Rubem Alves*
Cheguei na floricultura e lá encontrei uma senhora — já não era jovem —
cabelos brancos, ereta, sorridente. Ela me olhou com uma interrogação
curiosa no rosto: “O senhor, por acaso, é o Rubem Alves?” “Sou sim”,
respondi. “Mas que coincidência feliz. Eu estava mesmo à sua procura...”
Ditas estas palavras ela me mostrou uma folha de caderno. “Meu nome é
Irahy. Por muitos anos eu preparei crianças para o exame de admissão, na
minha casa. E agora — tenho 93 anos — estou organizando minhas coisas —
álbuns de fotografia, coisas dos alunos. E encontrei, entre as coisas
que guardei, essa redação de um menino de 10 anos. Acho que o senhor
gostará de ler...” Peguei o pepel e comecei a ler: “Um amigo é alguém
que gosta de você. Você pode ter muitos amigos...uns garotinhos ... umas
garotinhas... um gato ... um cão ... ou até um ratinho branco. A árvore
é uma amiga diferente. Não fala. Mas você sabe que é sua amiga pois lhe
dá maçãs, cerejas, peras e até um galho para seu balanço. O riacho é um
tipo especial de amigo. Gorgoleja e respinga água em você. Refresca
seus pés e deixa você ficar ao seu lado, quando quer ficar sozinho. O
vento canta-lhe doces canções à noite. Está em todo lugar, por isso está
sempre com você. Quem são seus amigos? Às vezes você passa com pressa e
pensa que não tem amigos, mas você nem vê seus amigos. Mas você tem que
esquecer a pressa e ver quando alguém lhe dá um sorriso, ou quando um
cachorro abana-lhe o rabo com força. Todos têm amigos. Uns têm muitos,
outros, só dois ou três. Mas todos têm pelo menos um amigo. Como
encontrou o seu?” Data: 27 de novembro de 1972. Assinado: Marcos Nopper
Alves.”
Minha alegria foi dupla. Primeiro, porque o menino de dez anos que escreveu sobre os amigos é meu filho. Aos dez anos aflorava nele uma alma de escritor. Tanto assim que a d. Irahy guardou sua redação. A segunda alegria é pela da. Irahy. Uma mulher que fez o que ela fez merece que dela se diga: “É uma educadora de verdade porque ama as crianças”. O fato é que há, espalhados pelo Brasil, uma infinidade de educadores anônimos que fazem o seu trabalho com competência e alegria. O que faz um educador não são as teorias pedagógicas que moram na cabeça mas o simples fato de amar as crianças. Veio-me agora uma definição de educador que nunca pensei: “Educador é qualquer pessoa que ama uma criança. Porque quem ama uma criança ensina-lhe o caminho (e vai junto...)”. Assim fez a d. Irahy... Queria sugerir que aqueles que foram seus alunos lhe enviassem cartas contando das boas memórias do tempo que passaram juntos!. Na verdade, penso que ela bem merece uma medalha — e fica aqui a sugestão à Câmara dos Vereadores. E, por favor, não se equivoquem com os seus 93 anos...
Minha alegria foi dupla. Primeiro, porque o menino de dez anos que escreveu sobre os amigos é meu filho. Aos dez anos aflorava nele uma alma de escritor. Tanto assim que a d. Irahy guardou sua redação. A segunda alegria é pela da. Irahy. Uma mulher que fez o que ela fez merece que dela se diga: “É uma educadora de verdade porque ama as crianças”. O fato é que há, espalhados pelo Brasil, uma infinidade de educadores anônimos que fazem o seu trabalho com competência e alegria. O que faz um educador não são as teorias pedagógicas que moram na cabeça mas o simples fato de amar as crianças. Veio-me agora uma definição de educador que nunca pensei: “Educador é qualquer pessoa que ama uma criança. Porque quem ama uma criança ensina-lhe o caminho (e vai junto...)”. Assim fez a d. Irahy... Queria sugerir que aqueles que foram seus alunos lhe enviassem cartas contando das boas memórias do tempo que passaram juntos!. Na verdade, penso que ela bem merece uma medalha — e fica aqui a sugestão à Câmara dos Vereadores. E, por favor, não se equivoquem com os seus 93 anos...
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* Escritor. Educador. Teólogo. Cronista do Correio Popular
Fonte: Correio Popular on line, 25/08/2013
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