sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O brilho da esperança


IVO LIMA
Você pode ser luz no fim do túnel
Aerosmith

O cenário mundial nos oferece inúmeras razões para desacreditarmos numa vida melhor, cuja armadura seja revestida de amor, justiça e compreensão entre homens e mulheres, superando o muro das desigualdades; o preconceito torna a convivência humana muito difícil, espalhando atitudes e ações que só fazem aumentar as agressões verbais e físicas entre as pessoas, por causa da cor de sua pele ou por outras razões.
Enquanto bilhões de dólares continuam sendo investidos para dar seqüência aos processos de guerra, os efeitos colaterais da estupidez dos homens gera uma crise que se alastra mundo afora e o ônus é de todos os países, penalizando, como sempre, as nações com maiores dificuldades econômicas, fruto de suas trajetórias que remontam a décadas de sofrimento e muita luta para conquistarem sua independência e soberania.
A natureza continua varrendo violentamente muitas regiões do Planeta, com furacões, tempestades, seca arrasadora, deixando para trás um rastro de destruição e de calamidade pública, desafiando as autoridades e cada ser vivente do planeta Terra. Esses fenômenos soam como um sinal de alerta de que está apenas começando o drama que a humanidade começa a enfrentar na sua relação com a natureza.
Os estudos referentes às agressões ao ambiente comprovam, sem sombra de dúvida, que o resultado de muitos problemas que estamos enfrentando é também em função das modificações que o próprio homem está fazendo com a natureza, a partir do paradigma: devastação, desenvolvimento, lucro, ambição e descompromisso com o Planeta e com as futuras gerações. O “deus” lucro não leva em conta as sementes das tragédias que ele semeia mundo afora, porque seu objetivo é tirar o máximo proveito possível das riquezas que a terra oferece, e não conta se são riquezas naturais renováveis ou não.
É nesse cenário, pintado com as cores da guerra, com uma crise de grandes proporções, que já mostra seus efeitos terríveis pelo mundo, de intolerância, de violência urbana e rural, que aterroriza a todos, da natureza que reage como fera ferida, nivelando ricos e pobres, países desenvolvidos aos mais atrasados da face da Terra, que as luzes do Natal começam a brilhar novamente, trazendo no horizonte um raio de esperança em meio à escuridão que cega a humanidade num mar de ignorância, sofrimento e desencanto.
Por onde andamos, vemos as pessoas investirem algum dinheiro no campo e na cidade, para tornarem o ambiente mais iluminado, porque, atrás dessa luz, o ser humano parece gritar desesperadamente por paz, justiça, um mundo de amor e compreensão entre seus habitantes que, seduzidos pelo egoísmo, aliados à indiferença, adeptos da inveja e da ambição, tornam a convivência entre os povos uma verdadeira Torre de Babel e “salve-se quem puder”.
Independentemente da opção religiosa ou não, classe social, cor da pele, profissão, o que podemos aprender nesse período de festas que se aproxima? Além de nos tornarmos consumidores vorazes, atordoados pelas vitrinas sedutoras, imaginando como será a mesa farta que vamos preparar, os presentes que vamos dar ou receber, a viagem que estamos planejando, é importante ter em vista a realidade que nos cerca e nos coloca frente à frente, porque o “eu que sem o outro não se vê” jamais sonhará com um mundo melhor, ou seja, um mundo possível.
Se não ficarmos só contemplando a beleza das luzes, usar os enfeites das festas natalinas só para manter as aparências, esbanjar euforia vazia de humanidade, o período das festas de final de ano vai nos trazer alegria — verdadeira felicidade — aproveitar a oportunidade para, além do tradicional balanço do ano, depositar nossa gratidão no altar da vida, porque soubemos repartir aquilo que temos e o que somos.
Com esses sentimentos de gratidão e partilha, quero saudar cada profissional e leitor deste jornal, que me acompanharam durante este ano, e desejar:
feliz Natal e próspero ano novo.

*Ivo Lima é professor de Filosofia e escritor, autor do livro O Recheio que Faltava em Sua Vida. Correio Popular, Campinas, SP, 19/12/2008

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