domingo, 25 de agosto de 2013

Bagunça e criatividade andam lado a lado, diz estudo.


Mesa de funcionária do Google é repleta de objetos, bonecos da série ‘Os Simpsons’, post-its e fotos espalhadas, numa ‘bagunça’ organizada
Foto: Divulgação

Mesa de funcionária do Google é repleta de objetos, bonecos da série ‘Os Simpsons’, post-its e fotos espalhadas, numa ‘bagunça’ organizada Divulgação 

De acordo com pesquisadores americanos, locais de trabalho desorganizados estimulam pensamento criativo, enquanto os mais arrumados ajudam profissional a ter foco

RIO — Sua mesa tem papéis com anotações, livros e revistas, fotos, objetos pessoais e várias canetas espalhadas? Ou tudo está arrumadinho, em seu devido lugar? Saiba que um estudo da Universidade do Minnesota, dos Estados Unidos, conclui que bagunça e criatividade andam lado a lado. De acordo com os autores da pesquisa, que realizaram três experimentos com participantes de perfis distintos, promovendo exercícios em salas bagunçadas e organizadas, é mais benéfico ter uma mesa bagunçada no início de um projeto e uma limpa no final. Isso porque um ambiente bagunçado promove o pensamento criativo e ideias não convencionais, enquanto uma mesa limpa vai ajudar a pessoa a se concentrar, ao mesmo tempo que gera mais aderência a convenções sociais e tradições. Sendo assim, o “afastamento do caos” (a mesa bagunçada) irá ajudar o profissional a terminar seu projeto.


Mas, afinal, o que é melhor: trabalhar em um ambiente desorganizado ou todo arrumadinho? Para os autores do estudo, há vantagens em ambos os casos, e a principal questão é decidir como potencializar tais aspectos.

“Ambientes organizados promovem escolhas tradicionais e saudáveis, o que pode ser benéfico ao encorajar as pessoas a seguirem normas sociais. Ao mesmo tempo, ambientes bagunçados estimulam a criatividade, o que tem grande importância para os negócios e as artes. Saber isso significa que as pessoas podem aproveitar o poder de cada ambiente para alcançar seus objetivos”, diz o relatório.

Para Ylana Miller, sócia-diretora da Yluminarh e professora do Ibmec, a desordem tem, sim, um lado positivo, pois pode estimular novas ideias sem a perda de foco e alcance dos resultados esperados:

— Líderes que estimulam uma atitude criativa e fora da caixa certamente não se preocupam se a sua mesa está bagunçada ou não. Para eles, “a bagunça produtiva” pode ser um diferencial da equipe. E, quando o inconformismo faz parte do DNA, o profissional fará a diferença mesmo em ambientes tradicionais, mais “quadrados”.

O coach Silvio Celestino, por sua vez, pensa que o ambiente de trabalho deve ser misto e um pouco de bagunça pode, sim, estimular as pessoas a inovar. Por outro lado, aponta, excesso de bagunça pode não ser produtivo:

— Tudo depende muito do perfil comportamental da pessoa na interação com o ambiente. Uma pessoa mais tímida e que possui grande organização dos pensamentos, por exemplo, pode não se sentir tão influenciada pela desordem e encontrar meios inteligentes de atingir resultados mesmo que o ambiente não seja favorável. Já uma pessoa mais extrovertida e com dificuldade de ter foco pode se sentir perdida em meio a tanta bagunça e, enquanto não organizá-la primeiro, não se sentirá capaz de focar o resultado desejado. Em qualquer dos casos, o importante é que o profissional seja capaz de produzir o resultado desejado.

O coach lembra que, em geral, as pessoas confundem organização com disposição geométrica de objetos e espaços. Por vezes, diz ele, o fato de um lugar estar todo organizado, geometricamente, não significa que as pessoas estão necessariamente seguindo regras. Mas, com certeza, qualquer mudança de processo que implique em mudança espacial será mais notada e, portanto, se os líderes forem muito críticos quanto a mudanças, seguramente ninguém se sentirá estimulado a fazê-la. Por outro lado, um ambiente onde o risco é estimulado, mesmo que ordenado em termos espaciais, pode promover os pensamentos fora da caixa que tantas empresas pedem.

Segundo Celestino, antes de tudo, é importante saber de qual departamento se está falando:

— Não considero apropriado um departamento fiscal bagunçado, tanto quanto considero inapropriado um departamento de desenvolvimento de novos produtos, ou de marketing, todo certinho.

Ylana conclui que o ambiente ideal de trabalho, na verdade, é aquele onde o profissional se sente bem, e que não há um padrão, e sim uma escolha, que faz parte do autoconhecimento do profissional. Para alguns, diz a consultora, o ambiente físico pode ter um grande impacto na produtividade, enquanto que para outros pode vir a ser o clima organizacional. Neste caso, são pessoas que valorizam o espaço aberto para expor suas contribuições e habilidades com naturalidade, sem medo:

—Verdadeiros líderes inspiram, valorizam e potencializam as competências dos profissionais, seja qual for o ambiente.
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Reportagem por Ione Luques (Email)
Fonte: Jornal o Globo, 23/08/2013 

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