domingo, 25 de agosto de 2013

O “navio negreiro” da saúde

* Paulo Ghiraldelli*
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Os médicos cubanos que chegam ao Brasil não serão pagos como os demais estrangeiros do programa “Mais Médicos”. Eles receberiam o salário de dez mil reais. Na verdade, o Brasil vai desembolsar o dinheiro, mas este irá direto para o governo cubano. Por sua vez, o governo da Ilha só repassará aos médicos de 25% a 40% do recebido. O que é isso?

Tecnicamente, isso é trabalho escravo. Trabalho ilegal em pleno século XXI, e com um agravante, feito por meio de um convênio entre dois governos. O Brasil não pode fazer isso. Nossas leis trabalhistas não permitem esse tipo de coisa. Nosso comprometimento com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) também não.

Alguns argumentam que o “Mais Médico” está contando com algo chamado “ajuda humanitária”. Ora, mas que ajuda é essa que cobra? Cuba está cobrando! O dinheiro do ajudado, que aliás não precisa dessa ajuda, está saindo dos nossos bolsos. Mas não irá para os bolsos do trabalhador cubano!
Desse modo, todas as questões anteriores que tanto preocuparam a população nossa a respeito do “Mais Médicos” cai por terra. Estávamos até uns dias atrás preocupados com o Revalida, que os médicos estrangeiros iriam deixar de fazer. Mas agora essa preocupação já nem é a principal, pois a questão do trabalho escravo supera todo tipo de indignação que poderíamos já ter levantado contra esse malfadado programa governamental.

O Brasil deveria fornecer condições reais para os médicos brasileiros irem para o interior do país, e isso não impediria de trazer médicos do exterior que fizessem o Revalida. Mas o governo não tomou nenhuma medida saudável. Optou pela fórmula eleitoreira de trazer mão de obra do exterior que, ninguém sabe o motivo, precisa de legitimação por meio de propaganda, não de exames costumeiros. O governo não colocou na praça nenhum programa efetivo no sentido de implementar uma ação de recuperação de hospitais e de melhorias nas condições de trabalho. Essas duas faltas estavam nos deixando preocupados. Não acreditávamos que poderia piorar. Mas, quando o governo quer fazer a coisa mal feita, nunca há medida para o pior. “Podemos e vamos reinventar o ‘navio negreiro’” – disseram. E eis que isso, agora, é uma verdade.

O PT está no governo e nasceu de lutas trabalhistas. É o fim da picada que tenha mudado tanto a ponto de hoje estar promovendo essa afronta a qualquer tipo de trabalhismo e, de certo modo, a qualquer tipo de sociedade civilizada.

Estamos todos boquiabertos.
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* Paulo Ghiraldelli, 56, filósofo, escritor e professor da UFRRJ – http://ghiraldelli.pro.br

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