* Paulo Ghiraldelli*
Os médicos
cubanos que chegam ao Brasil não serão pagos como os demais
estrangeiros do programa “Mais Médicos”. Eles receberiam o salário de
dez mil reais. Na verdade, o Brasil vai desembolsar o dinheiro, mas este
irá direto para o governo cubano. Por sua vez, o governo da Ilha só
repassará aos médicos de 25% a 40% do recebido. O que é isso?
Tecnicamente, isso é trabalho escravo.
Trabalho ilegal em pleno século XXI, e com um agravante, feito por meio
de um convênio entre dois governos. O Brasil não pode fazer isso. Nossas
leis trabalhistas não permitem esse tipo de coisa. Nosso
comprometimento com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) também
não.
Alguns argumentam que o “Mais Médico”
está contando com algo chamado “ajuda humanitária”. Ora, mas que ajuda é
essa que cobra? Cuba está cobrando! O dinheiro do ajudado, que aliás
não precisa dessa ajuda, está saindo dos nossos bolsos. Mas não irá para
os bolsos do trabalhador cubano!
Desse modo, todas as questões anteriores
que tanto preocuparam a população nossa a respeito do “Mais Médicos”
cai por terra. Estávamos até uns dias atrás preocupados com o Revalida,
que os médicos estrangeiros iriam deixar de fazer. Mas agora essa
preocupação já nem é a principal, pois a questão do trabalho escravo
supera todo tipo de indignação que poderíamos já ter levantado contra
esse malfadado programa governamental.
O Brasil deveria fornecer condições
reais para os médicos brasileiros irem para o interior do país, e isso
não impediria de trazer médicos do exterior que fizessem o Revalida. Mas
o governo não tomou nenhuma medida saudável. Optou pela fórmula
eleitoreira de trazer mão de obra do exterior que, ninguém sabe o
motivo, precisa de legitimação por meio de propaganda, não de exames
costumeiros. O governo não colocou na praça nenhum programa efetivo no
sentido de implementar uma ação de recuperação de hospitais e de
melhorias nas condições de trabalho. Essas duas faltas estavam nos
deixando preocupados. Não acreditávamos que poderia piorar. Mas, quando o
governo quer fazer a coisa mal feita, nunca há medida para o pior.
“Podemos e vamos reinventar o ‘navio negreiro’” – disseram. E eis que
isso, agora, é uma verdade.
O PT está no governo e nasceu de lutas
trabalhistas. É o fim da picada que tenha mudado tanto a ponto de hoje
estar promovendo essa afronta a qualquer tipo de trabalhismo e, de certo
modo, a qualquer tipo de sociedade civilizada.
Estamos todos boquiabertos.
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* Paulo Ghiraldelli, 56, filósofo, escritor e professor da UFRRJ – http://ghiraldelli.pro.br
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