J. B. Libanio *
Em décadas anteriores, circulava, em meio católico, o mote: "Família que reza unida, permanece unida". Faz tempo que rareiam as famílias que se unem para rezar. Menos uma força de coesão interna.
A tradição mineira preza ver a família junto em torno da mesa. Ali se reúnem seus membros para as refeições maiores, principalmente nos domingos em que se capricha nos pratos. Não faltam aquelas que põem mesa para os filhos merendarem. Multiplicam-se assim os momentos em que filhos e pais se encontram unidos em atmosfera distendida e prazerosa.
As famílias encurtaram-se em número de filhos. As mulheres, o pólo principal da coesão familiar, professionalizam-se cada vez mais com atividades fora do lar. As refeições deixam de ser o lugar do encontro. Cada qual se vira por comer onde e quando puder. A sociedade moderna multiplica lugares e tipos de refeições breves, relativamente econômicas de modo que comer fora de casa já não pesa tanto no orçamento. Tudo facilita a dispersão.
Sobraram ainda da febricitante vida moderna de trabalho e estudos para momentos de convivência familiar os fins de semana. Os filhos livres das aulas, os pais sem a coação diária do trabalho doam-se ao lazer de passeios, programas de repouso. No entanto, o quadro tende a modificar-se.
Em muitas famílias, cada membro tem programa próprio, começando pelos filhos menores. A sedução da cidade moderna oferece atrativos diferenciados para as faixas etárias de modo que não coincidem os interesses das pessoas. O número maior de pais separados faz o jogo de empurra para quem fica com os filhos. Preferem os próprios programas a cuidarem de filhos cujo afeto se esfria à medida que os anos de separação avançam. Não faltam aqueles que terceirizam o cuidado dos filhos para empresas de turismo e divertimento.
Assim a última chance do convívio familiar se perde. Somam-se duas fortes tendências da pós-modernidade: a busca insaciável do prazer e o individualismo exacerbado. Ora o prazer da família unida pertence a outro gênero de felicidade. Supõe grau maior de sensibilidade humana e de altura espiritual. Não goza da imediatidade da fruição oferecida pela sociedade de consumo ao indivíduo.
A modernidade avançada cultiva o prazer sem vínculo, sem compromisso, sem amanhã. Só instante. A família define-se por laços perenes. E ela proporciona outro tipo de felicidade. Só quem a entendeu e a vivenciou algum dia sacrifica programas de curto prazo e de imediato gozo para conviver com toda a família. Ainda se vêem carros com toda a família em plano de passeio a revelar a verdade do dito. "Família que se diverte unida, permanece unida". E se ainda lhe soma o antigo mote da oração junto, cresce a esperança de maior estabilidade familiar.
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* Padre jesuíta, escritor e teólogo. Ensina na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte, e é vice-pároco em Vespasiano
Fonte: Adital online, 16/06/2010
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