terça-feira, 1 de janeiro de 2013

A vida é um livro com páginas em branco e o lápis de cor de 2013 está em suas mãos

(*) Ucho Haddad

 

Deixo de lado o jornalismo para, em momento de reflexão e introspecção, desejar a todos o melhor no ano que está prestes a chegar por aqui. Com o tempo fui aprendendo que a vida é um livro, cujas páginas não podem ser arrancadas, por pior que seja o conteúdo de algumas delas. Mas esse livro permite que páginas sejam adicionadas, dependendo da vontade de quem escreve.

Se a vida passa e o desejo cresce, o livro torna-se uma enciclopédia, uma obra em fascículos. Cada um desses fascículos nos é entregue com todas as páginas em branco. A cada um cabe o dever de escrever o que bem quiser, procurando preservar a candura de cada uma dessas páginas. Nem sempre isso é possível, pois afinal a vida não é monocromaticamente rosa. Tanto é verdade, que teve gente que fez sucesso derramando sobre páginas em branco cinquenta tons de cinza. 

Assim como o título da obra literária que é a coqueluche do momento, o livro da minha vida tem várias páginas cinzas, possivelmente com mais de cinquenta tons, alguns mais acentuados do que gostaria. Como a dona do livro, a vida, não permite que páginas sejam arrancadas, como citei, fiz delas uma catapulta para acertos futuros, o avanço profissional, a evolução pessoal, a decantação da minha essência, o refinamento do amor. Em suma, fiz desses tons de cinza a aquarela que coloriu e ainda colore as outras tantas páginas dessa obra.

A vida passa e a cada ano que surge ela nos entrega um novo livro em branco para que escrevamos da melhor maneira. Não importa se a escrita será com caneta desta ou daquela cor, mas é essencial que você procure deixar em cada uma delas um conteúdo colorido, uma história que se pareça com a visão do olho que mira no fundo de um caleidoscópio. Colorido sempre, mutante sempre, impressionante sempre, simples sempre. Sempre!

A vida é um aprendizado contínuo, a cada dia surge uma receita nova, um fato inesperado, uma notícia indesejada, um amor sonhado, um amizade reveladora, um afago confortante, um abraço inesquecível, um beijo que anestesia, uma paixão que entorpece, uma alegria inexplicável, uma tristeza profunda, uma felicidade sem fim, a palavra de um filho, a saudade de um pai, a preocupação de uma filha, a dedicação ou a lembrança de uma mãe. Ainda não estou na fase dos netos, mas se tiver a oportunidade de com eles conviver, sei que serei feliz e as páginas da minha enciclopédia de vida serão mais coloridas.

Neste 1º de janeiro é preciso pegar o livro que a vida deixará a cada um e começar uma nova história, mesmo que seja para reinventar uma história passada. Mude um verbo, conjugue-o em outro tempo, troque um ponto por uma vírgula, evite hifenizar a existência, escreva cada parágrafo como se fosse o último. Capriche na letra, adote a primeira pessoa do plural, mude o pretérito, redesenhe o futuro, seja consoante, mostre o quão adjetiva é sua alma. 

Transforme lágrimas em letras apagadas, tristezas em “na outra linha, travessão”, rime o amor, soletre a paixão, escreva humanidade com letras maiúsculas, traceje a paz com intensidade. Seja intransitivo, não intransigente. Seja o objeto direto de pelo menos uma frase escrita no livro da vida de alguém. Ame sem parênteses, apaixone-se sem ponto e vírgula, doe-se como poesia, ouça a estrofe do próximo. 

Nesse novo livro da vida, em branco, escreva, reescreva, escreva-se, reescreva-se. Não apague o que escrever, não apague a sua história, não apague a si mesmo. A vida é uma redação sem fim, sempre com começo e meio. Mesmo que o seu fim um dia chegue, sua história, dependendo da forma como foi escrita, jamais terá fim. Escreva nas alvas páginas a felicidade do seu jeito, como o coração determinar. Sem medo de errar, querendo acertar. Esforce-se para ser suas próprias reticências.

Nunca deixe de escrever, porque a vida precisa seguir adiante. Nem que seja preciso escrever uma palavra duas vezes e em seguida. Isso faz perder o sentido da frase, mas explica o sentido da vida. Quem escreve sempre e repentinamente para, perde a mão da escrita. E a retomada da escrita é sempre difícil. Nessas páginas brancas, não vazias, também cabe a exatidão da aritmética da vida. Nelas, faça contas, some mais e subtraia menos. Lembre-se que a divisão é a mais eficaz de todas as multiplicações.

Agora, o que mais posso escrever depois de ter escrito tanto? Que as páginas do novo fascículo da enciclopédia da sua vida recebam o melhor de todos os textos, os textos da sua história. Sejam felizes sempre, coloridos a maior parte do tempo, assim como desejo que o Ano Novo seja!
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(*) Ucho Haddad, otimista confesso e lutador incansável, é jornalista político e investigativo, cronista esportivo, escritor e poeta. Como nem tudo é perfeito no mundo, torce para o campeão mundial Corinthians.
Fonte:  http://ucho.info/a-vida-e-um-livro-com-paginas-em-branco-e-o-lapis-de-cor-de-2013-esta-em-suas-maos

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