Esther Pillar Grossi*
Gérard Vergnaud, na mais importante contribuição atualizada ao ensino, demonstra que não se aprende por explicações, mas por aquilo que situações concretas provocam.
Ora, se há (e há) de sobra situações concretas de persistência da violência contra mulheres na sociedade brasileira, alunos aprendem e muito nessas situações. Aprendem com as violências por agressões físicas abomináveis e com as terríveis e costumeiras violências sexuais de assédio e estupro, inclusive no interior das “sacrossantas” famílias “bem estruturadas” constituídas por pai, mãe e filhos “biológicos”.
Se a escola não vincula o que quer ensinar àquilo que os alunos aprendem na vida, a escola perde para a realidade cotidiana. Vergnaud, em sua consistente Teoria dos Campos Conceituais, escancara o fato de que as únicas situações verdadeiramente capazes de ensinar são as que afetam os alunos.
É possível imaginar que crianças e adolescentes que veem mães, irmãs ou vizinhas apanhando e/ou padecendo até o cúmulo de numerosos assassinatos não são afetados por tais acontecimentos? E, mais, quantas das próprias mulheres que fizeram Enem já foram vítimas de violência?
Como eu, que sou professora de matemática, vou conseguir motivá-los para a relevância do Teorema de Pitágoras se ignoro algo importantíssimo que eles estão aprendendo no dia a dia?
Como ex-deputada, me congratulo com o Inepe por ter escolhido este tema tão atual, em um momento de retrocesso legislativo da Câmara ao votar leis referentes às mulheres, às famílias e aos direitos humanos no Brasil.
Por favor, pensar que o tema da redação do Enem foi ideológico é ser ignorante em relação ao que há de melhor hoje, em pedagogia e didática, ou seja, que as situações é que ensinam.
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*Presidente e pesquisadora do Geempa
Imagem da Internet
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a4887769.xml&template=3898.dwt&edition=27731§ion=1012
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