"Oi, Michele, é o Papa Francisco".
Na quarta-feira passada, o papa pegou o telefone
e ligou para Pesaro, na Itália, para falar diretamente com Michele Ferri, 51 anos, irmão de Andrea,
o empresário dono de alguns postos de gasolina
morto de forma cruel na rua há dois meses,
na noite do dia 3 de junho.
Um crime que marcou a família e o próprio irmão, uma ferida que não cicatriza: Michele, de 40 anos, está em uma cadeira de rodas há anos, e Andrea era um ponto de referência importante. Michele escolheu o silêncio, mas o sofrimento ainda é presente, a ponto de deixar um traço no seu perfil no Facebook:
"Quanto mais o tempo passa, mais a dor aumenta", escreveu ele no dia 22
de junho e, novamente, no dia 17 de julho, ele acentuou o seu drama:
"Eu sempre te perdoei tudo. Desta vez não, Deus, desta vez eu não te
perdoo".
E foi provavelmente nesse momento que ele decidiu escrever uma carta em um instante, confiá-la à esperança e endereçá-la ao Papa Francisco. Depois, esperou.
Na quarta-feira, o telefonema, impossível de acreditar. Ou, melhor,
ele pensou em um trote, em um engano. Mas não, não é possível ser tão
cruel. E, assim, a incredulidade se transformou em emoção, comoção.
Extraordinária, assim como foi extraordinário o telefonema.
O diálogo com o Papa Francisco permanece guardado em silêncio. Ferri
não quis acrescentar nenhum outro comentário. Sabe-se apenas que o
papa, depois, quis falar também com a mãe. "É um fato pessoal, que
preferimos mantê-lo assim", limitou-se a informar a mulher, Loretta, pelo interfone da casa.
Silêncio sobre os conteúdos, mas não sobre a característica
extraordinária do evento, contida em apenas duas linhas que, mais uma
vez, Michele Ferri confia às redes sociais digitais,
como que buscando compartilhar com os outros essa alegria inesperada,
mas sem revelar os seus segredos mais íntimos: "Hoje recebi um
telefonema inesperado... Ao meu 'Alô?', respondeu-me uma voz dizendo-me:
'Oi, Michele, é o Papa Francisco...', uma emoção única".
E ainda: "Ele me disse que chorou quando leu a carta que eu lhe
escrevi". E aos amigos surpresos, ele acrescentou, quase querendo se
defender: "Eu me esqueci de perguntar se ele queria dar um pulo em Pesaro".
O pároco
"Eu não sabia nada sobre a carta ao pontífice", explicou o padre Mario Amadeo, pároco da igreja de Soria, um bairro de Pesaro, que conhece bem toda a família Ferri e que, no dia 8 de junho passado, celebrou o funeral de Andrea com uma homilia tocante.
"Rosi, a mãe de Michele – continua – apenas me
informou do telefonema na mesma noite". Depois, preferiu não dizer mais
nada, exceto ressaltar a natureza extraordinária e a profundidade do
gesto: "Um ato muito bonito que testemunha a bondade e a grandeza desse
pontífice".
Um pontífice que, no Vaticano, deu instruções
precisas para a sua secretaria: pediu para ver todas as cartas
particularmente significativas para responder pessoalmente. Escrevendo
de próprio punho ou telefonando diretamente.
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A reportagem é de Franco Elisei, publicada no jornal Il Messaggero, 09-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU on line,20/08/2013
Imagem da internet
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