Pe. João Batista Libanio*
Na
década de 1960, a Igreja no Brasil conheceu vibrante atividade social
de jovens da Ação Católica universitária, estudantil e operária.
Viviam-se anos de turbulência política que anteciparam o Golpe Militar
de 1964. Com regime miliar, caiu sobre tal pastoral juvenil o silêncio
da repressão. A dimensão social arrefeceu bastante.
O voluntariado vem ao encontro desse
viés social esquecido ou relegado ao plano secundário. Ele responde às
expectativas da Igreja. De um lado, existem ressonâncias do Vaticano II
que valorizou o engajamento dos leigos. Logo no início do Decreto sobre
os leigos o texto diz enfaticamente: “O sagrado Concílio, desejando
tornar mais intensa a atividade apostólica do Povo de Deus, volta-se com
muito empenho para os cristãos leigos, cujas funções próprias e
indispensáveis na missão da Igreja já em outros lugares recordou”.
Noutro momento, afirma a importância do
diálogo com o mundo, sobretudo na Constituição pastoral Gaudium et spes.
Unindo os dois polos temos a fonte conciliar do voluntariado.
No horizonte de todos, está o grito ético pela justiça, pelo respeito à dignidade de cada pessoa que sofre. Motivação suficiente para tocar o coração de milhares de jovens em todo o mundo. |
A inspiração imediata vem da conjuntura
social do mundo atual. Vivemos os mais terríveis contrastes. Nos países
ricos, as fortunas crescem gigantescamente. Basta ver o exemplo dos
Estados Unidos, onde 400 pessoas faturam mais que a metade dos
habitantes do país. E o salário dos mais ricos cresceu três vezes mais
nas últimas décadas.
As consequências aparecem no crescimento
vultoso das camadas pobres, carentes. Se isso acontece nas metrópoles,
muito pior ainda nos países e continentes da periferia do capitalismo.
Cidadãos, especialmente jovens, de
regiões da abundância se comovem diante de tanta miséria e sofrimento.
Organizam ações solidárias e dedicam tempo a tais tarefas. O
voluntariado consiste precisamente nessa iniciativa.
Dois tipos de motivações movem os
voluntários: a ética e a religiosa. Elas não se opõem. Articulam-se no
caso do voluntariado no interior da Igreja Católica. No horizonte de
todos, está o grito ético pela justiça, pelo respeito à dignidade de
cada pessoa que sofre. Motivação suficiente para tocar o coração de
milhares de jovens em todo o mundo.
Os cristãos vivenciam motivação ulterior
de fé. Ressoa-lhes a frase de Jesus: “Em verdade vos digo: todas as
vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos pequeninos, foi a mim
mesmo que o fizestes (Mt 25,40).”
Só a ética já tem força suficiente para
provocar o voluntariado social. A ética e a fé cristã somam-se e
reforçam tal experiência, dando-lhe a beleza de se praticar o núcleo
fundamental do Cristianismo: “Deus é amor” (1Jo 4, 8). E o mandamento
que recebemos de Deus soa: “o que ama a Deus, ama também seu irmão” (1Jo
4, 21). Aí está o segredo último do voluntariado na Igreja: a unidade e
a identidade do amor a Deus e ao irmão, especialmente ao mais
necessitado.
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*Pe. João Batista Libanio
Professor da Faculdade Jesuíta de
Teologia e Filosofia (FAJE)
*Pe. João Batista Libanio
Professor da Faculdade Jesuíta de
Teologia e Filosofia (FAJE)
Fonte:http://www.arquidiocesebh.org.br/site/opiniao_e_noticias.php?id_opiniao_e_noticias=5104
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