quinta-feira, 17 de junho de 2010

“Não é uma Seleção muito brasileira”

ENTREVISTA
Sócrates Ex-jogador de futebol

Na controversa entrevista ao The Guardian, Sócrates criticou o técnico Dunga, elogiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e falou do livro de ficção que está escrevendo sobre a Copa de 2014, no Brasil. Veja a seguir os principais trechos:

The Guardian – O que você está fazendo atualmente?
Sócrates – Tanta coisa que é difícil lembrar. Eu dou um monte de palestras sobre liderança, relações humanas, esse tipo de coisa. Tenho uma consultoria sobre projetos sociais, projetos culturais e vou entrar também na área de projetos esportivos. Escrevo para jornais e revistas sobre esporte e temas como política e economia. Estou começando outro livro.

The Guardian – O que aconteceu com sua carreira como médico?
Sócrates – Eu quase nem consigo lembrar mais nada sobre medicina, há muita coisa acontecendo.

The Guardian – Sobre o que é o seu novo livro?
Sócrates – É ficção e trata da Copa de 2014 no Brasil. O livro sairá daqui a dois anos, se Deus quiser. A ideia é mostrar o Brasil ao resto do mundo.

The Guardian – Ficção? Esse é um caminho novo para você?
Sócrates – Sim. A ideia é criar uma série de personagens, estrangeiros que irão ao Brasil para assistir à Copa. Será pura ficção, com a final entre Brasil e Argentina – e a Argentina ganhando por 2x0, dois gols de Messi. He, he. Vou criar diversos cenários e colocar os personagens todos juntos. Todos têm experiências diferentes no Brasil, e nós queremos colocar o melhor. Você consegue imaginar, digamos, um chinês assistindo a um jogo em Manaus no domingo e tendo de ir a Salvador para o jogo seguinte, na quarta? Ele nunca conseguirá chegar lá! Ele vai se perder no Pantanal e se apaixonar, digamos, por uma coreana. Todos que vão ao Brasil se apaixonam por alguém. Obviamente! Somos o povo mais erotizado do mundo.

The Guardian – Quem vai ganhar a Copa da África do Sul?
Sócrates – Nem Deus sabe. Mas os seguintes países têm o que é preciso: Espanha, Brasil, Holanda, Inglaterra e Argentina, se tiverem um bom time.

The Guardian – Você gosta do time do Brasil?
Sócrates – É um time muito burocrático, muito conservador. Eles terão problemas. Há um rapaz no Santos, o Paulo Henrique Ganso, que é excepcional. Já é o melhor jogador do Brasil. Está jogando incrivelmente bem, e Dunga não quis levá-lo. Ele não levou Ronaldinho, só escolheu meio-campistas defensivos, jogadores que marcam e correm. Se o Kaká não estiver bem, o time estará muito desequilibrado.

The Guardian – Mas Dunga não está apenas sendo sensato, cauteloso?
Sócrates – Ser cauteloso não é sempre a melhor coisa. Quem disse que ser cauteloso é uma qualidade?

The Guardian – Quem você teria levado?
Sócrates – Ganso, para começar. Ronaldinho também. Jogadores com criatividade.

The Guardian – Essa “prudência” do time de Dunga simboliza, talvez, o fato de o Brasil se considerar atualmente um país mais “sensato”?
Sócrates – Dunga é gaúcho – ele é do extremo sul do Brasil –, e eles são os brasileiros mais reacionários. A equipe dele é muito coerente com sua visão de mundo e sua formação. Eu entendo por que ele escolheu esse time. Só não acho que seja um time muito brasileiro.

The Guardian – O outro grande evento para o Brasil este ano é a eleição presidencial. Como você avalia os oito anos de governo Lula?
Sócrates – O governo Lula tem sido o melhor da história do Brasil. Foi muito bom em vários aspectos. A qualidade de vida de muitas pessoas melhorou. A diplomacia brasileira tem sido fantástica.

The Guardian – Você daria, então, uma nota 10 ao presidente Lula?
Sócrates – Dez não, você teria que mudar tudo de uma vez só para obter essa nota. Eu diria 7 ou 8.

The Guardian – O Brasil está realmente se modernizando? Por exemplo, falando-se da Copa de 2014 no Brasil, o lado administrativo do futebol está menos corrupto?
Sócrates – Não. Nem mesmo os nomes das pessoas envolvidas mudou. Nesse aspecto, nada mudou. Teremos problemas de infraestrutura, sem dúvida. Haverá muito dinheiro público desaparecendo nos bolsos de algumas pessoas.
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Fonte: ZH online, 17/06/2010

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