quarta-feira, 16 de junho de 2010

Com o teclado no próprio corpo

Tecnologia desenvolvida por cientista norte-americano
dispensa uso de mouse e controla aparelhos eletrônicos
por meio de toques e de sons.
Sensores identificam as assinaturas acústicas e
comandam o novo processo de comunicação

                                                                                                                                                                              Chris Harrison/Divulgação
Achado científico transforma partes do corpo humano em teclado virtual
para controlar uso de celulares e outros aparelhos
Já imaginou a possibilidade de controlar um celular, relógio ou qualquer outro aparelho eletrônico inteligente por meio da própria pele? Um estudo desenvolvido pelo cientista da Universidade Carnegie Mellon (Estados Unidos), Chris Harrison, conseguiu transformar braços e dedos — com a possibilidade de inclusão de várias outras partes do corpo humano — em um teclado virtual.

A tecnologia, batizada pelos especialistas de Skinput, cujo significado da palavra inglesa “skin” é pele e “in put” o mesmo que entrada de dados, se baseou na combinação de sensores bioacústicos (a junção de biologia e acústica) em um programa de inteligência artificial. A tecnologia vem sendo desenvolvida pela empresa Microsoft com a ajuda de dois de seus pesquisadores, Desney Tan e Dan Morris.

No projeto do teclado virtual apresentado pelos norte-americanos, os sensores estão diretamente ligados ao antebraço humano. Segundo Harrison, esses elementos conseguem “entender” perfeitamente o som proveniente do movimento dos dedos (leves batidas) ou apenas o toque no membro. Diferentemente do som que é transmitido pelo ar, o som no qual o cientista se refere ocorre por ondas transversais, por intermédio da pele, além de ondas longitudinais ou de compressão, que viajam por entre os ossos.

O toque de cada um dos dedos nas mais diversas localizações do braço acaba gerando uma espécie de “assinatura acústica”. “Em resumo, sensores muito especializados conseguem ouvir os sons que vêm de dentro do corpo tanto quanto um médico e seu estetoscópio. Cada local produz um som diferente e o programa de aprendizagem da máquina tem a capacidade de identificá-los”, destaca Harrison em entrevista por e-mail para o Correio.

De acordo com o estudo, o programa de inteligência artificial consegue determinar a assinatura de cada toque na pele analisando 186 características diferentes, entre eles a frequência e a amplitude. Informações dos pesquisadores dão conta de que o desempenho do programa se aperfeiçoa à medida em que é utilizado.

Alta precisão

O sensor existente no protótipo apresentado por Harrison e equipe ainda é composto por uma matriz de sensores de vibração de alta precisão, feitos com películas capazes de produzir eletricidade. “Além da braçadeira com os sensores e o programa de interpretação dos dados, há também um pequeno projetor que consegue desenhar o teclado sobre a pele”, destaca Harrison, lembrando que a mecânica do sensor em si não é revolucionária, porém, vem sendo usada de uma maneira surpreendente.

A análise dos pesquisadores mostrou que pessoas acima do peso, ou mesmo aquelas que possuem ossos muito densos, podem não obter o mesmo sucesso ao utilizar o Skinput. “Tais fatores, respectivamente, tendem a diminuir ou facilitar a transmissão de energia acústica no corpo. Para avaliar a forma como essas variações afetaram os sensores, calculamos o índice de massa corporal (IMC) de cada um dos participantes”, explica Desney Tan no artigo.

Para Alexandre Gomes, mestre em computação invisível pela Universidade de Brasília (UnB), o trabalho de Chris Harrison e equipe se baseou em uma área de pesquisa mais conhecida como HCI (sigla em inglês para Interação Homem-Computador). “Há uma quantidade enorme de pessoas estudando esses assuntos nas áreas mais diversas, como desenho industrial, ciência da computação e até piscologia”, destaca.

"É uma maneira de interagir (a tecnologia)
com máquinas sem a necessidade de mouse,
teclado e canetas”
Alexandre Gomes, da Universidade de Brasília

Sob o signo dos gestos

Cada uma dessas especialidades busca respostas específicas. Por exemplo, a área de design quer saber qual é a forma mais ergonômica para criar uma interface de interação com o corpo humano. “Já a computação, por outro lado, tem o interesse nos mecanismos internos das tecnologias utilizadas para esse desenvolvimento sem grandes preocupações com a ergonomia agregada. Enquanto isso, os interessados em psicologia passaram a estudar os aspectos comportamentais do ser humano a partir dessa opção”, explica Alexandre.

As últimas pesquisas relativas à HCI, conforme o especialista, giram em torno de algo mais conhecido como “interfaces naturais”. “Uma maneira de interagir com máquinas sem a necessidade de mouse, teclado e canetas”, enfatiza.

Para ele, o uso do corpo humano como uma interface de interação com o computador é uma tendência do futuro. “Imagine se tivéssemos que carregar um teclado e um mouse para interagir com as máquinas? O nosso corpo, porém, estará sempre conosco”, destaca. Ainda de acordo com Gomes, algumas limitações podem surgir ao longo do desenvolvimento de pesquisas como a do Skinput. “Como o pesquisador (Chris Harrisson) usou um esquema de projeção, é mister a necessidade de pouca luz para que o Skinput seja bem utilizado. Isso é um problema, mas não chega a desmerecer o trabalho dele”, afirma.

Ele acrescenta que a utilização de gestos humanos e não da superfície, como no caso da pele, está surgindo como uma poderosa ferramenta de HCI. “Tudo isso é um grande passo à frente, ou seja, em vez de apertar um botão que está sendo projetado no braço, será possível emitir um comando por voz ou controlá-lo por meio de um gesto com o braço”, finaliza ele (GC).
____________________________
Reportagem de: Gisela Cabral
Fonte: Correio Braziliense online, 16/06/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário