Mafalda Santos*
Há uma nova tendência que prolifera nas
sociedades orientais, principalmente entre os jovens, que se revê na
abstinência sexual e nos parcos ou escassos momentos de intimidade,
mesmo entre casais, que dá pelo nome de Sexless.
O Instituto Nacional de Sexologia do Japão define o termo Sexless
(sem sexo), para denominar casais cuja frequência de atividade sexual é
inferior a uma vez por mês, chegando mesmo a traduzir-se num registo de
uma vez por ano ou a cada dois anos.
Educados desde pequenos a dedicarem-se ao trabalho de
forma contínua e obstinada, mergulhados em excessos de facilitismos
tecnológicos e de serviços, os japoneses demonstram ter a incapacidade
de amar ou de se entregar numa relação, revelando falta de intimidade e
de envolvimento emocional, mesmo entre casais jovens e casados,
preferindo a masturbação, o prazer solitário, ao invés da presença do
outro.
Proliferam assim os amigos virtuais, bonecos ou jogos,
onde é possível ter relacionamentos com um avatar, com uma realidade
distorcida e onde é permitido viver a vida que não se tem, mas que se
ficcionou. Tudo é mais fácil, menos intrínseco, mais diáfano, menos
doloroso. Ter um relacionamento real pressupõe exposição perante o
outro, fragilidade, soltar as amarras e deixar-se ir, expondo algo que
poucos conhecem ou estão dispostos a dar a conhecer: a intimidade e os
seus pontos fracos.
Isso não parece preocupar a juventude japonesa, onde
grande parte já estabeleceu que não necessita de relacionamentos íntimos
para se sentir realizada e preenchida - sendo conhecidos no meio como
"herbívoros". Mas se pensa que a ausência de práticas sexuais e
manifestações de carinho e afeto se limitam apenas ao cliché dos
orientais frios e fechados, saiba que o ocidente começa a seguir-lhe os
passos, havendo cada vez mais casais que consideram a prática sexual
como dispensável.
Amar ou estar?
Se nos anos oitenta e noventa o maior problema que
levava os casais a procurarem um terapeuta se prendia com a
incompatibilidade sexual (um queria muito, o outro pouco ou nada),
atualmente o motivo inverteu-se e a ausência de contacto sexual é o que
prevalece, com a agravante de nem um nem outro estarem muito preocupados
com o assunto. A ausência de sexo ou qualquer intimidade é sobreposta
ao stress, ao trabalho, às responsabilidades e à azáfama da vida diária e
profissional. Aparte disso, tudo normal.
Ninguém disse que ter um relacionamento é fácil, é
certo. Claro que é mais seguro falar com alguém por chat do que cara a
cara, mas isso também contribui para um alienamento da realidade e uma
alteração radical da dinâmica das relações sociais e íntimas. É preciso
ter estofo para dizer a alguém, olhos nos olhos, que se ama, ou que nos
faz falta, claro que é. Mas também não é isso que dá sabor à vida?
Pessoalmente, prefiro bater com a cabeça uma série de vezes, errar,
aprender e seguir em frente, manifestar o meu amor e afeto mil vezes se
for preciso, do que viver uma vida insípida, feita de sentimentos
vazios.
Como diz o realizador Woody Allen, "Porquê escovar os
dentes quatro vezes ao dia e fazer sexo duas vezes por semana? Porque
não o contrário?".
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