sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Idade e Alienação


Pouca idade nem sempre significa alienação
É privilégio, ou possivelmente maldição, de cada nova geração ser diferente da anterior. Mas poucas vezes uma linha divisória entre gerações foi tão perceptível quanto a que separa as pessoas com 20 e poucos anos e os nascidos na explosão de natalidade após a Segunda Guerra Mundial.

Essa é a tese de Don Tapscott, professor de administração na Universidade de Toronto e autor, há uma década, de "Growing Up Digital: the Rise of the Net Generation". Em seu novo livro, ele argumenta que os administradores empresariais precisam buscar compreender a "geração internet", agora um fato concreto..

Com muita freqüência, diz ele, a geração que cresceu com a internet é menosprezada por empregadores, por que seria mal informada, sem foco, pouco lida e narcisista. Mas com uma pesquisa - que consumiu US$ 4 milhões e envolveu milhares de entrevistas com jovens de 16 a 19 anos em 12 países -, e programas de entrevistas comparativas com gerações anteriores, Tapscott e sua equipe chegaram a uma visão diferente.

A geração internet, observa ele, foi alimentada com uma dieta de mídia muito mais diversificada do que seus pais, que, nos Estados Unidos, assistia em média a 22 horas de televisão por semana em sua juventude. A geração internet, diz ele, tem acesso a tantas mídias concorrentes, que é mais provável que passe seu tempo em casa diante de computadores, interagindo simultaneamente com diversas telas, ao mesmo tempo que conversam ao telefone, ouvem música, fazem sua lição de casa e lêem.

Essa geração "tudo em um" não pode ser definida como participante de aprendizagem passiva. "Eles são ativos criadores, colaboradores, organizadores, leitores, escritores, autenticadores e até mesmo estrategistas. Não apenas observam, como participam. Questionam, discutem, argumentam, jogam, fazem compras, criticam, investigam, ridicularizam, fantasiam, buscam e informam".

A informática está moldando suas mentes de uma maneira distinta, escreve Tapscott. Diferentemente de suas antecessoras, que absorvem informações seqüencialmente, a geração internet "brinca" com informações - clicando, cortando, colando e criando vínculos a material interessante. "Eles desenvolvem mentes hipertexto", nas palavras de William Winn, diretor do Centro de Aprendizagem no Laboratório Tecnológico de Interface Humana da Universidade de Washington.

Esses comportamentos, escreve Tapscott, significam que essa nova geração está bem equipada para operar com informações. Ele cita pesquisas realizadas pela dupla de cientistas, pai e filho, dedicados ao estudo do cérebro, Stanley e Matthew Kutcher, para quem as práticas de "escaneamento" dos jovens estão desenvolvendo seu potencial para o pensamento analítico.

Henry Jenkins, diretor do programa de estudos comparativos de mídias no Instituto de Technologia de Massachusetts (MIT), também é citado. Ele acredita que a denominada "imersão digital" pode estar estimulando uma nova forma de inteligência que é fortalecida por meio de colaboração com outras pessoas e máquinas.

Contestando a metodologia do currículo escolar convencional, Tapscott argumenta que, embora continue sendo importante que as crianças tenham um bom conhecimento básico, certos detalhes são menos importantes numa época em que podem ser acessados instantaneamente na web. Essa é uma tese controvertida, com conseqüências de largo alcance para a maneira como os jovens são ensinados e empregados. Mas o livro visa atacar frontalmente os preconceitos contra a internet.

Sua conclusão é de que "a garotada está bem". Os melhores administradores e educadores compreenderão que há muita coisa que podem aprender com esse segmento populacional, e vice-versa. Devem, inclusive, "repensar a autoridade", permanecendo abertos para ouvir os jovens. Outras recomendações incluem incentivar os funcionários a escrever blogs e evitar interdições ao acesso a sites de redes sociais. Em vez disso, os administradores deveriam desenvolver maneiras de domar essas tecnologias para promover melhor colaboração.

O livro é uma perspicaz antítese à arraigada, e por vezes alarmista, oposição a comportamentos influenciados pela internet. É para ler ao lado do computador, escaneando, fotografando e anotando-o, como adição ao conhecimento via internet que está revolucionando nosso mundo.
O Livro: "Grown Up Digital - How the Net Generation is Changing Your World" - Don Tapscott. McGraw-Hill. 384 págs. US$ 27,95

(Tradução de Sergio Blum)
http://www.valoronline.com.br/ValorImpresso/MateriaImpresso.aspx?tit=Pouca+idade+nem+sempre+significa+alienação&dtmateria=18/12/2008&codmateria=5327129&codcategoria=91

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