José M. Castillo*
“A bondade não se prega, nem se ensina, nem se impõe.
A bondade se contagia”
O que mais me impressiona no papa Francisco
(foto) é a sua bondade. A bondade não é fazer “o bem”. É isto, é claro,
mas, é mais do que isto. Porque, afinal de contas, o que significa
fazer o bem? Isso depende de quem dita o que é bom e o que é mau. Na
Espanha, até 1975, era ruim votar nos governantes. E o que era bom era
ficar calado e se submeter. A partir do dia em que se aprovou a vigente Constituição Espanhola,
é bom ir votar, ao passo que é ruim não tomar parte ativa e se
comprometer em melhorar a gestação da “coisa pública”, segundo o que
cada um pensa e dentro dos limites que a Constituição e a ética da gente
decente permitem.
A bondade é sempre uma forma de alguém se relacionar com os demais.
Há uma prova muito simples para ver até onde vai a bondade de uma
pessoa. Há tempo, eu já disse: “o espelho do comportamento ético não é a
própria consciência, mas o rosto daqueles que vivem comigo. Quando este
rosto expressa paz, esperança, alegria e felicidade, porque meu
comportamento gera tudo isto, então é evidente que minha conduta é
eticamente correta”.
A bondade não se prega, nem se ensina, nem se impõe. A bondade se
contagia. Aquele que é bondoso, cria um clima de bondade. E isso muda a
vida. A de uma pessoa e a dos outros. Ser sempre bondoso, reconhecer os
próprios limites e as próprias contradições. Somente assim poderemos,
passando ou não a crise, vivermos melhor. E nos sentiremos melhor.
Já sei que isto não é a panaceia universal. Seria ingênuo pensar que
apenas com a “benevolência” o mundo se ajeita. Não. Entre outras razões,
porque a bondade carrega consigo o não ficar calado e passivo quando se
vê o sofrimento, e muito sofrimento, dos mais frágeis. Em tais
condições, aquele que se cala não se distingue por sua bondade, mas por
sua covardia, por seu medo, por interesses inconfessáveis. Isto não é
bondade. Dá vergonha de ver, sofrer e até pensar nisto.
De qualquer modo, e aconteça o que acontecer, não nos cansemos jamais
de ser bons, sempre orientados e guiados pela mais desconcertante
bondade. Porque, é um fato, a bondade é o que mais nos assusta e até nos
desconcerta.
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* Escreve o teólogo José María Castillo, em seu blog Teología Sin Censura, 13-08-2013. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/EUV9z9 |
Fonte: IHU on line, 14/08/2013
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