segunda-feira, 26 de agosto de 2013

John Maeda ressalta que novas tecnologias não bastam para diferenciar produtos

John Maeda ressalta que novas tecnologias não bastam para diferenciar produtos Jaime Marland/divulgação

Para o designer John Maeda, a arte e o design humanizam produtos e experiências e isso é simplicidade 

Considerado um dos pensadores mais influentes deste século, o atual diretor da Rhode Island School of Design estará em Porto Alegre na próxima quarta

Em mundo cada vez mais acelerado, o avanço tecnológico por si só não é mais capaz de gerar produtos e serviços que as pessoas sintam prazer de usar. A partir desta percepção no começo dos anos 2000, quando lecionava no renomado Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, John Maeda começou a desenvolver as chamadas Leis da Simplicidade – conjunto de princípios de como o design e uma sensibilidade mais apurada podem facilitar a vida contemporânea – reunidas em livro homônimo lançado em 2006. Hoje diretor da Rhode Island School of Design, Maeda trabalha com novos designers e artistas em busca de soluções que valorizem a experiência humana. Considerado um dos pensadores mais influentes do século 21 pela revista Squire, o professor norte-americano estará em Porto Alegre no dia 29, na Casa NTX, falando sobre o papel dos líderes na construção de um ambiente favorável à inovação. O evento fechado faz parte das comemorações dos 40 anos da agência de publicidade Escala.

Como o senhor resumiria as Leis da Simplicidade para quem não está familiarizado com seu trabalho?
A décima lei em meu livro resume minhas ideias: "simplicidade é subtrair o óbvio e adicionar o que interessa". Trata-se de remover recursos e adicionar experiências que tornarão os produtos verdadeiramente especiais. Um exemplo que gosto de usar: você quer lavar menos roupa, mas sempre vai querer mais doces. Ou seja, você sempre quer menos trabalho e mais prazer.

Em um mundo que se torna cada vez mais tecnológico, a simplicidade não perde espaço?
É justamente o oposto. Tem havido muito progresso tecnológico nas últimas décadas, mas novas tecnologias não bastam para diferenciar os produtos. Quanto mais tecnologia temos, mais importante tornam-se a simplicidade e o bom design. A empatia está se tornando mais relevante do que a eficiência.

O senhor avalia que a tecnologia tornou a vida contemporânea mais simples? Muitas pessoas parecem não saber usar todos os recursos oferecidos por seus computadores e smartphones.
Historicamente, as empresas têm a tendência de adicionar tecnologia aos produtos porque isso não custa tanto a mais, mas impressiona o suficiente para justificar um aumento de preço. Essa prática resulta em produtos que os consumidores não sabem para que serve ou não podem aproveitar muitos dos seus recursos. Mais não é necessariamente melhor. Por isso, simplificar o design não significa necessariamente menos funcionalidades, mas criar funções significativas.

Em 2004, o senhor começou o Consórcio da Simplicidade no MIT trabalhando com empresas como Lego e Toshiba. Passados nove anos, qual a avaliação sobre os resultados dessa iniciativa?
Os líderes industriais estão aprendendo que novos produtos e ideias não vêm apenas de avanços tecnológicos, mas da habilidade de formular grandes questões. É isso que artistas são treinados a fazer na Escola de Design de Rhode Island, dentro da cultura de pensamento e criação críticos. O Consórcio da Simplicidade também uniu empresas que acreditavam nessa linha de pensamento. Nos Estados Unidos, há um crescente reconhecimento na comunidade tecnológica de que o design é o que diferencia produtos e companhias inovadoras. Empresas como Pinterest (rede social de compartilhamento de fotos) e Airbnb (serviço online de aluguel de acomodações fundado por alunos de Rhode Island) trouxeram essa noção à tona. 

O conceito de simplicidade pode ajudar também os governos a melhorarem os serviços públicos?
Sim, certamente. O verdadeiro avanço vem de fazer as pessoas sentirem alguma coisa – se sentirem humanas – e muito disso é baseado em uma atenta simplicidade. Quando os recursos são limitados, você deve ser mais engenhoso. A liderança criativa é o que precisamos perseguir hoje. As características mais importantes desse tipo de liderança são dar prioridade à inspiração em lugar do medo, valorizar mais as redes de relacionamento do que a hierarquia estrita e dar mais ênfase à interação do que à finalidade.

Se o senhor tivesse de escolher dois produtos ou serviços como exemplos de uso inteligente de design e simplicidade, quais seriam?
Apple e Airbnb, por sua orientação de design baseada no consumidor. Os usuários precisam de uma grande experiência, não apenas de novas experiências, não importa se for produto, serviço ou aplicativo de internet. As pessoas geralmente não percebem que atingir a simplicidade não necessariamente é algo rápido, simples. A simplicidade, em si, é complicada.
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Reportagem por  Jaime Silva
Foto: Jaime Marland / divulgação
Fonte: ZH on line, 25/08/2013

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