O escritor canadense Ian Halperin é indiscreto,
fofoqueiro, atrevido e exibicionista.
Coitado de quem ele decide retratar
Os americanos inventaram um termo para tratar de uma modalidade recente de biografia não autorizada: “tell-all book”, ou “livro que conta tudo”. Se o autor é, por exemplo, parente ou ex-motorista de uma celebridade (e no momento está em guerra com ela) esse tipo de livro costuma aliar o desejo de vingança com aquele expediente mais vil, o de ganhar dinheiro sem o menor esforço. Como a Justiça americana considera a fofoca uma forma de liberdade de expressão, o mais comum é que um estranho resolva contar tudo de um famoso. O resultado é ainda mais devastador. Nesse último grupo, um nome tem feito a festa das editoras: o canadense Ian Halperin, o jornalista que seis meses antes da morte de Michael Jackson disse que o cantor tinha “seis meses” de vida. Ou seja: ele acertou em seu prognóstico e, graças a isso, atingiu o topo da lista dos mais vendidos com o livro “Os Últimos Anos de Michael Jackson – Revelados”, que acaba de ser lançado no Brasil. Nos EUA, a biografia não autorizada foi para as gráficas menos de 48 horas depois do falecimento de Jackson, o que prova que Halperin tem mesmo senso de oportunidade. E trazia tudo que o mundo queria saber sobre o artista.
De lá para cá, Halperin contou tudo sobre o conterrâneo Guy Laliberté em “A Fabulosa História do Criador do Cirque du Soleil”, lançado em setembro nos EUA. Ele diz, entre outras coisas, que Laliberté patrocinava verdadeiros bacanais em Las Vegas, cidade-sede de vários espetáculos do Cirque, e que isso foi uma das causas de sua separação com a modelo mineira Rizia Moreira. Outro alvo recente da pena indiscreta de Halperin é o casal Angelina Jolie e Brad Pitt, cujo casamento é esquadrinhado em “Brangelina, a História Não Contada de Brad Pitt e Angelina Jolie”, lançado no início de dezembro. Com sua bola de cristal, Halperin diz que o romance do par mais famoso de Hollywood durará apenas mais um ano e meio. Pitt e Angelina não deram ouvidos ao que ele escreveu, mas Laliberté foi enérgico e exigiu na Justiça o recolhimento dos livros no Canadá. Para escrever “Brangelina”, Halperin fingiu ser um paciente de tendências suicidas e se internou na clínica psiquiátrica em que Angelina se tratou nos anos 1990. Ele já havia feito algo parecido quando posou de ator gay e milionário, conseguindo assim se infiltrar na sede da cientologia, em Los Angeles – a seita garante “curar” homossexuais. Conseguiu uma ponta em “O Aviador” de Martin Scorsese, e escreveu na sequência o livro “Hollywood Undercover”. Para ter acesso a informações sobre Michael Jackson, o escritor usou outro artifício: se apresentou como cabelereiro de estrelas e teve um encontro com o cantor. “Faço jornalismo investigativo combinado com um elemento secreto e isso o torna extremamente singular”, disse Halperin à ISTOÉ. “Pelo que sei, sou o único jornalista desse gênero no mundo. Ele era praticado no passado, mas desapareceu.Procuro revivê-lo de forma aguda.”
