Reverendo Bernardo Cerverella, editor do serviço oficial do Vaticano
para os países asiáticos, lembra que continente é o mais populoso do
mundo
TÓQUIO - O novo Papa terá que se voltar para a Ásia, onde a Igreja
Católica enfrenta um de seus principais desafios, diz o Reverendo
Bernardo Cerverella, editor da AsiaNews, serviço oficial do Vaticano
para os países asiáticos. Bento XVI nunca visitou a região.
Por que a Ásia deve estar entre as prioridades do novo Papa?
A
Ásia se transformou no centro da economia mundial. Além disso, é o
continente mais populoso e o que tem o maior percentual de não-cristãos
no mundo. A missão da Igreja deve se voltar para a Ásia. É uma região de
muitas contradições, que representam problemas globais: tradição e
modernidade; fundamentalismo e ateísmo; religião e materialismo; riqueza
e pobreza. Todos esses aspectos vivem lado a lado, mas às vezes se
chocam. Ligada a essa missão está a busca por um novo estilo de
globalização. No modelo atual, há trocas de bens, de moedas e entre as
pessoas, mas uma nova cultura é necessária para colocar o ser humano, e
não apenas o lucro, como ponto central. Esse é o desafio da Igreja. Se
não houver reconciliação, existe a chance de guerra: fundamentalismo
contra o mundo moderno; subdesenvolvidos contra superdesenvolvidos;
Estados totalitários contra populações oprimidas.
As
tensões entre o Vaticano e o Governo comunista na China, onde não há
liberdade religiosa, vêm crescendo. Este é o momento para se tentar um
diálogo?
Devo dizer que o Papa Bento XVI fez algo em
relação a China que não fez para outros países. Enviou uma carta às
autoridades e fez várias tentativas de reabrir o diálogo. As
reivindicações do Vaticano pela liberdade religiosa dos chineses e o
direito de nomear os bispos católicos forçam a China a ver que não pode
governar todas as esferas da vida de sua população. Pequim deve
substituir a mentalidade totalitária pela de um Estado moderno, que
protege e defende os direitos dos cidadãos. Mas a China está em meio a
uma transição e há forças que não querem mudanças. Se o país não mudar, o
regime corre o risco de colapso.
Como o senhor recebeu a eleição do cardeal Bergoglio?
O
Papa Francisco é um homem dos pobres e das missões em nome de Jesus. É
também conhecido por lutar contra o secularismo e em defesa da vida,
trabalhando contra o aborto e a eutanásia através de engajamento social.
São temas muito urgentes. O fato de ele ter escolhido o nome Francisco
significa que se apresentará ao mundo sem defesas, mas com a força de
seu testemunho.
A nacionalidade do Papa é um fator fundamental?
Não
é importante. Todo cardeal tem uma educação internacional e exposição
global. O sucessor de Bento XVI cuidará da Igreja do mundo todo,
espalhando a missão de Cristo. Características geográficas e culturais
ajudam, mas não são decisivas.
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