. Mas menospreza a importância do caráter e da criatividade individuais. Se Gladwell pode reduzir William Shakespeare a um mero produto de forças sociais, vou comprar mais 25 cópias de Fora de série - A história do sucesso e distribui-las no Times Square.
http://ee.jornaldobrasil.com.br/reader/clipatextoorig.asp?pg=jornaldobrasil_117619/102167 17/12/2008
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