CLÁUDIA LAITANO*
Nem todo mundo passa pela experiência de ser seriamente
humilhado, mas é quase impossível atravessar a vida sem nunca ter se
sentido esnobado. Esnobar é uma forma cotidiana e aparentemente inocente
de humilhar. Não exige grandes gestos ou palavras duras, basta um olhar
– ou não olhar.
Há esnobismos de todos os tipos – culturais, sociais, estéticos, geográficos – e ninguém está livre de esnobar ou de ser esnobado. Pense um instante e é possível que você recorde todas as situações em que se sentiu diminuído, mas talvez tenha um certo trabalho para lembrar quando tratou alguém de forma arrogante. (A memória é muito seletiva nesses casos. )
Você pode não ter nenhuma intenção de humilhar a moça da limpeza do seu prédio, mas se passa por ela sem honrá-la com um bom-dia ou um com-licença está praticando uma modalidade muito comum de esnobismo funcional: a ocupação define se a pessoa é merecedora ou não da sua boa educação.
Entre as muitas formas conhecidas de esnobismo, uma das mais difundidas é a do setor de serviços e comércio. Bancos, salões de beleza, lojas metidas a grã-finas, é vasto o mercado de esnobação de clientes que não parecem se encaixar no perfil desejado.
Em uma cena já clássica do filme Uma Linda Mulher, Julia Roberts é esnobada por uma balconista porque não está bem vestida. Instantes depois, acompanhada de Richard Gere e do saldo ilimitado de um cartão de crédito, ela faz questão de voltar à loja apenas para esnobar a vendedora. De leve.
Há alguns dias, uma das mulheres mais poderosas do mundo veio a público contar que também foi esnobada. Oprah Winfrey entrou em uma loja na Suíça e perguntou o preço de uma bolsa. A vendedora não apenas não reconheceu a apresentadora como descartou a potencial cliente sugerindo que ela não teria cacife para pagar os US$ 38 mil do mimo. Oprah, uma das poucas pessoas que poderia comprar uma bolsa que custa um apartamento, deu uma entrevista a Larry King dias depois afirmando que teria sido vítima de racismo. Alguns acharam que ela foi tratada dessa forma por ser gordinha, já que mulheres acima do peso costumam ser esnobadas em lojas chiques tanto quanto mulheres que parecem não ter dinheiro. A loja garante que tudo foi apenas um problema de comunicação. Seja como for, só ficamos sabendo do episódio porque Oprah é famosa. Todos os dias, em todas as lojas do planeta, e fora delas também, alguém está sendo julgado pela cor, pelas roupas, pela forma do corpo. Parece banal e indolor – até o dia em que acontece com a gente.
Observador incansável dos hábitos da aristocracia, Proust notou que, em uma recepção cheia de pessoas ricas e poderosas, nada demonstra melhor a estirpe de alguém do que a deferência com que trata os que têm menos dinheiro ou poder. Ou seja: chique mesmo é ser gentil e generoso. O resto é tão brega quanto gastar US$ 32 mil com uma bolsa.
Há esnobismos de todos os tipos – culturais, sociais, estéticos, geográficos – e ninguém está livre de esnobar ou de ser esnobado. Pense um instante e é possível que você recorde todas as situações em que se sentiu diminuído, mas talvez tenha um certo trabalho para lembrar quando tratou alguém de forma arrogante. (A memória é muito seletiva nesses casos. )
Você pode não ter nenhuma intenção de humilhar a moça da limpeza do seu prédio, mas se passa por ela sem honrá-la com um bom-dia ou um com-licença está praticando uma modalidade muito comum de esnobismo funcional: a ocupação define se a pessoa é merecedora ou não da sua boa educação.
Entre as muitas formas conhecidas de esnobismo, uma das mais difundidas é a do setor de serviços e comércio. Bancos, salões de beleza, lojas metidas a grã-finas, é vasto o mercado de esnobação de clientes que não parecem se encaixar no perfil desejado.
Em uma cena já clássica do filme Uma Linda Mulher, Julia Roberts é esnobada por uma balconista porque não está bem vestida. Instantes depois, acompanhada de Richard Gere e do saldo ilimitado de um cartão de crédito, ela faz questão de voltar à loja apenas para esnobar a vendedora. De leve.
Há alguns dias, uma das mulheres mais poderosas do mundo veio a público contar que também foi esnobada. Oprah Winfrey entrou em uma loja na Suíça e perguntou o preço de uma bolsa. A vendedora não apenas não reconheceu a apresentadora como descartou a potencial cliente sugerindo que ela não teria cacife para pagar os US$ 38 mil do mimo. Oprah, uma das poucas pessoas que poderia comprar uma bolsa que custa um apartamento, deu uma entrevista a Larry King dias depois afirmando que teria sido vítima de racismo. Alguns acharam que ela foi tratada dessa forma por ser gordinha, já que mulheres acima do peso costumam ser esnobadas em lojas chiques tanto quanto mulheres que parecem não ter dinheiro. A loja garante que tudo foi apenas um problema de comunicação. Seja como for, só ficamos sabendo do episódio porque Oprah é famosa. Todos os dias, em todas as lojas do planeta, e fora delas também, alguém está sendo julgado pela cor, pelas roupas, pela forma do corpo. Parece banal e indolor – até o dia em que acontece com a gente.
Observador incansável dos hábitos da aristocracia, Proust notou que, em uma recepção cheia de pessoas ricas e poderosas, nada demonstra melhor a estirpe de alguém do que a deferência com que trata os que têm menos dinheiro ou poder. Ou seja: chique mesmo é ser gentil e generoso. O resto é tão brega quanto gastar US$ 32 mil com uma bolsa.
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* Jornalista. Cronista. Escritora.
Fonte: ZH on line, 24/08/2013
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