TECNOLOGIA
Cumprimentar a si mesmo com um aperto de mão pode ser uma experiência incrível. A ilusão de ter sua barriga esfaqueada, nem tanto. Essas duas sensações pareceram reais para muitos participantes de um experimento realizado na Suécia, cujo objetivo foi mostrar como as pessoas podem sentir-se como se estivessem em um corpo diferente do delas.
Em uma apresentação na semana passada, neurocientistas do Instituto Karolinska (que escolhe os Nobel de medicina) mostraram como voluntários usando óculos de realidade virtual têm a sensação de trocarem de corpo com um manequim ou com outra pessoa.
– Estamos interessados em uma questão clássica, que filósofos e psicólogos discutem há anos: por que achamos que a essência de uma pessoa está em seu corpo? Para estudar isso cientificamente, usamos truques que enganam a percepção – disse Henrik Ehrsson, líder do projeto.
O repórter Karl Ritter, da agência de notícias Associated Press, fez o teste para entender “na pele” a experiência. Enquanto um manequim usava óculos com função de câmera filmando o próprio corpo, o repórter, também usando um capacete especial, olhava para baixo e via as filmagens feitas pelo manequim – com isso, tinha a sensação de que o corpo de plástico que via era o seu. Ritter contou depois que, num primeiro momento, a cena não parecia muito real. Mas a percepção mudou quando alguém passou uma faca, simultaneamente, na sua barriga e na do manequim.
– Conforme meu cérebro processava os sinais visuais e táteis, aumentava a impressão de que o corpo do manequim era o meu. Estava divertido, até que a lâmina de uma faca de cozinha foi colocada contra a barriga do boneco. Senti então um arrepio na espinha e o meu nível de ansiedade aumentou, como mostraram os eletrodos presos ao meu dedo – relatou o repórter.
A demonstração exemplifica os testes feitos com 87 voluntários. Segundo Valeria Petkova, ligada ao projeto, de 70% a 80% deles vivenciaram a ilusão de maneira muito forte.
As conclusões indicam que, sob certas condições, uma pessoa pode perceber outro corpo como sendo o seu, mesmo quando se trata de um manequim ou o corpo de alguém do sexo oposto. “As descobertas identificam os processos perceptivos que nos fazem sentir donos de nossos corpos”, diz o estudo.
Para Ehrsson, as observações podem ser usadas em pesquisas sobre problemas envolvendo a imagem corporal – como e por que as pessoas ficam satisfeitas ou insatisfeitas com seus corpos, por exemplo. Outra possibilidade é o desenvolvimento de versões mais avançadas de games e mundos virtuais como o Second Life.
– Os jogadores poderão ter experiências muito realistas com seus avatares – disse.
O segundo experimento de Ritter foi mais tranqüilo. Desta vez, o capacete do repórter foi conectado a câmeras montadas num chapéu que Petkova estava usando. Os dois se encararam um ao outro, estenderam os braços direitos e apertaram as mãos.
– A ilusão não foi perfeita, já que eu não podia reconhecer a pressão da mão de Petkova como minha, embora os óculos estivessem lá para me fazer acreditar nisso – disse o repórter.
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