sábado, 2 de janeiro de 2010

Não culpem a chuva

Leonardo Cavalcanti

Que história é esta de que a chuva causou uma tragédia em Angra dos Reis? Não tenho procuração para defender São Pedro e confesso um certo grau de agnosticismo, mas parece-me fácil e hipócrita apontar o dedo para o santo. Ontem, ao assistir à cobertura das televisões sobre os desabamentos em cidades brasileiras, me vi irritado com as chamadas dos jornais e os textos dos repórteres. Um deles, ao falar das chuvas, chegou a dizer que o soterramento da garagem de um prédio era “por conta de um barranco” que ficava atrás do imóvel. É muito para mim.
A ocupação desordenada do litoral brasileiro é uma das principais vilãs da degradação ambiental. Para a construção de casas, prédios e pousadas, primeiro desmatam as florestas. Depois, jogam lixo e dejetos diretamente na praia, poluindo o mar. Por último vendem tudo como se fosse a maior maravilha do mundo. A chuva ficou fora de todas as etapas desse processo. Não a culpem pelas mortes.

Foto:Bruno Domingos/Reuters
Fonte: Correio Braziliense online, 02/01/2010

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