domingo, 7 de dezembro de 2008

DE NOVO, DEZEMBRO

Conceição Freitas

Nem bem começou o ano e ele já se foi. Quem nos avisa é dezembro, o mês da despedida, aquele que nos alerta que é passada a hora. O mês 12 nos diz que o presente já virou passado, que o ano logo será outro e que o futuro é muito apressado.
Em dezembro tudo se conclui, até o inconcluso. Dezembro é dois: é cruel e é esperançoso, é o fim e anuncia o recomeço. Cruel porque não nos dá tempo de voltar atrás. Acabou, acabou. Deu tempo, deu. Não deu, não deu. Mas é esperançoso: há um janeiro vindo aí e com ele a vontade de refazer o malfeito e começar o que foi adiado.
Os dezembros têm chegado muito depressa. Mal a gente decide que agora vai, dezembro diz agora não dá mais tempo. Dezembro é implacável: não pede passagem, não prorroga o segundo tempo, não avisa que vem vindo. Se esconde atrás de novembro que se esconde atrás de outubro que…, todos eles nem aí pro tempo de cada um.
Quanto mais dezembros você tenha, mais implacáveis eles serão. Este dezembro, por exemplo. Abriu a porta sem tocar a campainha. Há sérias suspeita de que o mês 12 de 2008 andou fraudando o relógio do tempo e acelerando o movimento de rotação e de translação da Terra. Talvez tenha sido algum suborno de 2009, ou um aviso do Senhor do Tempo para que os terráqueos diminuam a velocidade com que estão tocando a vida.
Quem passou por poucos ou nenhum dezembro, como os bebês, têm todo o tempo do mundo. Quem ainda vive no berço transforma segundos em horas. Passa uma eternidade observando o suave balanço do móbile, descobrindo as cores e suas incríveis variações, ouvindo as vibrações dos sons ao redor. Para um bebê, o dia tem a duração de um ano, tamanhas as revelações de cada instante de sua existência no mundo.
Com o passar inexorável do tempo, os dezembros vão se aproximando uns dos outros. E vão ganhando velocidade, até alcançar um estado de vertigem nos que já têm muitos e muitos dezembros. Mas chegará o dia em que os dezembros se cansarão de tanta correria e voltam, pouco a pouco, ao andar vagaroso dos tempo em que se é bebê. Mas talvez já seja tarde para apreciar o movimento dos móbiles, a intensidade das cores.
Por isso é bom ficar esperto e criar uma estratégia para não se deixar ser empurrada pelos próximos dezembros. Talvez os bebês tenham o segredo que falta aos adultos: bebês têm um tempo muito particular, vagaroso, cuidadoso, suficiente para sorver o gosto de viver por viver. Não no sentido de viver a esmo, mas no de experimentar o viver naquilo que é mais caro para cada um de nós.
Este dezembro que começou dia desses me deu uma lição: não dá pra viver com tanta urgência assim. Isso não é viver, é correr.

http://www.correiobraziliense.com.br/impresso/ 07/12/2008

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