Hélio Schwartsman*
Hoje eu vou discordar do editorial da Folha de
domingo e de boa parte dos comentaristas de religião que afirmam que os
ensinamentos da Igreja Católica exercem influência no conjunto da
sociedade, o que justificaria o clima de torcida por um papa mais afeito
com nossas próprias convicções.
Num sentido muito trivial, o Vaticano, por existir no mundo sublunar,
nele causa alterações. Mas, se não estou enganado, não se pretende
aludir aqui ao estatuto ontológico do Vaticano, e sim a suas posições,
em especial no campo da moral e da sexualidade. Se essa interpretação é
correta, estamos diante de uma questão empírica. Que venham, então, os
dados.
Pesquisa Datafolha de 2007 mostrou que, embora a igreja condene o uso da
camisinha, 94% dos católicos brasileiros o defendiam, percentual
idêntico ao da população geral. Em relação ao divórcio, os católicos
estavam até mesmo à esquerda do conjunto dos brasileiros e dos
evangélicos. A proporção dos que defendiam o instituto era de 74%, 71% e
59%, respectivamente. Os católicos também estavam mais próximos do
brasileiro médio do que da Santa Sé em várias outras questões, como
aborto, eutanásia, casamento gay e adoção de crianças por homossexuais.
Aparentemente, os católicos não têm problema para pôr em prática
convicções contrárias às da igreja. Dados do Registro Civil de 2006
mostram que a proporção de católicas divorciadas, separadas ou
desquitadas era de 8,5%, praticamente a mesma da população (8,8%).
A moral da história é que, em matéria de costumes e sexo, o papa já não
convence nem os católicos, menos ainda o conjunto da sociedade -graças a
Deus, ouso acrescentar.
Esses achados estão em linha com trabalhos feitos em diversos países que
mostram que a religião, pelo menos no mundo moderno, interfere muito
menos do que se imagina no comportamento e nos juízos éticos das
pessoas.
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* Colunista da Folha
helio@uol.com.brFonte: Folha on line, 12/03/2013
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