Walter Praxedes*
A moral expressa o que desejamos. É a moral que nos ensina que nossos próprios interesses conscientemente devem ser limitados em favor da convivência. É a aceitação de que os outros, próximos ou distantes, também possuem interesses que devem ser levados em consideração.
A política é o que conseguimos fazer. É uma forma de convivência orientada pela busca do poder ou pela sua manutenção. Na política quase nunca fazemos o que desejamos realmente, mas o que é possível, tendo em vista algumas metas imediatas consideradas mais importantes.
Talvez se deva substituir a política pela moral. Só assim pode ser evitado que causemos danos, que provoquemos dor nos outros. Em sua obra Albert Camus sempre nos lembra que “o pior erro é fazer sofrer”. O oposto é a solidariedade.
Mas ninguém pode pressupor que possui o monopólio da verdade moral. É sempre bom duvidar de si mesmo. Cada um de nós sabe dos seus limites e fraquezas, físicos e mentais, mas sobretudo os morais, que aparecem naquelas circunstâncias em que deixamos de realizar o que desejamos para sucumbir diante do que é mais compensador.
Daí a importância da renúncia ao privilégio. É preciso cultivar o desinteresse, mantendo-nos distantes daquilo que pode nos corromper. Assim também se evita a inveja do que pertence a outrem: poder, prestígio, conhecimento, riqueza, amor. Assim também se evita o ressentimento e a amargura por não alcançarmos o mesmo.
“Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti” é um principio que continua satisfatório.
A liberdade não quer dizer que tudo deva ser permitido, mas que o ser humano tem o direito de escolher o seu lugar no mundo. A liberdade que já conquistamos garante a cada um o direito de eleger os próprios valores. O ideal é que não sejam valores que impliquem na destruição daquilo que é essencial para a existência da humanidade: a convivência.
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* Professor do Departamento de Ciências Sociais (UEM); Doutor em Educação (USP).
http://espacoacademico.wordpress.com/2009/10/10/uma-moral-laica/
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