Por enquanto, as cidades inteligentes prometem mais mudanças no que você não vê do que naquilo que você vê.[Imagem: BBC]
Cidades inteligentes
Você gostaria de viver em uma cidade com a qual pode interagir? Uma
cidade que age como um organismo vivo e que pode responder a suas
necessidades?
Em todo o mundo essas cidades já estão sendo construídas, de Masdar, em Abu Dhabi e Iskandar, na Malásia, onde uma metrópole inteligente custará menos que a Copa do Mundo de 2014, até Portugal, onde uma cidade ecológica terá cérebro e sistema nervoso.
A boa notícia é que a cidade quase caótica onde você vive pode estar na fila para uma reformulação, recebendo alguns upgrades para se tornar mais esperta.
No futuro, tudo na cidade - do sistema elétrico, passando pelos
esgotos até as estradas, edifícios e carros - estará conectado à rede.
Edifícios apagarão as luzes por você, carros autoconduzidos encontrarão sozinhos a vaga de estacionamento, as lixeiras serão inteligentes e até as privadas serão ecológicas.
Mas quem irá monitorar e controlar os sensores que estarão cada vez
mais em cada prédio, poste e cano da cidade? É esse o futuro que
realmente queremos?
Empresas de tecnologia como a IBM, a Siemens, a Microsoft, a Intel e a
Cisco estão ocupadas vendendo seus programas para resolver uma série de
problemas das cidades, desde vazamentos de água até a poluição do ar e
os engarrafamentos.
Em Cingapura, em Estocolmo e na Califórnia, a IBM coleta dados sobre o
trânsito e os processa com algoritmos para prever onde acontecerão os
engarrafamentos uma hora antes que eles comecem.
Já existem também redes de semáforos inteligentes que se auto-organizam e até carros que prometem ser uma arma contra engarrafamentos.
A japonesa Honda criou seu próprio sistema anticongestionamentos, também baseado nos carros.
Cinco cidades europeias estão recebendo projetos-piloto de "ambientes inteligentes", que prometem nada menos do que Os conectar os mundos real e virtual. [Imagem: Mirko Presseer]
E os cidadãos?
Mas, enquanto encantam os apaixonados por tecnologia, as iniciativas
de cidades inteligentes também são alvo de críticas pela forma como
conduzem essa reestruturação das cidades.
"Algumas pessoas querem ajustar uma cidade como se faz com um carro
de corrida, mas estão deixando os cidadãos fora do processo", diz
Anthony Townsend, diretor do Instituto do Futuro e autor do livro
"Cidades inteligentes: grandes dados, hackers cívicos e a busca por uma
nova utopia", ainda não lançado no Brasil.
A IBM afirma que envolve os cidadãos em seus projetos de cidades
inteligentes. Em Dublin, a empresa trabalhou com o governo local para
abrir enormes quantidades de dados disponíveis sobre a cidade, o que deu
origem a aplicativos como o ParkYa, que usa dados sobre o trânsito para
ajudar as pessoas a encontrar as melhores vagas de estacionamento na
cidade.
Na cidade de Dubuque, no Estado americano de Iowa - onde está
desenvolvendo medidores de consumo de água inteligentes - a empresa
forneceu os dados aos cidadãos por meio de um portal comunitário, para
que eles possam checar seu consumo e compará-lo com o dos vizinhos.
"Precisamos construir cidades que se adaptem às necessidades dos
(seus) cidadãos, mas antes não era possível porque não havia informação
suficiente", diz Lisa Amini, diretora de pesquisa da IBM.
Ela faz a comparação entre os "bens" das cidades, como semáforos,
trânsito, canos de água, e os bens das grandes empresas, para os quais
os sistemas e programas da IBM foram desenvolvidos originalmente,
Cidadãos, não consumidores
Mas Townsend não está convencido de que a tecnologia pode ser
transferida tão facilmente. "Governos não tomam decisões como negócios
tomam. Cidadãos não são consumidores", diz.
A China está construindo dezenas de novas cidades e está começando a
adotar enormes salas de controle como a que a IBM criou no Rio, bem ao
estilo NASA.
Mas isso preocupa o pesquisador: "E se pessoas ruins tomarem o poder?
Estamos criando capacidades que podem ser mal utilizadas?", questiona
ele.