“Tentei descobrir se Jackson estava ou não dando em cima de mim. Naquele dia, creio que estava”
Ian Halperin, escritor
A grande surpresa do best seller sobre Michael Jackson é o diagnóstico que ele dá a respeito das preferências sexuais do cantor. Segundo Halperin, depois de cinco anos de pesquisas e de ter entrevistado “ex-empregados, amigos e aproveitadores parasitas”, ele não encontrou nenhuma evidência de que Jackson tivesse abusado de crianças. Mas encontrou, sim, provas de que ele era gay: “Falei com dois de seus amantes, um deles um garçom de Hollywood, o outro, um aspirante a ator.” Um terceiro era trabalhador de construção civil, tinha origem asiática e conheceu Jackson quando ele morava em Las Vegas. Por um acordo de confidencialidade, Halperin não identifica nem os namorados de Jackson nem a maioria de suas fontes. Questionado sobre a credibilidade desse tipo de informação, ele se recusou a responder – seu agente julgou a pergunta desrespeitosa. “Sempre escrevo na primeira pessoa e é isso o que os meus leitores gostam em meus livros”, diz Halperin. “A minha marca, que é agir por meio de disfarces, me torna diferente dos colegas.” Foi assim, disfarçado, que Halperin falou com Jackson. O encontro se deu em uma pizzaria em Hollywood, em 2008: “Depois de me fitar por mais de um minuto em completo silêncio, ele me disse que meus olhos azuis o faziam recordar-se de Frank Sinatra. (....) Senti a energia sexual de Michael começar a fluir. Fui embora e passei as próximas semanas tentando descobrir se ele estava ou não realmente dando em cima de mim. Naquele dia, creio que estava.” Verdade ou mentira, o que não falta a Halperin é exibicionismo.
Confira abaixo a entrevista exclusiva que o escritor canadense Ian Halperin concedeu ao editor de Cultura da IstoÉ Ivan Claudio.
IstoÉ: Após seis meses da morte de Michael Jackson, o senhor pretende fazer algum tipo de mudança em seu livro “Revelados – Os Últimos Anos de Michael Jackson”?
Ian Halperin: O único complemento que faria é atualizar os eventos relacionados às misteriosas circunstâncias que envolveram a morte de Michael Jackson. Há uma série de novas informações a respeito dos médicos que tratavam de Michael e das atividades nebulosas de muitos dos seus conselheiros de negócios, que pareciam mais interessados em tirar Michael da jogada do que em cuidar do seu bem-estar.
IstoÉ: Como o senhor define o tipo de jornalismo que faz em seus livros?
Ian: Faço jornalismo investigativo combinado com um elemento secreto e isso o torna extremamente singular. Pelo que sei, sou o único jornalista desse gênero no mundo. Ele era praticado no passado, mas desapareceu. Procuro revivê-lo de forma aguda.
IstoÉ: Como o senhor conseguiu os documentos relacionados ao julgamento de Michael Jackson?
Ian: Eu tenho fontes policiais excelentes com as quais trabalho há 15 anos.
IstoÉ: Para escrever o livro sobre Hollywood o senhor se disfarçou de ator gay. O mesmo ocorreu em “Brangelina” (livro sobre o casal Brad Pitt e Angelina Jolie), em que se disfarçou de doente mental suicida no hospital psiquiátrico onde Angelina esteve. O senhor sempre usa esse método de trabalho?
Ian: Sempre escrevo em primeira pessoa e é isso o que os meus leitores gostam em meus livros. Existem autores que vão direto ao assunto e eu os respeito. Mas a minha marca, que é agir por meio de disfarces, me torna diferente dos colegas.
IstoÉ: Agora que se tornou um autor famoso, o senhor acha que esse método continuará funcionando?
Ian: Com certeza, pessoas estão famintas por informações sobre os bastidores das celebridades. E eles sabem que eu sou um dos poucos jornalistas capazes de se infiltrar no meio delas para conseguir essas histórias.
IstoÉ: Nos EUA há um tipo de “cultura da extorsão” e nós podemos senti-la claramente lendo o livro sobre Michael Jackson. O senhor concorda?
Ian: Sim. Na minha opinião, extorsão e ganância foram as causas da morte de Michael. Se as pessoas que estavam a sua volta realmente estivessem preocupadas com ele, teriam escolhido os médicos apropriados e dado a ajuda necessária para que ele se livrasse do vício em remédios. Em vez disso, eles deram o oposto a Michael, marcando 50 shows e fazendo uma pressão incrível para que ele os realizasse.
REPORTAGEM por Ivan Claudio
FONTE: Revista ISTO É online - N° Edição: 2095 - 30.Dez
FONTE: Revista ISTO É online - N° Edição: 2095 - 30.Dez
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