Marcelo Pires*
Eu não sei cozinhar. Nunca fiz arroz na minha vida. Nem fritei ovo. Resultado: frequento muitos restaurantes. Quando era solteiro, frequentava mais. Hoje, casado, frequento-os por prazer.
É em nome do prazer que escrevo este texto. Moro em Porto Alegre. Posso dizer que sou um dos assíduos clientes do roteiro gastronômico da cidade.
Peço licença, portanto, não para fazer críticas, mas para fazer algumas sugestões aos restaurantes da cidade.
1. Aceitem reservas. E aceitem com prazer. Nada de dizer que o restaurante faz reserva para o almoço até as 12h30min. Isso não é reserva: é simulacro de fila.
2. Estiquem seus horários de fechamento. O porto-alegrense precisa ter opção de restaurantes para jantar depois de ir, por exemplo, ao teatro. Hoje, nem os restaurantes do shopping – que têm cinema – recebem bem o pessoal que sai da sessão das 10.
3. Caprichem no pão. Não conheço restaurante bom que ofereça pão ruim. Qualquer estabelecimento perde charme com aquele pãozinho do dia anterior, meio frio, meio frito, todo esverdeado, cheio de alho, que o pessoal costuma oferecer na entrada.
4. Limpem o banheiro quantas vezes forem necessárias. Limpem muito os banheiros. Banheiro sujo tira o apetite de qualquer um. E banheiro sujo faz o cliente imaginar como estará o estado da cozinha.
5. Nem todo restaurante precisa ter uma supercarta de vinhos, isso depende de quantas “estrelas” o local tem – e o quanto cobra por isso. Mas, se você oferece vinho, familiarize o seu pessoal com a carta. Quando um cliente pergunta, por exemplo, se tem vinho cabernet, o garçom não pode responder “não, a gente só tem argentino”.
6. Eu sei que nós perdemos a Revolução Farroupilha – mas a gente não precisa ser tão bravo até hoje. Bom dia, boa tarde, boa noite, bem-vindo, obrigado, com licença e desculpe não custam nada. Se, além disso, a sua turma sorrir, maravilha das maravilhas.
7. Sabe quando você entra em um táxi e o motorista não pergunta se você também é louco por música gospel a todo volume? Restaurante com música ruim causa o mesmo estrago. Aqui, uma sugestão bem prática: apesar de certas discussões a respeito, estamos no Brasil. Toque bossa nova. Não tem erro quando você dá play em Tom Jobim. É esse tipo de música que toca em lugares chiques no mundo todo. Vamos imitar os gringos. Vamos ouvir João Gilberto, Nara Leão, Celso Fonseca e Rosa Passos.
8. Aceite todos os tipos de cartão, estamos em 2013. Se você não aceitar (um dos melhores hotéis em que fiquei na minha vida só recebia em dinheiro), faça o lugar ser tão genial, que as pessoas tenham prazer em passar no caixa 24 horas antes de ir pro seu restaurante.
9. Um amigo meu disse que todo garçom de Porto Alegre é do PSOL. (Pessoal do PSOL, isso é só uma piada.) Então, garçom querido, nunca esqueça: o seu papel não é dar moral ou bronca em cliente, seja mais gentil com “esses burgueses” que frequentam o seu estabelecimento.
10. Não deixe uma TV ligada no seu restaurante como se isso fosse um tipo de couvert artístico. TV ligada na hora da comida é sempre baixo-astral. Sempre.
Dez dicas. Posso dar mais uma?
Gente muito jovem, atrás de festa e companhia, aceita qualquer coisa de qualquer lugar – inclusive, mesas e cadeiras de plástico com um logotipo de cerveja bem grande. Por favor, móveis com cara de móveis são bem-vindos. De madeira, se possível. E estamos conversados.
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*Publicitário
Fonte: ZH on line, 18/08/2013
Imagem da Internet
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