Uma das principais tecnologias para dar inteligência a casas e cidades é a chamada Internet da Coisas. [Imagem: ITU]
Tecnologia cidadã
Há um outro capítulo na história das cidades inteligentes, nesse caso
escrito pelos cidadãos que usam aplicativos, sensores de fabricação
própria, smartphones e a internet para cooperar com a resolução dos
problemas da cidade.
Don't Flush Me é sistema simples formado por um pequeno sensor
de fabricação amadora e um aplicativo que ajuda a resolver um dos
maiores problemas do sistema hidráulico de Nova York: toda vez que a
cidade é atingida por uma chuva forte, o esgoto sem tratamento acaba
sendo jogado diretamente no rio. São milhões de metros cúbicos por ano.
Usando um processador Arduino,
que mede o nível da água no sistema hidráulico, o sistema informa pelo
aplicativo o momento em que não se deve dar descarga, a fim de não
sobrecarregar o sistema.
Já a rede de sensores Meanwhile Egg alerta a população para as
más condições da qualidade do ar, que a cada ano resulta na morte de 2
milhões de pessoas nas grandes cidades.
Os sensores são instalados por moradores, coletando dados sobre gases
de efeito estufa, óxido de nitrogênio (NO2) e monóxido de carbono (CO).
Os dados alimentam um sistema que localiza em um mapa os níveis de poluição ao redor do mundo.
Envolver os cidadãos no processo de melhora da qualidade de vida das
cidades é crucial, diz Andrew Hudson-Smith, diretor do Centro para
Análise Espacial Avançada da University College de Londres.
Hudson-Smith e sua equipe criaram um painel que reúne dados da
capital britânica. Assim como o centro de controle do Rio, o painel
coleta dados de poluição, clima e do nível dos rios.
Mas o painel de Londres vai além e mostra os tópicos mais discutidos
do Twitter e o nível de felicidade da população. O mesmo painel está
disponível na internet.
Ser as cidades inteligentes também quiserem ser limpas, falta determinar o que vai alimentar os carros do futuro. [Imagem: Green Car Initiative]
Cidadãos inteligentes
A realidade é que a maioria dos projetos de cidades inteligentes é de
pequena escala, como as iniciativas de geração de energia solar ou
programas de compartilhamento de transporte.
Para Hudson-Smith, "há muito alvoroço sobre as cidades inteligentes,
mas ainda não há tecnologias que estão realmente mudando a vida das
pessoas".
O pesquisador afirma, no entanto, que vivemos em um momento de
mudanças e que, em cinco anos, as "coisas serão incrivelmente
inteligentes".
Quando este dia chegar, a infraestrutura de dados se tornará tão importante quanto a infraestrutura de trens e estradas.
Se os dados serão controlados por grandes corporações ou pelos
cidadãos é outra questão. Nesse caso, é bom pensar qual é a razão de
existência das cidades, alerta Dan Hill, da empresa de pesquisa Fabrica.
"Não planejamos cidades para serem eficientes, mas sim para serem locais de cultura, comércio, uma comunidade", diz.
Na pressa para fazer as coisas funcionarem melhor, podemos estar
prestes a perder um grande bem, avalia a pesquisadora: "Serão cidadãos
inteligentes o que tornará as cidades inteligentes".
Uma cidade ecológica em Portugal terá cérebro e sistema nervoso, com "neurônios" eletrônicos implantados em cada tijolo. [Imagem: Cortesia da New Scientist]
Cidade de sensores
Steve Lewis levou literalmente a sério a ideia de ajustar uma cidade
como se ela fosse um carro de corrida, ao usar a tecnologia usada pela
McLaren na Fórmula 1.
Assim como os sensores de carros de corrida alimentam em tempo real
um painel de controle central, Lewis pensa em uma cidade repleta de
sensores que também alimentam um centro de monitoramento.
A tecnologia já está sendo usada em cidades na China e no Brasil.
Mas o sonho de Lewis é construir uma cidade inteligente do zero. Ele já comprou terras em Portugal para a empreitada.
A cidade, que se chamará PlanIT Valley, vai ser uma vitrine das últimas tecnologias.
Tudo, desde os tijolos dos prédios, terá um sensor acoplado para fazer a cidade mais inteligente.
Enquanto isso, no campo da mobilidade, pesquisadores no campo da
robótica prometem drones capazes de entregar pizzas e correspondências,
ajudando a reduzir o tráfego
Fonte: http://www.inovacaotecnologica.com.br/27/08/2013
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