Antonio Ozaí da Silva*
Hoje assisti ao filme Histórias Cruzadas[1]
e, em meio aos absurdos do racismo, uma fala, em especial, instigou a
minha reflexão. A personagem Eugenia “Skeeter” Phelan (Emma Stone)
deseja fazer algo diferente, escrever algo que vale a pena. Sim, ela fez
diferença. Isto me faz pensar sobre os meus humildes e despretensiosos
escritos. Será que vale a pena? Faz alguma diferença? Ou será que
termino por cair na mesmice? Será que sou prisioneiro inconsciente de um
autoengano alimentado por um surto narcísico não assumido? Neste caso,
querer fazer a diferença não é muita pretensão?
Comecei a escrever este blog sem maiores pretensões. A ideia inicial
era apenas ter um espaço para compartilhar reflexões sobre a vida e a
práxis docente com potenciais leitores: alunos e ex-alunos, amigos,
colegas, familiares e outros que porventura despertassem o interesse em
ler. O blog conquistou leitores e assumiu proporções que não imaginei.[2] Retomo o primeiro post, pois
é uma espécie de declaração de intenções e, sobretudo, expressa a busca
de respostas que justifiquem o esforço de manter o blog:
Por que escrever? Para registrar experiências cotidianas? Para
revigorar um dos passatempos mais antigos da humanidade: o falar de si
mesmo e dos outros? Seria a necessidade do ego, também tão antiga quanto
o mito de narciso? Por que, enfim, se expor? O costume humano a lutar
contra o esquecimento é uma tradição que remonta à oralidade. A
tecnologia contribui para isto.
Escrever é conversar consigo mesmo e com os outros; é organizar
idéias e abrir a mente ao diálogo com o “feito”, o “falado” e aquilo que
os olhos e os ouvidos nos transmitem. Devemos estar abertos a aprender
com a própria experiência e, escrever sobre o que lemos, ouvimos e
vivemos, é também uma forma de aprofundar este aprendizado. Esta
disposição ao diálogo, a aprender com o mundo e os que vivem no mundo, é
fundamental a quem se propõe a ensinar. O educador precisa ser educado e
este processo é permanente.
Escrever é lutar contra a natureza, isto é, contra a potencial
perda de memória que avança com o passar dos anos. Escrever é,
simplesmente, uma necessidade – em especial quanto a mente parece
enredada num turbilhão de idéias.
Eis o que espero ao utilizar este recurso. Que este espaço seja
mais uma possibilidade para aprender-ensinar, dialogar, compartilhar
idéias; que seja um espaço de reflexão, crítica e autocrítica permanente
da prática docente.[3]
Estas palavras se mantêm atuais. A inquietação também! Nestes anos,
consegui manter o propósito de escrever semanalmente, às vezes também
escrevendo às quartas-feiras. Foi um compromisso que assumi com os
leitores. Mas, admito, não tem sido fácil mantê-lo. Escrever exige
dedicação, tempo, inspiração e respeito. As palavras precisam ser
pensadas, repensadas, organizadas de forma a dar coerência e transmitir
algo que fale diretamente ao leitor. Palavras são pontes que comunicam
sentimentos, ideias, etc. Mas as pontes precisam ser bem construídas,
com carinho e consideração. Do contrário, tem o efeito oposto: palavras
também tem potencial destrutivo, podem se revelar explosivas e destruir
pontes.
É necessário, portanto, muito cuidado com as palavras – elas podem
machucar, podem explodir as pontes que estabelecemos com muito esforço.
Tanto podemos decepcionar, quanto nos decepcionarmos. Há momentos,
porém, que as palavras se ausentam, tornam-se vazias de sentido ou
simplesmente não há o que dizer. Não obstante, há o compromisso de
escrever e, ao mesmo tempo, o respeito ao leitor indica que o escrito
não pode ser apenas palavras dispostas na página em branco. Mas, o que
escrever? Quando esta pergunta se impõe, a resposta sugere questões
essenciais que me fazem pensar! Afinal, por que e para que escrever em
um blog?
[2]
No momento são 7.316 seguidores, ou seja, leitores que se cadastraram e
recebem as atualizações por email; fora estes, houve 320.539 acessos
até o instante em que escrevo.
[3] Por que um blog?, publicado em http://antoniozai.wordpress.com/2007/05/27/por-que-um-blog/
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* Professor do Departamento de Ciências Sociais, Universidade Estadual de
Maringá (UEM); Editor da Revista Espaço Acadêmico e Revista Urutágua
Fonte: http://antoniozai.wordpress.com/
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