Martha Medeiros*
É cedo para saber como será a atuação política do papa
Francisco. Porém, assim que foi anunciado, ele não precisou nem de cinco
minutos diante da multidão que lotava a Praça de São Pedro para
angariar uma simpatia praticamente unânime. A minha, ao menos, foi
instantânea, bastou para isso a descontração do comentário de que o
haviam achado quase no fim do mundo – nada como o bom humor para
congregar, aproximar, romper carrancas e barreiras. A despeito da sua
eleição para uma função de tamanha relevância, estava ali, diante de
todos, um homem, um semelhante. Alguém familiar.
Não acredito que, a partir de agora, os fiéis deixarão seus automóveis na garagem para andar de ônibus (ainda que o trânsito e a poluição das cidades se beneficiariam muito), ou que trocarão o uso do ouro pela prata, ou que reprisarão qualquer outro gesto humilde já tornado público pelo Papa. No entanto, é preciso, com urgência, captar o espírito dessa nova forma de exercer liderança.
Liderar não tem nada a ver com arrogância e empáfia, mas muitos ainda acreditam que sem pose e ostentação não se conquista o respeito dos outros. Um engano lastimável. Pode-se no máximo conseguir subserviência através de atitudes arrogantes, mas respeito é um valor muito mais profundo e que só se cativa com honestidade – e se formos honestos, de fato honestos, teremos que admitir que nossa importância é a mesma que a de qualquer outra pessoa. Podemos ter lido mais, vivido experiências diversas, apreendido ensinamentos a que alguns não tiveram acesso, mas de forma nenhuma isso justifica uma hierarquia dominadora. Aliás, hierarquia é um conceito que me parece cada vez mais obsoleto.
Numa relação vertical, o “superior” ordena e os “inferiores” cumprem, e assim elimina-se a troca, que é o elemento mais necessário para a evolução dos costumes, das nações e dos relacionamentos. Trocar é horizontal. É o que possibilita o olhar, o diálogo e a identificação. No instante em que eu contribuo para a sociedade com o que sei, e aceito que colaborem comigo na mesma medida, me ensinando o que não sei, estabelece-se uma relação producente e o respeito mais absoluto, aquele que não é fruto de imposição, mas de admiração sincera.
Então, mesmo sem poder adivinhar como será o pontificado desse nosso hermano, desde já me sinto otimista por ele trazer em seu semblante a doçura dos que não se deixam levar pela vaidade e dos que não consideram a modéstia uma fraqueza, e sim resultado de uma consciente avaliação de si mesmo: somos todos iguais. Frágeis, é verdade, porém todos capazes de doar-se a fim de tornar a vida mais fácil para aqueles que nos cercam. Essa é a corrente universal que nunca deveria se romper, e que nos une (ou deveria nos unir) inclusive para além das religiões.
Não acredito que, a partir de agora, os fiéis deixarão seus automóveis na garagem para andar de ônibus (ainda que o trânsito e a poluição das cidades se beneficiariam muito), ou que trocarão o uso do ouro pela prata, ou que reprisarão qualquer outro gesto humilde já tornado público pelo Papa. No entanto, é preciso, com urgência, captar o espírito dessa nova forma de exercer liderança.
Liderar não tem nada a ver com arrogância e empáfia, mas muitos ainda acreditam que sem pose e ostentação não se conquista o respeito dos outros. Um engano lastimável. Pode-se no máximo conseguir subserviência através de atitudes arrogantes, mas respeito é um valor muito mais profundo e que só se cativa com honestidade – e se formos honestos, de fato honestos, teremos que admitir que nossa importância é a mesma que a de qualquer outra pessoa. Podemos ter lido mais, vivido experiências diversas, apreendido ensinamentos a que alguns não tiveram acesso, mas de forma nenhuma isso justifica uma hierarquia dominadora. Aliás, hierarquia é um conceito que me parece cada vez mais obsoleto.
Numa relação vertical, o “superior” ordena e os “inferiores” cumprem, e assim elimina-se a troca, que é o elemento mais necessário para a evolução dos costumes, das nações e dos relacionamentos. Trocar é horizontal. É o que possibilita o olhar, o diálogo e a identificação. No instante em que eu contribuo para a sociedade com o que sei, e aceito que colaborem comigo na mesma medida, me ensinando o que não sei, estabelece-se uma relação producente e o respeito mais absoluto, aquele que não é fruto de imposição, mas de admiração sincera.
Então, mesmo sem poder adivinhar como será o pontificado desse nosso hermano, desde já me sinto otimista por ele trazer em seu semblante a doçura dos que não se deixam levar pela vaidade e dos que não consideram a modéstia uma fraqueza, e sim resultado de uma consciente avaliação de si mesmo: somos todos iguais. Frágeis, é verdade, porém todos capazes de doar-se a fim de tornar a vida mais fácil para aqueles que nos cercam. Essa é a corrente universal que nunca deveria se romper, e que nos une (ou deveria nos unir) inclusive para além das religiões.
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* Escritora. Cronista da ZH
Fonte: Zero Hora on line, 20/03/2013
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